Para refletir.
Você pode frequentar qualquer local em que se sinta bem, só não pode esquecer que um bom sentimento diante de uma igreja ou qualquer templo não é garantia de que tudo ali seja real e verdadeiro.
Isso pode ser uma cilada para a nossa consciência. Vejo muitas pessoas dizendo que devemos sempre frequentar os templos, igrejas e religiões em que nos sentimos bem. Sim, obviamente todos devem ir a lugares em que se sintam bem, pois não faz sentido irmos a uma igreja, um templo ou uma religião em que nos sintamos mal. É importante que estejamos em sintonia com aquilo que nos faz bem, nos faz felizes e nos faz sentir paz.
No entanto, dentro desse processo, é preciso reconhecer que o bem que nos proporciona uma religião, ou um centro, não é em hipótese alguma garantia daquilo ser verdadeiro. Podemos nos sentir bem em determinada igreja e ela ser liderada, por exemplo, por um pastor, um padre ou um médium picareta. O que isso significa? Uma pessoa pode se sentir bem nesse ambiente, mas deve tomar cuidado para não confundir esse sentir-se bem com acreditar que tudo ali está bem, que tudo ali é ótimo, que o líder do local em que nos sentimos bem é necessariamente bom, honesto e verdadeiro apenas porque nos transmite uma sensação boa e positiva. Nosso bem-estar pode vir do nosso contato conosco mesmos e com Deus naquele momento. isso não significa que o líder religioso é bom e maravilhoso apenas porque estamos em paz no lugar. Imagine que um morador de rua está com muita fome e vem um líder religioso e lhe dá um prato de comida. Era exatamente o que ele precisava naquele momento. Mas isso garante a idoneidade, honestidade e a sinceridade desse líder? Claro que não. O líder pode estar dando o prato de comida apenas porque deseja ser bem-visto pelos outros e pelos fiéis. Ele pode estar esperando que as obras sociais o tornem mais famoso; pode esperar que as pessoas o vejam como alguém muito bom, santo e caridoso. Assim ele não está pensando no bem das pessoas, mas sim na projeção de seu próprio nome, o que já tira todo mérito espiritual da boa ação. O mesmo ocorre com as religiões. Estamos com fome de Deus e das coisas espirituais. Quando um líder nos oferece algumas migalhas de um alimento emocional, nos sentimos bem temporariamente, mas depois continuamos famintos de novo. E nada disso nos dá a segurança dessa religião, doutrina ou templo ser o melhor, o mais verdadeiro, o mais próximo de Deus etc. Isso parece óbvio, mas a maioria das pessoas confunde as duas coisas. Enquanto o ser humano buscar uma mera satisfação pessoal nas religiões, ele jamais descobrirá a verdade. Mas quando ele estiver verdadeiramente aberto para as coisas como são, aí sim ele começara a perceber o eterno que está em tudo. Muitos acreditam que o nosso bem-estar com um templo faz com que o dirigente desse templo seja obrigatoriamente bom, elevado, pacífico etc. O que claramente pode não ser verdade.
“Você tem que ir num lugar em que se sente bem”, dizem alguns. Sim, pois ninguém em sã consciência vai num templo que não se sente bem. No entanto, é um erro medir a verdade da doutrina do templo pelo nosso sentimento de bem-estar e satisfação diante dele. O templo pode nos transmitir uma sensação boa e mesmo assim não ser verdadeiro, tudo ali ser falso… e isso é muito comum. Os cristãos sentem-se bem na igreja… os budistas no mosteiro… os muçulmanos na Mesquita… os judeus nas sinagogas… os hindus no ashram, e assim por diante. Cada adepto de sua religião sente-se bem no templo de sua religião, mas isso significa que toda a sua doutrina seja verdadeira apenas porque ele se sente bem? Obviamente que não… Por outro lado, muitos ateus sentem-se mal nos templos religiosos.. Isso significa que tudo ali seja falso e que Deus seja uma mentira? Também não.
