quarta-feira, 18 de maio de 2016


                                                    Origem Indígena



por Alexandre Cumino

De sua raiz indígena a Umbanda recebe o amor à natureza e a influência do xamanismo caboclo e
pajelança, bem como o uso do fumo, que é considerado erva sagrada para os índios. 

Um culto irmão da Umbanda, o Catimbó, Jurema ou Linha dos Mestres da Jurema, também realiza trabalhos com entidades espirituais de forma muito parecida com esta, sob influência direta do Toré, que é uma prática essencialmente indígena. 

A Umbanda e o Catimbó trabalham com algumas entidades em comum como,por exemplo, Caboclo Tupinambá na Umbanda e Mestre Tupinambá no Catimbó, Caboclo Tupã e Mestre Tupã, Caboclo Gira-mundo e Mestre Gira Mundo, Pai Joaquim e Mestre Joaquim, e o tão conhecido Mestre Zé Pelintra, juremeiro muito presente na Umbanda. 

Alguns chegam a dizer que a Jurema é “Mãe da Umbanda”, de tanto que teria colaborado com esta. O Toré e a Jurema são vivos ainda hoje nas tribos Kariri – Chocó, considerados os guardiões da Jurema. 

Em conversa com um amigo desta tribo, o índio Tkainã, o mesmo me esclareceu que Aruanda é a Terra da Luz para sua cultura, falada na língua Macrogeu, “coincidentemente”, Aruanda é o Céu, correspondente ao Mundo Astral, para os Umbandistas.

Muitas vezes na Umbanda se usa o termo Jurema para identificar um local do mundo espiritual de onde provêm os caboclos.

O uso de chás, banhos de ervas e defumações é algo em comum para indígenas, africanos e
europeus. 

Em muitas Tendas de Umbanda se vê o uso do Maracá (chocalho indígena) e outros elementos
como penachos e cocares, usados pelas entidades incorporadas, que dá todo um ar indígena para
Umbanda.

A primeira manifestação de Umbanda que se tem notícia é do Caboclo das Sete Encruzilhadas, que
justifica chamar-se “caboclo” por ter sido índio em uma encarnação aqui no Brasil, esclarece ainda que em outra encarnação foi o Frei Católico Gabriel Malagrida, queimado na Santa Inquisição.

São os Caboclos os verdadeiros mentores da Umbanda, se apresentando como linha de frente e de
comando dentro da religião, sendo na maioria das vezes quem responde pela “chefia” e a responsabilidade do que é realizado dentro de uma Tenda de Umbanda.

Dessa forma, vamos percebendo que existe uma cultura indígena forte dentro da Umbanda, na qual
destacamos três pontos que se ressaltam nessa raiz:

1. O Xamanismo é a prática realizada por aborígines do mundo inteiro, como siberianos,
australianos, indianos, africanos ou índios das três Américas. Consiste no uso de poderes psíquicos para,em estado alterado de consciência, encontrar respostas, realizar curas ou profecias. Muitas vezes para entrar nesse estado, de transe, usam a ingestão de bebida ou fumo que lhes propicie ampliar sua
consciência, sair do corpo em busca de respostas ou receber, incorporar, a presença de um animal de
poder ou energia poderosa, para auxiliar sua tribo. 

Aqui no Brasil os Pajés são considerados xamãs, e a pajelança um xamanismo; da mesma forma, os rituais onde está presente a bebida de poder também é visto como prática xamânica. Podemos lembrar aqui do Santo Daime, Ayuaska, Peiote, Jurema e até a Canabis Ativa (Maconha) sagrada para a religião Rastafari, da Jamaica, onde tal erva é fumada apenas em ritual, e não é compartilhada para não adeptos.

2. O Toré, que é ainda praticado no Brasil pela tribo dos Kariri-xocó, consiste de uma dança
realizada com a infusão da bebida feita à base de Jurema, que pode ser mais ou menos enteógena
(alucinógena para os psicólogos e leigos), palavra que significa “Encontro com Deus”. Os índios
reverenciam uma divindade como um gênio que é o Espírito da Jurema, diferente de Cabocla Jurema. Da árvore de Jurema os índios usam as folhas, sementes e o tronco, para fazerem bebidas, maracás
(chocalho) e cachimbos, onde o fumo também é misturado com folhas de jurema.

3. O Catimbó ou Linha da Jurema é muito praticado no Nordeste, principalmente Pernambuco,
consiste em um culto que combina as tradições do Toré com a Magia Europeia, onde a presença afro se percebe menos. A palavra Catimbó pode ser derivada ou deturpada de Caximbo, não se sabe ao certo sua origem, no entanto, tornou-se sinônimo de Magia de uma forma pejorativa, às vezes confundida com Magia Negra, o mesmo caso do que aconteceu com a palavra Macumba. Por isso, muitos “catimbozeiros” preferem ser chamados de “Juremeiros” ou simplesmente de Mestre, que é como se identificam os espíritos guias e também os dirigentes do culto.

Seu ritual lembra um pouco a Umbanda, no entanto cada médium costuma trabalhar apenas com
um ou dois Mestres Espirituais, que pode ser índio, preto-velho, baiano, marinheiro e outros. Todo o
trabalho é feito com o uso da Marca (Caximbo) por parte dos espíritos, e sempre com o uso da bebida de Jurema, antes e durante as incorporações. 

