segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

FILOSOFIA DA CIÊNCIA ESPÍRITA- IV

Ciência rumo ao Espiritismo
Temas diversos
Filosofia da Ciência Espírita  IV
O    E S P I R I T I S M O

Kardec, o Galileu da Religião
No século XIX, como foi discutido no estudo anterior (Outubro), havia um movimento cultural bem definido. A Filosofia estabelecera-se como o ramo da reflexão humana, buscando as conseqüências dos fenômenos e, por análises sucessivas, remontar às causas. A Ciência tinha surgido inicialmente com Galileu ao propor um método de observações, repetições e, acima de tudo, interpretação matemática dos fenômenos. Mais tarde, muitos pensadores, "cientifizaram" diversas áreas do conhecimento, tornando-as de interpretação quantitativa. O Positivismo, uma corrente filosófica do século XIX, mostrara-se como uma "crença" de que todos os problemas humanos (sociais e morais) podem ser resolvidos apenas pela ciência e que as religiões, ainda grosseiramente não-racionais, deveria abandonar sua função consoladora para as ciências. 
           Os positivistas, porém, em sua maioria, eram bastante orgulhosos para mudar radicalmente seu padrão de idéias (paradigmas). Mas algo, no século XIX, abalou todos pilares conceituais da Ciência. Em 1848, enquanto a Europa estava em guerras nacionalistas internas, os Estados Unidos da América estavam em euforia. Nesse ano, foi descoberto ouro na Califórnia, acentuando o movimento migratório de pessoas de diversas áreas para o Oeste, além da imigração de estrangeiros. A família metodista Fox, John D. Fox (pai), Margareth (mãe), descolando-se do Canadá, mudara-se para a cidade de Hydisville, em busca de prosperidade. Ficaram em uma casa conhecidamente "mal-assombrada" pelos moradores locais. Pancadas e ruídos nos móveis, movimentos espontâneos de objetos, arremessos, tremores e trepidações eram freqüentes pela
  casa. Então, em 1848, as filhas do casal citado, as irmãs Margareth e Catherine, "desafiaram" a causa da perturbação, travando um diálogo codificado pelas pancadas. O inteligência identificando-se concordou em reproduzir suas pancadas em público. Mais tarde, toda a sociedade pensante nos Estados Unidos estavam investigando o fenômeno. 
           Alguns europeus interessados, mesmo sem presenciar o fenômeno, negaram a explicação oriunda da América de que as almas dos mortos eram a causa dos movimentos inteligentes espontâneos. Tentaram reproduzir o "espetáculo" da América com sucesso. Irradiando da França e da Alemanha, o estranho fato das "mesas girantes" ou "dança das mesas" tornou-se uma "febre" nos salões da Europa. Entreteve, por algum tempo, a curiosidade dos frívolos, até estes descobrirem outra moda. Contudo, as demonstrações desafiavam profundamente os positivistas. Como um corpo pesado poderia mover-se de tal forma, sem sequer alguém toca-lo? Como soar batidas de dentro do móvel quando não há suspeita de fraude alguma? Como conceber pancadas combinando-se e produzindo respostas inteligentes, estranhas, desconhecidas e contr
 aditória às idéias dos pesquisadores? Como aceitar que um corpo sólido atravessa outro? Como acreditar em aparições tangíveis de pessoas mortas formadas por "concentrações" de uma substância fluídica secretada de determinadas pessoas? E, o que mais confundia a negação dos positivistas, era a reprodução desses fenômenos diversos em diferentes lares e instituições, de diferentes países, de diferentes continentes, sob a sombra do Positivismo e da Ciência do século XIX racionalista. 
           Muitas explicações superficiais semi-racionais foram formuladas para negar a imortalidade da alma e a comunicação dos mortos, mas todas elas falharam e desapareceram devido a contradições intrínsecas e por não explicarem todos os fatos (ver O Livro dos Médiuns, item 36 e seguintes). Mesmo assim, até hoje, em pleno século XXI, materialistas, orgulhosos, pseudo-sábios "homens da ciência", amedrontados diante da inegável imortalidade da alma, reforçam que a comunicação com desencarnados, tão comum em todos os tempos, seria um fato maravilhoso e sobrenatural, por afastarem-se das leis naturais. Dessa forma, estamos ansiosos para que nos contem quais são elas, já que nós, pelo menos, não conhecemos todas as leis do Universo. Pelo contrário, houve um pensador no século XIX, no meio da explosã
 o fenomênica exposta, disposto a estuda-la racionalmente, cientificamente (interpretações matemáticas), sem idéias pré-concebidas. 
