quarta-feira, 29 de julho de 2020

DESAFIO 12 DIAS - D10: Espiritualidade não Serve ao Ego

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Bater Cabeça por que para quem, como, quando e onde? Por Alexandre Cumino

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Bater cabeça
Por que, para quem, como,
quando e onde.

Por Alexandre Cumino e Maria de Fátima Gonçalves
"Não sabia fazer, expliquei que não sabia. O Dirigente se irritou profundamente. Como “exemplo”, ele chamou uma garotinha de 7 anos de idade, mandando que ela pedisse a bênção. 

A menina fez direitinho. Mas para me “punir”, o Sacerdote determinou que ela batesse cabeça pra ele, deixando-a esticada no chão até ao final da gira, por mais de hora, dizendo que ali ele mandava... Saí dali, achei absurdo. "

Alguns elementos da liturgia de Umbanda nos confundem e nem sempre encontramos resposta ou orientação. É o caso do procedimento ritualístico de “Bater Cabeça”, termo que usamos para designar o ato de saudar de forma reverente encostando a cabeça no chão. É comum na Umbanda observar que nem sempre o que se adota em uma casa (terreiro, templo, tenda...) tem valia em outra casa, podendo até ser interpretado como desrespeito ou ignorância.

Saudação, Reverência, Respeito, Entrega, Amor, Devoção e Religiosidade são algumas das atitudes relacionadas com o ato de bater cabeça. Na maioria dos terreiros batemos cabeça diante do altar; saudando Deus, os Orixás e Guias que conduzem o templo. Em algumas casas também se bate cabeça para o dirigente espiritual (sacerdote ou sacerdotisa); noutras poucas se bate cabeça também para a tronqueira.

Bater Cabeça diante do Altar é um dos atos mais importantes dentro do ritual de Umbanda, pois é o limiar da entrega do médium que vai trabalhar, estamos nos entregando em uma forma de submissão consentida, por que queremos servir e ser obedientes à orientação e guia que vem do astral. 

Estamos “dando” nossa cabeça, o mistério da vida, o que há de mais precioso, nosso mental e nossa coroa em prol do trabalho espiritual que vai se realizar. Só batemos cabeça para quem confiamos e amamos, pois neste momento estamos nos doando por inteiro, simbolicamente, por meio de um gesto ritualístico. Mesmo que ninguém nunca nos explique o que significa este ato de bater cabeça, intuitivamente já subentendemos seu significado, o gesto é muito forte e estar prostrado mexe com nosso psiquismo emocional, racional, consciente, subconsciente e inconsciente. O simples ato de sermos submissos a algo ou alguém que nos seja superior e claro de total confiança, quando feito de peito aberto, de coração nos torna também mais tolerantes e pacientes, com as relações humanas. Desperta um ambiente de respeito às diversas limitações e ao comando que vem do alto para baixo e não o contrário. Há milênios rituais religiosos adotaram este gesto de saudação como símbolo de respeito, hierarquia, adoração e devoção para manter a estrutura sacerdotal e o ambiente fraterno.

O que causa confusão e as vezes até frustração são alguns detalhes de como deve ser o gestual, deitado ou ajoelhado, com as mãos para frente ou para trás, quantas vezes toco o chão com minha testa e até o que devo falar ou pensar neste momento. Para exemplificar estas dificuldades coloco abaixo um texto de nossa irmã Maria de Fátima Gonçalves, feito durante a Turma 11 do Curso Virtual de Teologia de Umbanda Sagrada:

Há uma diversidade muito grande dentro da Umbanda, a gente encontra rituais muito variados, inclusive quanto ao bate-cabeça. 

A primeira Casa que freqüentei, fora do meu próprio trabalho, tinha como regra o médium bater cabeça sem o uso de toalha, deitado e tocando a testa no chão por alguns bons minutos, com as mãos ao lado da cabeça e as palmas voltadas pra baixo. Não usar toalha e colocar as palmas pra baixo era sinal de submissão e obediência. Usar toalha ou virar as mãos pra cima seria arrogância. Ali a regra era bater cabeça no Altar, na frente dos atabaques e para o Dirigente. E o Dirigente poderia exigir que o médium ficasse deitado na frente dele por mais de hora, dependendo do seu “humor” no momento.