Para fazer parte desse culto, o neófito passa por uma iniciação chamada “Tombo da Jurema” onde sob um preparo especial de bebida de jurema esse médium sai em espírito e vai encontrar seus mestres no astral, onde em espírito vão aprender sobre a arte da Jurema. 

Muitas entidades da Jurema vêm na Umbanda e vice versa, o mestre de Jurema mais conhecido
por aqui é “Seu Zé Pelintra”, que por sua origem externa à Umbanda vem em qualquer linha, caboclo, preto-velho, baiano ou exu.

• Luiz da Câmara Cascudo, que foi o maior folclorista brasileiro,publicou em 1951 o título Meleagro, que é um estudo de mais de 20 anos sobre o Catimbó, ainda hoje é a obra mais completa sobre o assunto, na segunda edição da obra ele apresenta comentários interessantes para este nosso estudo:
Creio que antes de 1928 estaria eu dando campo ao Catimbó em Natal, contagiado pelas
reportagens de João do Rio às religiões suplementares na Capital Federal. Em 1928, dezembro, Mário de Andrade (1893-1945), meu hóspede, “fechou o corpo” com um Mestre frequentador de nossa chácara.
Pagou vinte mil réis e narrou a proeza em crônica que não consegui reconquistar. Denunciaria a técnica catimbozeira natalense há 49 anos, fase das anciãs perquiridoras. Terminado em dezembro de 1949, a Editora AGIR publicou em 1951 MELEAGRO, nome pedante para justificar feitiço da Grécia em mão africana. 

Não se falava ainda em Umbanda, mesmo na cidade de Salvador onde fui garboso “calouro” de
medicina em 1918, residindo na Baixa do Sapateiro. Édison Carneiro, baiano investigador devoto, não registra o vocábulo no Candomblé da Bahia, 1948 e em A Linguagem Popular da Bahia, 1951. Redigiu o verbete “Umbanda” para o meu Dicionário do Folclore Brasileiro. Depois de 1960 é que a Umbanda abordou Natal [...]

Neste MELEAGRO verifica-se minha familiaridade com os “Mestres”. Dizê-los “Catimbozeiros” era
agressão. Reinava o amável sincretismo acolhedor entre os “Mestres do Além”, africanos, indígenas e
mestiços nacionais [...]

No Dicionário do Folclore Brasileiro, 1954, Câmara Cascudo nos apresenta a definição do verbete
Catimbó, da onde retiro os fragmentos abaixo, que é a parte do texto que nos interessa aqui:

Feitiço, coisa-feita, bruxedo, muamba, canjerê e também o conjunto de regras e cerimônias a que
se obedece durante a feitura do encanto. Reunião de pessoas, presidida pelo “mestre”, procedendo à
prática do catimbó [...]

“Catimbó quer dizer cachimbo, usado pelo mestre. 

O catimbó não é religião. 
Não tem ritos maiores, como o candomblé baiano, o xangô pernambucano, sergipano ou alagoano, ou a macumba carioca. Com breve liturgia, o mestre defuma os assistentes com o fumo de seu cachimbo e recebe o espírito de um mestre defunto, Mestre Carlos, Xaramundi, Pinavaruçu, Faustina, Anabar, indígenas, negros feiticeiros, como Pai Joaquim, bons e maus. Todos acostam, receitam e aconselham. Cada um deles é precedido pelo canto da linha, melodia privativa que anuncia a vinda do Mestre ou da Mestra.
Não há indumentária especial, escolas de filhas de santo, comidas votivas, decoração, bailado,
instrumentos musicais. O mestre é o curandeiro, o bruxo. Há, naturalmente, a presença de elementos
negros e ameríndios, nomes de tuxauas e de orixás, rezas católicas, num sincretismo inevitável e lógico.

O catimbó é prestigioso nos arredores das grandes cidades, consultório infalível para pobres e ricos,
embora sem a espetaculosidade sonora do candomblé, da macumba e dos xangôs nordestinos. 

Na Pajelança amazônica intervêm animais conselheiros, mutuns, boiúnas, cavalos-marinhos, cobras, jacarés, ao lado de mestres e mestras. 

O catimbó aproxima-se velozmente do baixo-espiritismo, perdendo a ciência dos remédios vegetais e a técnica de São Cipriano e da Bruxa de Évora. Representa, como nenhuma outra entidade, o elemento da bruxaria europeia, da magia branca, clássica, vinda da Europa, herdeira dos bruxos que o Santo Ofício queimou e sacudiu as cinzas no mar. O mestre é uma sobrevivência do feiticeiro europeu, e não um colega do babalorixá, babalawô ou pai-de-terreiro banto ou sudanês. 

Catimbó não é sinônimo de Candomblé, macumba, xangô, grupo de Umbanda, casa de mina,
tambor de crioulo, etc. 

É uma presença da velha feitiçaria deturpada, diluída, misturada, bastarda, mas reconhecível e perfeitamente identificável. 

Foi motivo de quase vinte anos de observação pessoal para o Meleagro, ed. Agir, Rio de Janeiro, 1951 [...]1”
Texto do Livro História da Umbanda, de Alexandre Cumino, Editora Madras.

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