           O professor pedagogo Hippolyte Léon Denizard Rivail (1804-1869), natural da França, Lyon e de formação acadêmica em Yverdun, Suíça, com o célebre professor Pestalozzi, discípulo de Jean Jacques Rousseau, fazia parte da comunidade pensante de Paris, participando ativamente de diversos institutos científicos, notadamente da Academia Real dArras. Tendo conhecimento do fenômeno, longe de ser um entusiasta dessas manifestações e absorvido por outras preocupações, esteve a ponto de as abandonar, o que talvez tivesse feito se não fossem as solicitações dos Srs. Carlotti, René Taillandier, membro da Academia das Ciências, Tiedeman-Manthèse, Sardou, pai e filho, e Diddier, editor. Entretanto, o convite do Sr. Pâtier, seu amigo sério e objetivo, levou-o a conhecer, em 1855, as mesas responderem inteligentemente a pe
 rguntas formuladas na casa da Sra. Plainemaison, às terças-feiras, à noite. Anota o professor: 
           "Foi aí, pela primeira vez, que testemunhei o fenômeno das mesas girantes, que saltavam e corriam, e isso em condições tais que a dúvida não era possível. 
           "Aí vi também alguns ensaios muito imperfeitos de escrita mediúnica em uma ardósia com o auxílio de uma cesta. Minhas idéias estavam longe de se haver modificado, mas naquilo havia um fato que devia ter uma causa. Entrevi, sob essas aparentes futilidades e a espécie de divertimento que com esses fenômenos se fazia, alguma coisa de sério e como que a revelação de uma nova lei, que a mim mesmo prometi aprofundar.(...)" 
           Uma das primeiras observações e conclusões do emérito enciclopedista prof. Rivail foi a necessidade da presença de determinadas pessoas ("sensitivos") para facilitarem e intensificarem qualquer dos tipos de manifestações. Quanto à causa dos fenômenos: 
           "Apliquei a essa nova ciência, como até então o tinha feito, o método da experimentação; nunca formulei teorias preconcebidas; observava atentamente, comparava, deduzia as conseqüências; dos efeitos procurava remontar às causas pela dedução, pelo encadeamento lógico dos fatos, não admitindo como válida uma explicação, senão quando ela podia resolver todas as dificuldades da questão.(...) 
           "Entrevi nesses fenômenos a chave do problema tão obscuro e tão controvertido do passado e do futuro, a solução do que havia procurado toda a minha vida; era, em uma palavra, uma completa revolução nas idéias e nas crenças; preciso, portanto, se fazia agir com circunspeção e não levianamente, ser positivista e não idealista, para me não deixar arrastar pelas ilusões." 
           E, desse modo, rejeitou a hipótese causal puramente material e espontânea, a hipótese dos gases invisíveis. "Todo efeito inteligente tem uma causa inteligente". Pelas observações ficou claro a presença viva de inteligências invisíveis (algumas vezes bem visíveis) independentes (Espíritos). Os materiais e métodos eram inicialmente baseados nas pancadas das mesas. A seguir, adaptou-se um lápis em uma mesa em miniatura para facilitar a escrita. Trocaram-se as mesinhas por cestinhas, pranchetas e, mais tarde, notou-se que esses instrumentos eram apenas apêndices dos sensitivos e estes poderiam escrever mecanicamente com a própria mão, servindo de instrumento dos desencarnados. 