Depois de bater cabeça, o médium tinha de pedir-lhe a bênção em yorubá, era uma saudação longa. Entrei ali com mais de vinte anos de trabalho, mas um trabalho simples, com poucos rituais, na verdade acendia 1 vela branca e pedia as bênçãos Divinas, e os médiuns se cumprimentavam inclinando a cabeça e com as mãos juntas na altura do coração (saudando o “Deus interno” do outro).  Não conhecia o costume de se tomar a bênção, muito menos naquela língua. Não sabia fazer, expliquei que não sabia. O Dirigente se irritou profundamente. Como “exemplo”, ele chamou uma garotinha de 7 anos de idade, mandando que ela pedisse a bênção. 

A menina fez direitinho. Mas para me “punir”, o Sacerdote determinou que ela batesse cabeça pra ele, deixando-a esticada no chão até ao final da gira, por mais de hora, dizendo que ali ele mandava... Saí dali, achei absurdo. 

Nunca me esqueço do rostinho dela, inocente, deitada num chão frio de cimento bruto, só pela vaidade daquele homem. Se eu pudesse voltar no tempo, mudaria aquilo, a minha ignorância puniu uma criança inocente. Estou aqui desabafando, me perdoem, mas isso me dói até hoje. 
Logo depois, estudando, estive numa Casa onde a toalha era essencial: o médium jamais deveria colocar o ori no chão, seria um “sacrilégio”, porque o coronário é o ponto mais sagrado do corpo e jamais deveria tocar o solo. 

Na minha “primeira vez”, fui bater cabeça sem a toalha e levei uma bronca exemplar... Sinceramente, acredito que o que vale é o coração, a intenção. Mas respeito às regras de cada casa e procuro aprender... Só não aceito o exagero do “quero porque quero”...

Acredito que este texto de nossa irmã ilustra bem a situação e a relação da diversidade ritualística de uma casa para a outra, bem como o fato de que muitas vezes o que é respeito para uns é desrespeito para outros. 

Assim independente de verdades absolutas e do que é o mais certo para um ou outro, vale compreender o que é valido dentro da casa que freqüenta e do contexto em que a mesma se insere. O mais importante é o significado do ato de saudar, entregar-se  e reverenciar tocando o solo com a testa. Os que tocam três vezes podem estar saudando “Olorum, Oxalá e Ifá” considerado a santa trindade na Umbanda ou mesmo saudando “Deus, Orixás e Guias” e há quem toque a cabeça de frente, depois para a direita e para a esquerda, saudando o “Alto, Direita e Esquerda”. 

Pode-se tocar a cabeça três vezes apenas pela força mística e “cabalística” que envolve o numero três; multiplicador e potencializador de todos os atos ritualísticos.  Alguns antes do gesto fazem o sinal da cruz no chão ou em si, que também é um ato de saudação e respeito. Batemos cabeça em nosso Altar e no Altar dos terreiros em que somos visita, em sinal de reconhecimento da energia e vibração daquela casa.

Quando batemos cabeça ao dirigente estamos reconhecendo sua hierarquia, sua investidura espiritual, outorga de trabalhos e declarando nossa entrega a seu trabalho, reconhecendo a importância do mesmo. 

Hoje muitos dirigentes não aceitam que lhe batam cabeça, eu mesmo tenho certa resistência, no entanto, é um ato ritualístico importante tanto para quem está sendo saudado quanto para quem está saudando. 

Neste momento o sacerdote pede a Deus e a seus Guias e Orixás que abençoem este filho que lhe presta homenagem, pois bater cabeça é também um pedido de benção. 

Hoje também filhos não pedem mais a benção a seus pais, pois desconhecemos o mistério e a força de tal gesto quando realizado com respeito e amor. Nem tudo que os “antigos” faziam desde nossos ancestrais tem explicação, mas é certo que dentro do que diz respeito a ritualística e espiritualidade há gestos e símbolos que aprendemos a recorrer por força dos resultados e da tradição que se inserem. 

A ritualística também ajuda a criar uma egrégora afim e colocar todos dentro de uma mesma sintonia desejada. Bater Cabeça é algo extremamente simbólico e agregador de sentido para nossa religião e nossas vidas, que cada um de nós tenha orgulho de Bater Cabeça para e na UMBANDA.

Um abraço,
Colégio Pena Branca

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