Ex seminarista, com estudos, cursos diversos na amada UMBANDA incluindo o de teologia, praticante desde 1978; vi a necessidade de poder repassar o que aprendo todos dias, quer sejam textos, cursos, vídeos, e-books, aos que possam desejar, sem compromisso algum com quem quer que seja a não ser a DIVULGAÇÃO DE NOSSA AMADA UMBANDA. Se desejarem contato: acevangel@gmail.com
quinta-feira, 5 de junho de 2014
O Pequeno Aborrecimento
O rapaz consultava o relógio, de segundo a segundo, deixando perceber a pressa que o levava a movimentar-se rápido, mas o amigo, segurando-lhe o braço, parecia desvelar-se em transmitir-lhe todas as minudências de um caso absolutamente sem importância.
Contrafeito com a insistência da conversação aborrecida e inútil, o jovem ouvia o companheiro, por espírito de gentileza, quando o veículo largou sem ele.
Daí a alguns minutos, porém, correu inquietante a notícia.
A máquina estava sendo guiada por um condutor embriagado e precipitara-se num despenhadeiro, espatifando-se.
Ouvindo com paciência uma palestra incômoda, o moço fora salvo de triste desastre.
O jovem refletiu sobre a ocorrência e chegou à conclusão de que, muitas vezes, a Vontade Divina se manifesta, em nosso favor, nas pequenas contrariedades do caminho, ajudando-nos a cumprir nossos mais simples deveres, e passou a considerar, com mais respeito e atenção, as circunstâncias inesperadas que nos surgem à frente, na esfera dos nossos deveres de cada dia.
* * *
Xavier, Francisco Cândido. Da obra: Pai Nosso.Ditado pelo Espírito Meimei.
19a edição. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1999.
CULTURA ESPÍRITAJ.
Herculano Pires in
O Espírito e o Tempo. 4.ª Parte. A Prática
Mediúnica, Cap. III, 7.ª ed. Sobradinho: Edicel, 1995.
A Cultura Espírita, como observou
Humberto Mariotti, filósofo e poeta espírita argentino, é uma realidade
bibliográfica, edificada no plano das pesquisas e dos estudos. Socialmente se
reduzia uma parte mínima do movimento espírita mundial, pois a maioria dos
espíritas a desconhece. Compreende-se que isso acontece em conseqüência das
campanhas deformadoras e difamatórias das Igrejas e das Instituições
Científicas, especialmente as de Medicina, contra o Espiritismo. Mas grande
parte da culpa cabe aos próprios espíritas cultos, que, em sua maioria, se
mostraram displicentes, por acomodação indébita ou preguiça mental. Por outro
lado, a vaidade e o pedantismo intelectual de muitos espíritas os afastaram das
pesquisas sobre os mais importantes aspectos da doutrina, para se entregarem a
elucubrações pessoais gratuitas, dispersivas e não raro absurdas. O desejo
vaidoso de brilhar aos olhos vazios do mundo levou muitos deles a querer adaptar
o Espiritismo às conquistas científicas modernas, ao invés de mostrarem a
subordinação dessas conquistas ao esquema doutrinário. Outros quiseram
atrevidamente atualizar a doutrina e outros ainda se aventuraram a corrigir
Kardec. Essas atitudes não deram o proveito pessoal que desejavam e serviram
apenas para incentivar as mistificações.
Toda nova cultura nasce da
anterior. Das culturas anteriores nasceu a cultura moderna, carregada de
contribuições antigas. Mas o aceleramento da evolução cultural a partir da II
Guerra Mundial fez eclodir quase de surpresa a Era Tecnológica. O materialismo
atingiu o seu ápice e explodiu para que as entranhas da matéria revelassem o seu
segredo. E esse segredo confirmou a validade da Cultura Espírita marginalizada
no plano bibliográfico. Começou assim o desabrochar de uma Nova Civilização, que
é a Civilização do Espírito. “A finalidade da Educação — escreveu
Hubert — é instalar na Terra, pela solidariedade de consciências, a
República dos Espíritos”. Essa foi a proclamação da Nova Era, feita na
França de Kardec, na Paris da sua batalha pelo Espiritismo.
