domingo, 23 de agosto de 2020

Contos de Terreiro por Umbanda eu Curto

 

Contos de Terreiro: nem tudo queima!

Contos de Terreiro é um nome genérico para um conjunto de histórias dessas que acontecem a todo momento na Umbanda.

Com certeza você também conhece alguns!

***

A noite estava perfeita para a Gira da Esquerda, onde os Exus e Pombagiras iriam se manifestar.
Assim, como era de costume naquele Terreiro, essas sessões eram fechadas, apenas para os trabalhadores e convidados.

Aliás, tudo estava pronto.
A toalha vermelha estava estendida diante do Congá, as flores estavam colocadas em seus devidos lugares, os charutos, cigarrilhas, perfumes e o padê – farinha com dendê – estavam disponíveis para as entidades que viriam a se manifestar.

Então, há uma prece inicial, evocando as forças do Criador e das divindades que lhe auxiliam, seguido de cânticos saudando os Exus e Pombagiras:

“Seu Tranca-Ruas me cobre com sua capa,

A sua Capa é um manto de caridade,

sua capa cobre tudo, só não cobre a falsidade.”

Dessa forma, enquanto todos se harmonizam em um só coro, os atabaques continuam a retumbar.
Ao passo que a dirigente do Terreiro pede então para que todos comecem a assobiar, enquanto a curimba continua a chamar o “povo da tronqueira”.

“De vermelho e preto vestindo,

a noite um mistério traz.

De colar de conchas,

De brincos dourados

a promessa faz.”

Então começa-se a ouvir gostosas gargalhadas, graves e agudas.
Ao mesmo tempo os médiuns vão se curvando e suas mãos tomando a forma de garras.
Igualmente, as médiuns, com um sorriso faceiro no rosto se põem a dançar.

Assim todos se cumprimentam e se põem a trabalhar:

“Boa noite para quem é de boa noite!”

Em seguida, um dos Exus a se manifestar chama um cambone, pega seu charuto de uma marca cubana, olha pra ele e diz:

– Mas esse burro não entende nada de fumaça mesmo! Onde tá o cortador de charuto?

Então o cambone procura em tudo, mas o Exu impaciente diz:

– Deixe. Ele não tem. Não sabia sequer que precisava de um pra cortar esse charuto! Deixe comigo!

Então morde uma das extremidades do charuto, tirando um naco de folhas secas de tabaco, criando assim seu próprio corte.
Tão preciso quanto feito com um cortador.

O cambone se aproxima com três nomes escritos em papel, cada um em um pedaço separado.
Então entrega nas mãos do Exu e lhe informa:

– Pai, salve suas forças!
Esses nomes foram pedidos para serem entregues pro senhor.
Disseram que estão cheio de macumba e com a vida empacada.
Que fizeram demandas contra eles.

Por consequência, o Exu olha de canto de olho, com uma cara de poucos amigos, e pega um pequeno recipiente feito de latão.
Então pede o fumo picado, que se usa pra charuto.
Enche a vasilha de latão com fumo, pega um pouco de álcool misturado com arruda, guiné e alecrim e despeja por sobre o fumo.
Assim, um a um ele vai pegando os nomes e olhando.
Ao mesmo tempo, enrola os mesmos como pavios e os enfia dentro do fumo com uma parte para fora.
Quando pega o terceiro nome diz:

– Esse aqui disse que tem demanda contra ele? Tem não! Mas vou colocar aqui de qualquer jeito e tu vai ver com os olhos que tem que nada tem contra ele! – disse ao cambone.

Assim, enrola como os demais e coloca no meio do fumo, embebedando os papéis um pouco mais com o preparo de álcool e ervas.
Então taca fogo e acende uma bela pira!

O Exu pega no ombro do consulente e vai correr a Gira dele.
Passa por alguns cumprimentando, a outros ignorando, mas a todos dando o axé do seu jeito.

Passado um tempo ele pede para o cambone ir até o fogo que já havia se extinguido.
Então o cambone olha atônito e percebe que um dos papéis – apesar de estar junto, embebido de álcool e ter sido beijado pelo fogo – estava intacto.

O Exu olha com um sorriso no canto do lábio e diz:

– Abra e leia o nome!

Então o cambone, ao abrir, se choca mais ainda!
Pois era o nome exato da pessoa que nada tinha contra ela, conforme o Exu havia dito.

– Quando não há, não há! E a prova tá aí pra quem quiser ver.
Isso é magia, isso é Umbanda! – disse o Exu, finalizando com uma gargalhada que pode ser ouvida até hoje quando fecho os olhos e relembro a cena.

Laroyê Exu! Exu Omodjubá!

“Deu meia noite em ponto e o galo já cantou

Deu meia noite em ponto e o galo já cantou

Cantou pra anunciar que seu Tiriri Chegou,

Cantou pra anunciar que seu Tiriri Chegou.”

***

E você?

Conhece mais contos de Terreiro? Conte pra nós!

Texto: Douglas Rainho – Perdido em Pensamentos

Foto: Lee Phillips/Pexels

Incorporado, vejo e ouço tudo ao meu redor. É normal? por Umbanda eu curto

 

Incorporado vejo e ouço tudo ao meu redor. É normal?

Incorporado vejo e ouço tudo. É normal? Sou consciente, vejo tudo, será que estou fingindo?