           Aplicando os métodos científicos tradicionais postulados por Galileu (vistos no estudo anterior), o Prof. Rivail "cientifizou" mais um ramo do conhecimento humano, até agora de domínio religioso. Os sensitivos, agora denominadas médiuns (intermediários), longe de serem pessoas predestinadas, endemoniadas, santificadas ou privilegiadas, são pessoas absolutamente normais. A interpretação quantitativa do problema é elegantemente simples: a mediunidade é uma faculdade humana orgânica, neurofisiológica, que possibilita a percepção de Espíritos (desencarnados). Todos temos essa faculdade conhecida de todos os tempos, mas ela varia quantitativamente na população humana por fatores genéticos, ambientais e culturais, de modo que somos todos mais ou menos médiuns, variando apenas em graus, e não em qualidade. Apenas
  pelo costume, chamam-se médiuns aqueles que expressam a faculdade por manifestações nas quais a comunicação dos Espíritos é mais claramente perceptível. A mediunidade, como objeto de estudos dessa nova Ciência, serviu de base para o Espiritismo, neologismo criado pelo Prof. Rivail para "A ciência que estuda a natureza, a origem e o destino dos Espíritos, bem como as suas relações com a matéria" (ver O que é o Espiritismo?). Reflete o pedagogo: 
           "Um dos primeiros resultados das minhas observações foi que os Espíritos, não sendo senão as almas dos homens, não tinham nem a soberana sabedoria, nem a soberana ciência; que o seu saber era limitado ao grau do seu adiantamento, e que a sua opinião não tinha senão o valor de uma opinião pessoal. Esta verdade, reconhecida desde o começo, evitou-me o grave escolho de crer na sua infalibilidade e preservou-me de formular teorias prematuras sobre a opinião de um só ou de alguns." 
           E essa é a diferença fundamental entre as religiões tradicionais e essa nova Ciência. Se recordarmos o processo histórico-cultural da formação das religiões, todas elas dependeram da comunicações com os mortos (estudo de Julho). Porém, usava-se o método da submissão à revelação dos Espíritos e os médiuns eram considerados enviados dos deuses para a salvação da humanidade ou, se a mensagem dos Espíritos desagradava o poder terreno, os médiuns eram massacrados por serem enviados dos demônios. O positivista Prof. Rivail, como se vê, tem outra opinião, adotando uma postura absolutamente natural: "Eu, pois, agi com os Espíritos como teria feito com os homens: eles foram, para mim, desde o menor até o mais elevado, meios de colher informações e não reveladores predestinado
 s." 
           De fato, para a formulação dos ensaios, das leis e teorias da Ciência Espírita presente em O Livro dos Médiuns, houve uma equipe de cientistas composta de encarnados e desencarnados pesquisadores, chefiados pelo Prof. Rivail. Um desencarnado, denominando-se sr. Z., informa-lhe que o conhecia o conhecia em outra encanação, nas Gálias, época quando o professor chamava-se Allan Kardec. Muitos outros Espíritos ajudavam ativamente Kardec, dentre eles, São Luís. 
           As primeiras hipóteses para explicar como os desencarnados podem fazer as mesas dançarem foram exemplos expressivos dessa parceria científica. Kardec e colaboradores encarnados sugeriram que os desencarnados agissem mecanicamente sobre a matéria. Já que o corpo fluídico perispírito é semi-material e pode tornar-se tangível, é razoável pensar que eles próprios empurrassem as mesas com as mãos. Porém, qual seria, então, o papel dos médiuns? Os desencarnados apresentaram uma teoria completamente diferente, muito mais simples e explicativa (ver O Livro dos Médiuns, item 72 e seguintes), aceita por Kardec por ser mais racional. No entanto, houve vários casos em que comentários de desencarnados "de renome" foram rejeitados. O Espírito Lázaro, muito conhecido no Espiritismo por sua explicação sobre a su
 blimação dos instintos, sensações e sentimentos em Amor, escreveu comunicações contestáveis (ver Revista Espírita, 1862) a respeito do mesmo assunto. 