Mas para que uma civilização se
desenvolva é necessária a integração dos homens nos seus princípios e
pressupostos. Uns e outros se encontram nos livros de Kardec, mas se esses
livros não forem realmente estudados, investigados na intimidade profunda dos
textos e transformados em pensamento vivo na realidade social, a civilização não
passará de uma utopia ou de uma deformação da realidade sonhada. Por mais frágil
e efêmero que seja o homem na sua existência, é ele que dá vida ao presente e ao
futuro, é ele o demiurgo que modela os mundos. Para o homem espírita construir a
Civilização do Espírito é necessário que a viva em si mesmo, na sua consciência
e na sua carne, pois é nesta que a relação da consciência com o mundo se
realiza. E para isso não bastam os livros, é necessário o concurso de todos os
meios de comunicação: a palavra, a imprensa, o rádio, a televisão, e mais ainda,
a prática intensiva e coletiva dos princípios doutrinários de maneira correta e
fiel. Se o homem espírita de hoje não compreender isso e dormir sobre os louros
literários, a Civilização Espírita abortará ou será transformada numa simples
caricatura da fórmula proposta, como aconteceu com o Cristianismo. É disto que
os espíritas precisam tomar consciência com urgência. Ou acordam para a
gravidade do problema ou serão esmagados pelo avanço irrefreável dos
acontecimentos no tempo.
A idéia comodista de que Deus faz
e nós desfrutamos ou suportamos não tem lugar no Espiritismo. Pelo contrário,
neste se sabe que o fazer de Deus no mundo humano se realiza através dos homens
capazes de captar a sua vontade e executá-la. Não há milagres nem ações mágicas
na Natureza, onde a vontade de Deus se cumpre através dos Espíritos, desde o
controle das formações atômicas até o crescimento dos vegetais. Dizia Talles de
Mileto, o filósofo vidente, que o mundo está cheio de deuses que trabalham em
toda a Natureza, e deuses, para os gregos, eram espíritos. Kardec repetiu em
outros termos e de maneira mais explícita e minuciosa essa mesma verdade. No
mundo humano os Espíritos se encarnam, fazem-se homens para modelá-lo. Cada
espírito encarnado trás consigo sua tarefa e a sua responsabilidade individual e
intransferível. O que não cumpre o seu dever, fracassa. Não há outra
alternativa. O fracasso da maioria dos cristãos resultou na falência quase total
do Cristianismo. O que se salvou foi o pouco que alguns fizeram. E a partir
desse pouco, dois mil anos depois da pregação do Cristo e do seu exemplo de
abnegação total, foi que Kardec partiu para a arrancada espírita. O exemplo da
França é uma advertência aos brasileiros. A hipnose materialista absorveu os
franceses no imediato e o Espiritismo quase se apagou de todo nos campos
arroteados por Kardec, Denis, Flammarion, Delanne e tantos outros. A intensa e
comovente batalha de Léon Denis, na França e em toda a Europa, nos congressos
espíritas e espiritualistas de fins do século XIX e primeiro quarto do nosso
século foi contra as infiltrações de doutrinas estranhas, de espiritualismos
rebarbativos, no meio espírita. Foi gigantesco o esforço do famoso Druida da
Lorena, como Conan Doyle o chamava, para mostrar que o Espiritismo era uma nova
concepção do homem e da vida, que não se podia confundir com as escolas
espiritualistas ancestrais, carregadas de superstições e princípios
individualmente afirmados ou provindos de tradições longínquas, sem nenhuma base
de critério científico. O mesmo acontece hoje entre nós, sob a complacência de
instituições representativas da doutrina e o apoio fanático de lideres
carismáticos, piegos espirituais e alucinados mentais a dirigir multidões de
cegos.
Todas as tentativas de correção
dessa situação perigosa se chocam com a frieza irresponsável dos que se dizem
responsáveis pelo desenvolvimento doutrinário. E a passividade da massa
espírita, anestesiada pelo sonho da salvação pessoal, do valor mágico da
tolerância bastarda, da crença ingênua do valor sobrenatural das esmolas pífias
(o óbolo da viúva dado por casais de contas comuns nos bancos), vai minando em
silêncio o legado de Kardec. O medo do pecado que saí da boca, da pena ou das
teclas — enquanto se come e bebe à farta, semeiam-se migalhas aos pobres e
dorme-se na bem-aventurança das longas digestões — faz desaparecer do meio
espírita o diálogo do passado recente, substituindo o coro dos debates pelo
silêncio místico das bocas-de-siri. Ninguém fala para não pecar e peca por não
falar, por não espantar pelo menos com um grito as aves daninhas e agoureiras
que destroem a seara.
