“Meu cachimbo tá no toco, manda muleque buscá…” SALVE NOSSOS PRETOS VELHOS!!

Arquétipo na Umbanda 
É de conhecimento de todos que os espíritos que trabalham na seara Umbandista trazem em suas manifestações, os trejeitos, o linguajar, os ensinamentos e as impressões conhecidas e presentes na cultura brasileira, esses “jeitos” ao qual as entidades se apresentam nós chamamos de arquétipos.
Desta forma, Caboclo é um arquétipo, Baiano é um arquétipo, Marinheiro é outro e assim acontece em todas as linhas de trabalho.
As linhas por sua vez, irão manifestar durante o trabalho as falanges (grupo de espíritos) pertencentes a esse arquétipo e grau evolutivo, pois os espíritos que trabalham sob a égide da Umbanda se agrupam em campos de atuação afins, ou seja, cada um tem uma “especialidade” e os que partilham dessa especialidade se unem formando as chamadas falanges.
Esse é o assunto tratado no texto O QUE É HIERARQUIA DE UMBANDA?, portanto vamos voltar aos arquétipos e explicar que: dizer que um espírito manifesta determinado arquétipo, não é dizer que ele foi necessariamente esse tipo de pessoa quando encarnado.
E dizendo isso, afirmamos que um Preto Velho pode ter sido sim, em uma de suas encarnações, um africano que passou pela escravidão em solo brasileiro, entretanto, isso não é uma regra e os arquétipos trazidos pelos guias durante a incorporação de Umbanda é uma homenagem, uma saudação e um reconhecimento desses mestres espirituais a todos os povos que representam nossa nação e compõe a identidade brasileira.
“O brasileiro ainda conserva desde o berço de sua raça a tendência fraterna e afetiva das três raças que cimentam a formação do seu temperamento e constituição psicológica. Do negro, ele herdou a resignação, a ingenuidade e a paciência.”
Norberto Peixoto

Por que Preto Velho? 
Muitos assumem um mesmo título de identificação (nome) e a mesma estrutura de forma plasmada (aparência), entretanto não respondem mais a raça, etnia, cor e particularidades da vida terrestre ou de suas encarnações, e por isso vão se identificar por propósitos e intenções que têm em comum.
Na linha de Preto Velho, convivemos e aprendemos com o arquétipo do negro escravizado que superou as atrocidades de seus algozes e com esse sentimento de perdão, transcendeu, e neste momento compartilha por meio da experiência mediúnica virtudes como a humildade, simplicidade, caridade, calma, evolução, paciência, seriedade que só um espírito de luz, carregado de amor tem para dividir.
Toda essa sabedoria e acolhimento característico do mistério dos Pretos Velhos não é vivenciada tão profundamente nas outras linhas de trabalho, porque esse é, por excelência, o campo de atuação dos espíritos que trazem esse arquétipo. Todos esses que vêm a linha de Umbanda são chamados de guias não à toa, mas por serem em si a manifestação de determinado mistério de Deus. Então estar na presença dos nossos amados Pretos Velhos é estar em comunhão com a própria sabedoria de Olorum exteriorizada e manifestada nesses trabalhadores do astral.
É por isso que quando temos a oportunidade de conversar, tomar um passe ou incorporar essas entidades estamos vivenciando e acrescentando às nossas vidas cada vez mais esses valores e virtudes. Saímos do terreiro carregados desses ensinamentos e vamos cada vez mais aprendendo e evoluindo nesse aspecto de nossa vida.
É comum na Umbanda a prática da benzedura pelos Pretos Velhos, curas e rezas características de povos que em suas medicinas informais e tradicionais e carregados de bons sentimentos, promoviam o tratamento de enfermidades de suas comunidades.
A cura é física, é emocional, é espiritual, é da alma e da carne. Do espírito e do âmago do nosso ser. Não importa como ela ocorra, se com um ramo de arruda ou com uma mironga de Nego Véio, também não importa a ferida curada, mas sim, os sentimentos depositados e transmitidos por esses velhos anciãos em cada passe e conversa com nós encarnados.
Quem se lembra da primeira conversa com uma Vovó? e no abraço reconfortante de um Pai Preto? ou a sensação de limpeza no momento que a fumaça que sai do cachimbo toca nosso corpo e purifica nossa alma?
Pai Alexandre Cumino fala sobre essa manifestação dizendo que a Linha de Preto Velhos traz consigo uma bagagem cheia de reflexões e autoanálises que implicam em nossas relações e valores quanto aos credos e raças, fazendo surgir também um questionamento sobre ‘o que são as nossas angústias?’ diante do sofrimento de quem já teve a humanidade roubada, restando apenas o título de mercadoria de outrem.
Pai Rodrigo Queiroz pontua sobre essas características no estudo Entidades de Umbanda e afirma:
As linhas de trabalho estão baseadas no arquétipo do povo brasileiro, são grupos de espíritos, em uma história e graus de evolução semelhantes que se congregam pelo ideal vibratório e evolutivo da Umbanda Astral.
Dentro disso, há terreiros que trabalham com a linha de marinheiros e outros não, como há terreiros que manifestam linhas diferentes do qual trabalhamos e o fato de uma determinada linha não se manifestar no terreiro que eu frequento não significa que ela não exista, que nós não precisamos entende-la ou que elas até mesmo não estejam inseridas no ritual.
Hoje 13 de Maio, dia da abolição da escravatura comemora-se na maioria dos terreiros de Umbanda a manifestação da linhagem do espírito que se fez presente já na primeira gira de Umbanda e nesta aparição se retirou da mesa justificando-se “nego num senta não meu sinhô, nego fica aqui mesmo. Isso é coisa de sinhô branco e nego deve arespeita” colocando em cheque valores, morais, condutas sociais e até mesmo um racismo velado ainda muito presente no social brasileiro.
YAÔ MEU PAI!
SALVE O MISTÉRIO ANCIÃO DA UMBANDA!!
SALVE NOSSOS PAIS E MÃES PRETOS!!
Texto: Júlia Pereira
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