           E essa parceria desdobrou-se numa nova Ciência. Porém, era impossível conceber a novidade apenas pela ciência material mais grosseira. Uma vez que esses estudos criaram um método controlado de conversar com desencarnados, foi aberto um novo campo para reflexões profundamente filosóficas, com o potencial de responder perguntas fundamentais da criatura humana. Relata o codificador: 
           "Só o fato da comunicação com os Espíritos, o que quer que eles pudessem dizer, provava a existência de um mundo invisível ambiente; era já um ponto capital, um imenso campo franqueado às nossas explorações, a chave de uma multidão de fenômenos inexplicados. O segundo ponto, não menos importante, era conhecer o estado desse mundo e seus costumes, se assim nos podemos exprimir. Cedo, observei que cada Espírito, em razão de sua posição pessoal e de seus conhecimentos, desvendava-me uma fase desse mundo, exatamente como se chega a conhecer o estado de um país interrogando os habitantes de todas as classes e condições, podendo cada qual nos ensinar alguma coisa e nenhum deles podendo, individualmente, ensinar-nos tudo. Cumpre ao observador formar o conjunto, com o auxílio dos documentos recolhidos de diferentes lad
 os, colecionados, coordenados e confrontados entre si." 
           Essas reflexões reunidas tornaram-se um corpo de doutrina filosófica baseada em princípios fundamentais da agora chamada Filosofia Espírita: 
1) Existência de Deus: por deduções óbvias e axiomáticas, conclui-se a existência de uma causa primária de todas as coisas, com atributos infinitos em perfeição;
2) Imortalidade da alma: o novo método, como se disse, leva a esse corolário; filosoficamente, um Criador perfeito não governaria sobre carnes perecíveis;
3) Comunicabilidade dos Espíritos: é o próprio método de base; refletindo, Deus oferece essa oportunidade às criaturas com ou sem invólucro carnal;
4) Pluralidade das existências: além de haver evidências científicas, a reencarnação é conseqüência da Justiça infinita do Criador;
5) Pluralidade dos mundos habitados: também cientificamente indicado e é explicação única para a evolução do Espírito imortal e utilidade dos astros.
           Inevitavelmente, como se poderia esperar, essas análises filosóficas conduziram o pensamento a posturas éticas da conduta humana. A dedução mais óbvia é a mudança de hábitos que tinham um embasamento racional dos materialistas. Diante da imortalidade e do entendimento melhor do Criador, formou-se uma atitude de religar a criatura ao Criador, justamente pela mudança ética e íntima do comportamento. A "Religião Espírita" como se caracteriza nesse momento, é o resultado, portanto, da transformação moral, porém interior, em busca da consciência universal de criatura imortal. Na prática, isso significa o reconhecimento da possibilidade de abandonar os rituais exteriores há muito ensinados, a concretização de uma fé racional "que enfrenta face a face a razão em todos os momentos da human
 idade", e, no desenvolvimento intelecto-moral da criatura, a síntese de todas os deveres humanos na prática da Caridade. Não é curioso, desse modo, que a esmagadora maioria de todos os Espíritos comunicantes de todos os tempos, os do século XIX, do século XX, de hoje e de sempre, identificam-se como embaixadores de Cristo entre os homens. Perante esse horizonte agora candidamente percebido, nunca ficou tão claro a moral e os ensinos de Jesus e seu Evangelho como roteiro ideal na estrada do progresso espiritual. 
           O Espiritismo é, assim, resultado da ruptura da pedra sepulcral espalhando a Verdade pura. Articula-se como uma Religião racional eminentemente libertadora e consoladora com a proposta de restabelecer os ensinamentos do Cristo em bases fortes de uma nova ciência rigorosa e de uma doutrina filosófica amplamente esclarecedora das dúvidas e angústias humanas. Essa integração abrange qualquer cultura humana por desvendar a nossa origem, destino e natureza, bem como nossa relação com a matéria. 
Referências bibliográficas: 
Kardec, Allan (1999) A Gênese, 19a Edição. LAKE. Cap. I, III e XI. 
Kardec, Allan (1999) O Livro dos Médiuns, 21a Edição. LAKE. 
Kardec, Allan (1862) Revista Espírita. 
Sausse, Henri. Biografia de Allan Kardec
Matheus Artioli Firmino
"Nascer, morrer, renascer ainda, e progredir sempre, tal é ¡ lei"
Allan Kardec.

Religião x Dinheiro

Sabemos que muitos se  embrenham nas Religiões, parcialmente ou unicamente visando o interesse financeiro. Nestes longos anos de aprendizado...