A imprensa espírita, que devia ser
uma labareda, é um foco de infestação, semeando as mistificações de Roustaing,
Ramatis e outras, ou chovendo no molhado com a repetição cansativa de velhos e
surrados slogans, enquanto as terras secas se esterilizam abandonadas. O óbolo
da viúva não cai nos cofres do Templo, mas nos desvãos do chão rachado pela
secura maior dos corações, como lembrou Constâncio Vigil.
À margem dessa imprensa paroquial,
feita para alimentar a família, os jornais que surgem em condições de mostrar ao
grande público a grandeza e o esplendor da Doutrina morrem de inanição, enquanto
jornais mistificadores, preparados com os condimentos da imprensa
sensacionalista e louvaminheira, ou temperados com bocas-de-siri (quanto mais
fechadas, mais gostosas) são mantidos pela renda de instituições comerciais ou
por interesses marginais.
As escolas espíritas marcam passo
na estrada comum. Os programas de rádio são sufocados por adulteradores e
substituídos por improvisações acomodatícias. A televisão só se abre para
sensacionalismos deturpadores. Os recursos financeiros se são empregados na
caderneta de poupança da caridade visível, que no invisível rende juros e
correções monetárias. As iniciativas editoriais corajosas - como o lançamento de
toda a coleção da Revista Espírita (*) - morrem
asfixiadas pelo encalhe, ante o desinteresse de um público apático. Os hospitais
Espíritas transformam-se em organizações comuns, mantidos pelas verbas oficiais
de socorro a doentes que podem carreá-las aos seus cofres, a antiga e legítima
caridade espírita de anos atrás, sustentada por alguns abnegados que já passaram
para o Além, murcha como flor de guanxuma em pastos ressequidos. Restam apenas,
nessa paisagem desoladora, alguns pequenos oásis sustentados pelos últimos e
pobres abencerragens (**) de uma velha estirpe desaparecida.
É necessário que se diga tudo
isso, que se escreva e semeie essa verdade dolorosa, para que toque os corações,
na esperança de uma reação que talvez não se verifique, mas que pelo menos se
tenta despertar. Na hora decisiva da colheita, as geadas da indiferença e as
parasitas do comodismo ameaçam as mínimas esperanças de antigos e cansados
lavradores. Apesar disso, os que ainda resistem não podem abandonar os seus
postos. É necessário lutar, pois o pouco que se possa salvar poderá ser a
garantia de melhores dias. O homem, as gerações humanas morrem no tempo, mas o
espírito, não. O tempo é o campo de batalha em que os vencidos tombam para
ressuscitar. Quem poderia deter a evolução do espírito no tempo? A consciência
humana amadurece na temporalidade. A esperança espírita não repousa na
fragilidade humana, mas nas potencialidades do espírito, que se atualizam no
fogo das experiências existenciais. Curta é a vida, longo é o tempo, e a Verdade
intemporal aguarda a todos no impassível Limiar do Eterno. O homem é incoerência
e paixão, labareda esquiva que se apaga nas cinzas, mas o espírito é a centelha
oculta que nunca se apaga e reacenderá a chama quantas vezes for necessário,
para que a serenidade, a coerência e o amor o resgatem na duração dos séculos e
dos milênios.
Todas as Civilizações da Terra se
desenvolveram, numa assombrosa sucessão de sombra e luz, para que um dia — o Dia
do Senhor, de que falavam os antigos hebreus — a Civilização do Espírito se
instale no planeta martirizado pelas tropelias da insensatez humana. Então
teremos o Novo Céu e a Nova Terra da profecia milenar. Os que não se tornarem
dignos da promessa continuarão a esperar e a amadurecer nas estufas dos mundos
inferiores, purgando os resíduos da animalidade. Essa é a lei inviolável da
Antropologia Espírita.
(*) Atualmentea coleção da
Revista Espírita apresenta grande circulação face ao
criterioso valor elucitativo e doutrinário. Conheça esta coleção acionando este
endereço eletrônico: http://www.aeradoespirito.net/CodifEspiritaIND/RevistaEspirita.html.
(**) Indivíduos que se mostram de
extrema dedicação a uma causa; são os derradeiros paladinos de uma idéia.
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