sexta-feira, 5 de junho de 2020

Magia Negra???? Por Sacerdote Alexandre Cumino

MAGIA NEGRA
Por Alexandre Cumino em 
Pombagira - A Deusa - Mulher Igual Você - Editora Madras
Magia Negra é o quê? Magia do mal? Magia do capeta, tinhoso, capiroto, cramunhão? Acostumamo-nos com palavras e um certo valor atribuído a elas sem questionamento.
Magia Negra é a Magia do Negro, e tudo que é negro já foi sinônimo de coisa ruim, do mal, negativo, degradante, perverso, atrasado, etc., por mais que alguma coisa tenha mudado, ainda é pouco. Parece sutil e é; no entanto, é nessa "sutileza" que mora o racismo, que se esconde, que passa despercebido para quem não é negra ou negro. É urgente uma correção dessa linguagem de significados racistas.
Se palavras com significado degradante insistem em
permanecer em nosso vocabulário, aí está o racismo e ninguém assume ou se dá conta. Muitas vezes, ao alertar, ouvimos: está chato! Se está chato para quem apenas ouve sobre isso, imagina como está chato para quem sofre há gerações e séculos após ser tratado como coisa. E ainda hoje é coisificado em meio a palavras distorcidas com seus significados pejorativos de raça e etnias.
Negro é etnia, raça, Magia Negra é a Magia do Negro.
Precisamos ressignificar palavras construídas a partir da realidade colonial patriarcal racista e escravagista. Não podemos mais aceitar que Magia Negra é sinônimo de Magia Negativa deve ser o termo correto.
Magia Negra deve ser a Magia da Negra, o que há de
mais forte em sua magia é o poder da palavra, a importância do verbo, da entonação e significado com valor atribuído. Sua palavra e sua magia se aplicam em rezas, fórmulas mágicas, encantos e feitiços.
Na cultura mágica religiosa de todas as diversas tradições negras africanas, a palavra é reconhecida como veículo de axé (poder de realização), portadora de encanto e encantamentos, ferramenta de feitiço e cura.
O entendimento desse poder é o suficiente observar a importância da palavra.
Esse saber é uma Magia Negra, Magia de Encanto,
Fascínio e Beleza.
Saber quais palavras devem ser evitadas é o mínimo
para leigos que têm um vago olhar na superfície do mistério que envolve a palavra.
Ao pronunciar algo, você é aquilo; saber parecido se
encontra na cultura hindu, na qual a repetição das palavras induz ao transe místico por meio das técnicas do mantra. O tom, timbre, frequência, intenção, interpretação, sentido do som e sua construção são matéria de milênios de estudo nessas duas culturas.
A cultura ocidental banalizou o poder da palavra, a
igreja sacralizou o latim, e demonizou os demais idiomas como profanos; algo semelhante ocorreu com o hebraico para os judeus, o sânscrito para os hindus e o yorubá para nigerianos.
Toda palavra e todo idioma têm seu poder, atribuído
pelo respeito que um mago, feiticeiro ou sacerdote carrega em cada uma de suas notas, assim como as construções musicais dessas tradições.
A Umbanda canta e reza em português e ensina o poder da palavra falada.
Não banalizar a palavra é não banalizar seu sentido; a
palavra é usada para determinar o que somos e quem são os outros.
Por isso, vamos nos atentar ao uso ordinário emprega-
do por certas palavras que persistem em alimentar e manter uma relação de poder e subjugação entre mentalidade colonial, patriarcado branco e o negro, ao reduzi-lo a um inconsciente coletivo, enquanto toda uma população consciente ou inconscientemente reproduz valores racistas, que permeiam o mundo contemporâneo.
Wittgenstein diz que "as fronteiras da minha lingua-
gem são as fronteiras do meu universo". Um feiticeiro diz que a palavra determina o que você é e reduz o outro ao que você pronuncia para ele. Esse é o poder do feitiço, muitas vezes para empoderar a palavra você reza para a divindade e usa uma semente sagrada na boca ao pronunciar.
E assim que, ao chamar uma mulher de mulata, você
a reduz a uma mula, a um animal híbrido, a uma mestiça, mistura de duas raças, uma superior com uma inferior.
Ao considerar que denegrir é um ato de diminuir algo,
você afirma que quanto mais negro menos bonito, menos importante, menos confiável, menor em todos os sentidos.
Afirmar que alguém é escravo o reduz a algo como