O Hinduísmo não detém o status de verdade absoluta apenas porque centenas de milhões de pessoas sentem-se bem no ashram ou sentem-se bem e confortadas lendo seus textos sagrados. O Espiritismo não é mais verdadeiro do que qualquer outra religião apenas porque os espíritas sentem-se confortados e em paz com as descrições feitas sobre o plano espiritual. O Alcorão não é mais verdadeiro do que a Bíblia, ou do que os Vedas, ou do que a Torá ou do que os Evangelhos apenas porque os muçulmanos sentem-se bem ao ler o Alcorão. O Livro dos Espíritos tampouco é necessariamente mais verdadeiro do que outros textos sagrados apenas porque muitos espíritas sentem-se bem e em paz ao lê-lo. Assim como o Satanismo não faz satã ser mais poderoso do que Deus apenas porque um satanista gosta, sente-se bem, acredita e segue o Satanismo. Nenhuma sensação pessoal, positiva ou negativa, diante de uma religião é garantia da verdade ou mentira de qualquer coisa.
Da mesma forma, não se pode afirmar que a religião X é melhor para nós do que a religião Y apenas porque ela nos trouxe mais benefícios e ganhos. Um homem sente-se muito bem comendo carnes gordurosas e bebendo. No entanto, apesar deste bem-estar e prazer, isso significa que comer carnes gordurosas e beber é necessariamente o melhor para ele? Não… pois essas gorduras e o álcool podem estar entupindo suas veias e artérias e isso pode lhe proporcionar um AVC dentro de alguns anos. Esse AVC pode criar uma paralisia em seu organismo e o deixar incapaz de andar, por exemplo. O que era algo bom, prazeroso e que lhe proporcionava bem-estar acabou se tornando algo ruim no futuro. O mesmo pode ocorrer com uma religião onde os líderes nos manipulam. A pessoa pode se sentir bem no início, mas depois essa manipulação pode nos levar a perdas e criar consequências muito negativas em nossa vida. Por isso, mesmo que a princípio uma religião qualquer nos faça bem, nos proporcione ganhos, ou nos traga alguns benefícios… podemos estar cegos para algum mal que está crescendo e não o notamos, vindo a se tornar mais palpável no futuro.
Portanto, o estado de bem-estar ou prazer que sentimos ao frequentar um local de culto não é garantia da verdade de sua doutrina, nem do caráter ilibado de seus líderes e tampouco de que essa sensação boa não possa estar escondendo algum mal oculto. Vamos ficar muito atentos com isso… e jamais confundir a verdade das coisas com a nossa percepção ou sensação positiva ou negativa diante de templos, doutrinas, religiões e líderes. Na realidade, se uma pessoa se sente atraída por um templo, por exemplo, ela pode frequentar esse templo, mas é mais importante descobrir se o templo está próximo da verdade do que se inebriar com boas sensações que podem estar nos cegando para muitas coisas. Isso porque, uma doutrina pode, a princípio, nos causar mal-estar, por não estarmos dispostos a abandonar crenças anteriores a qual estávamos acostumados e conformados. Mas esse mal-estar gerado não significa que essa doutrina seja falsa ou perversa apenas porque não nos satisfaz. Ela pode ser mais verdadeira do que acreditamos. Dessa forma, não meça o verdadeiro ou o falso pelo bem ou mal-estar que isso lhe causa… A verdade pode nos causar mal-estar, assim como a mentira pode nos gerar prazer e bem-estar. Mas a verdade é a verdade, independente de como nós a captamos.
O fato de o leitor ter se sentido bem com esse texto também não é garantia que ele seja verdadeiro… e o fato de outro leitor ter se sentido mal com esse texto também não é igualmente garantia dele ser falso. Por isso, as pessoas precisam começar a buscar a verdade… e não buscar apenas o bem-estar, a satisfação pessoal. Somente quando a pessoa está completamente vazia de crenças, conceitos e opiniões; somente quando se esvazia totalmente de desejos de ganho, de paixões, de posses, de crenças e de verdades; somente assim, vazia de tudo, ela pode encontrar a verdade que não está em religiões, doutrinas, líderes ou templos, mas está em todas as coisas.
(Hugo Lapa)
Do livro: Luminosofia
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