Esta é uma das principais dificuldades dos médiuns que iniciam seu desenvolvimento mediúnico. Quando se trata dessa situação estamos falando da incorporação consciente.

Segundo várias análises, a cada dez médiuns nove tem essa dúvida e mostram insegurança no início de suas incorporações.

Não é incomum perceber que muitos irmãos de fé sentem culpa ou vergonha por tal ocorrência, por total falta de conhecimento desse tipo de incorporação.

É importante também citar que existem três estágios no desenvolvimento mediúnico até chegar a incorporação.

Para explicar de forma mais simplificada, citaremos apenas a ordem até chegar na incorporação:

1º Estágio é o da INTUIÇÃO

2º Estágio é o da APROXIMAÇÃO

3º Estágio é o da INCORPORAÇÃO

Consideramos que é mais importante ficar atento a esses estágios do que viver no sofrimento ou dúvida se é importante ser consciente ou inconsciente na atuação como médium.

Sabemos que nos dias hoje não se faz necessário a mediunidade inconsciente. Entretanto, percebemos que alguns médiuns preferem omitir a sua consciência durante o trabalho mediúnico para credibilidade ou por medo de ser acusado de mistificador.

Hoje as entidades atuam com os médiuns conscientes em sua maioria durante a realização dos atendimentos e trabalhos.

Apenas um percentual muito pequeno – segundo alguns estudos, não mais do que 2% do total – são semi-conscientes e raramente inconscientes (menos de 1%).

Há uma comparação interessante que vale a pena citar. Vamos comparar um copo d’ água com açucar ao processo de incorporação.

Num copo com água coloque duas colhes de açúcar. Sem misturar você visualiza dois elementos: a água e o açúcar. Misturando surge um terceiro elemento totalmente modificado, mas ainda contendo os outros dois elementos.

Da mesma forma acontece a incorporação: a mente do médium alinhada com a energia da entidade que se aproxima unem-se em harmonia e, com o conhecimento de ambos, podem realizar um trabalho correto.

Assim, nunca tenha medo ou vergonha de dizer que é um médium consciente. Pelo contrário: embora consciente, o médium vivencia um transe mediúnico, um estado alterado de atenção cujo foco é o atendimento aos consulentes.

Bons Terreiros, Pais e Mães de Santo e até cursos ensinam que não é preciso guardar ou decorar histórias contadas pela assistência.

Os anseios das irmãs e irmãos umbandistas devem ser preservados e utilizados apenas para um bom atendimento, nada mais do que isso.

Terminada a incorporação, é comum que o médium se lembre vagamente do que ouviu e que, com o passar das horas, simplesmente abstraia-se totalmente do que ouviu.

Esta postura é desejável e recomendável até pelas entidades, segundo relatos.

Esta postura traz sinceridade ao trabalho, respeito, confiança e credibilidade para todos, além de tornar a incorporação cada vez mais um processo natural aos médiuns iniciantes, dando-lhes segurança para os trabalhos.

Incorporado vejo e ouço tudo, mas não preciso guardar o que vi e ouvi…

Médium que se esconde numa suposta inconsciência mediúnica está, na verdade, tendo uma atitude irresponsável, pois imagina que se der algum aconselhamento errado durante um atendimento pode usar um escudo do tipo, “não fui eu, foi a entidade que disse, eu sou médium inconsciente”.

Outro aspecto importante para destacar são as características da manifestação mediúnica quando incorporado, sobretudo os trejeitos e movimentos das entidades e Orixás.

Por exemplo: tente impedir um dos movimentos voluntariamente, segurar as mãos quando da manifestação de um Caboclo enquanto brada seu grito ou levantar rápido quando da incorporação de um Preto Velho.

Há relatos de médiuns que desafiam a ritualística, achando que podem provar algo, mas ao contrário do que pensam isso é uma grande intervenção ao processo normal de incorporação.

Além disso, poderão não ter a comprovação, para si mesmos, de que a entidade está ali realmente manifestada, e isso pode gerar uma insegurança mediúnica desnecessária.

No começo da Umbanda julga-se que era necessário a inconsciência por se tratar de uma religião nova, segundo relatos de época.

Assim, algumas provas não seriam possíveis com a incorporação consciente do médium, pois o mesmo não teria coragem e nem acreditaria.

Essas conseqüências poderiam levar o médium a se afastar da Umbanda. Portanto, a inconsciência era necessária para ajudar os incrédulos e quebrar paradigmas e preconceitos.

Porém, hoje, com a evolução que a Umbanda conseguiu em mais de 100 anos, não existe mais a necessidade das entidades usarem do artifício da inconsciência para trabalhar com os médiuns e auxiliar a todos que procuram os Terreiros de Umbanda.

Incorporado vejo e ouço tudo que se passa à minha volta?

Sim, e que bom! Assim as entidades também podem nos ajudar com seus vastos conhecimentos, pois amanhã poderemos ser médiuns melhores, mais preparados e com mais experiência para atender todas as irmãs e irmãos de fé.

Por que alguns vencem e outros não? Por Cristinatormena

  Templo de Umbanda Ogum 7 Ondas e Cabocla Jupira. Read on blog  or  Reader Por que alguns vencem e outros não? cristinatormena April 19 Por...