um bicho domado, domesticado e sob controle. O africano não foi escravo, ele foi escravizado.
Chamar um ser humano de macaco é sempre com intenção de ofender, agredir, injuriar, diminuir, reduzir alguém a uma coisa, um bicho, um símio.
Pior ainda quando assume a forma de "racismo recreativo", pior quando ironiza, quando se esconde por meio de uma pretensa liberdade de expressão que seja do humorista profissional à piada infame de seu amigo ou parente. Personagens como Mussum, Tião Macalé e Vera Verão fizeram parte de um tempo em que o humor de programas como Os Trapalhões e A Praça é Nossa reforçava o racismo e o sexismo. Em minha infância, em escola pública, era certo chegar a segunda-feira e ver meninos e meninas negros serem hostilizados, comparados aos personagens citados, os estudantes repetindo as "piadas" de mau gosto e
agredindo em função do gênero, do cabelo, da cor da pele. Crianças repetindo o que os adultos faziam como entretenimento de massa, em um canal de concessão pública em horário nobre.
Lembro-me ainda de uma fala que me marcou para sempre, em torno de 1995, aos 21 anos. Eu branco, na casa de um amigo branco, com outros amigos brancos e sua mãe branca, sentados à mesa sendo servidos por uma senhora negra. A mãe do amigo tentava dizer o quanto tinha apreço por aquela trabalhadora do lar, desdobrando-se em elogios vazios e frios, citando anos de trabalho em sua casa dedicados à sua família, dizendo inclusive que era “como se fosse da família". A senhora visivelmente cansada dessa falácia de décadas, servindo à mesa não tinha nenhum olhar de empatia com a "patroa", nenhum sorriso e nenhuma palavra. Eu já estava envolvido com a Umbanda e aprendendo a interpretar palavras, atitudes corporais e olhares. Foi então que a "patroa" fez o "elogio" derradeiro, o último golpe contra a mulher negra, afirmando: "esta é negra, de alma branca". Ali entendi meu desconforto
uma negra inicial, perdi o chão, mas infelizmente fiquei sem ação e sem palavras, só queria sair dali. Hoje não me calo mais, no entanto demorei a aprender meu lugar de fala.
O racismo é um sistema perverso que envolve toda uma nação, e tem por motivo manter um grupo racial (étnico) em posição inferior e subordinado ao outro. De maneira consciente ou inconsciente, isso é mantido por meio de conceitos, sentimentos, pensamentos, palavras e ações que determinam comportamento e hábito racista. É preciso descolonizar as mentes brancas, negras, amarelas e vermeIhas. A quem interessa essa cultura de opressão?
A quem interessa manter relações de opressão? A
quem interessa manter o negro subalterno? Quem se incomoda em ouvir sobre isso? Quem pede para não falar mais sobre isso?
Se incomoda ouvir sobre feminismo e racismo, imagine o quanto incomoda sentir na pele e em suas entranhas a discriminação e o preconceito constantes, estruturados no sistema social como um vírus, um câncer que se espalha, enquanto muitos dizem: não precisa tratar, pare de cuidar e quem sabe se resolve sozinho.
Essa terra foi roubada de seu dono, seu povo foi dizimado em um holocausto, seus bens naturais foram saqueados, outro povo foi escravizado e agredido de todas as formas, arrastado para cá por força de morte, extermínio e estupro de suas vidas e corpos.
Tudo isso realizado por coroas imperiais e a igre-
ja. Hoje se reconhece o crime? Onde está a indenização? Prescreveu? Três ou quatro gerações? E quando se fala em demarcação de terras indígenas ou sistema de cotas para negros em universidades parece um absurdo?
Onde está a consciência negra? Consciência branca?
Consciência indígena? Existe uma consciência umbandista?
Aprenda essa Magia Negra, Magia da Palavra, Magia
da Cultura, Magia de Conscientização!!! Magia de descolonização.
Empodere-se de cultura, história e acima de tudo se empodere da arte de descolonizar nossas mentes desse universo racista, machista, imperial, sexista, branqueador e, infelizmente, judaico-cristão patriarcal.
Um abraço Antonio, e tenha um ótimo final de semana!
Colégio Pena Branca

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Jorge Scritori

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