A senhorinha e o diabo
Era uma vez uma senhora humilde, viúva, conhecida por sua fé inabalável. Apesar da vida simples e das dificuldades que enfrentava, ela nunca deixou de acreditar que Deus cuidava dela e de seus filhos. Certo dia, com a despensa vazia e os estômagos roncando de fome, a senhora se ajoelhou ao lado de seus filhos e orou com o coração aberto, dizendo:
— Senhor, tu conheces minha situação e sabes que não tenho nada para alimentar meus filhos. Peço, em nome do Teu amor, que nos socorras neste momento de necessidade.
As palavras da senhora tocaram o céu. Mas o que ela não sabia era que seu vizinho, um homem ateu e cético, havia escutado sua oração pela janela aberta. Ele, que sempre questionava a fé alheia e ria das preces que achava inúteis, teve uma ideia para zombar dela. Com um sorriso irônico, foi ao mercado, comprou alimentos e deu instruções ao entregador:
— Leve isso à casa da senhora ao lado e diga que é um presente do diabo.
O entregador, um tanto desconcertado, fez o que lhe foi pedido. Bateu à porta da casa da senhora, que prontamente atendeu. Ao ver a cesta cheia de mantimentos, seus olhos se encheram de lágrimas de gratidão. Ela segurou as mãos do entregador e agradeceu fervorosamente:
— Obrigada, Senhor! Eu sabia que não me abandonarias.
Surpreso, o entregador comentou:
— A senhora não quer saber quem enviou isso?
Ela sorriu, com uma confiança serena estampada no rosto, e respondeu:
— Não é necessário, meu jovem. Quando Deus manda, até o diabo obedece!
A notícia correu pela vizinhança, e o vizinho, que esperava vê-la desconfiada ou perturbada, ficou perplexo com sua reação. A senhora mostrou a todos que a fé verdadeira não se abala diante das circunstâncias, e que a providência divina encontra caminhos inesperados para agir. A partir daquele dia, muitos olharam para ela com admiração e renovaram suas próprias esperanças, lembrando que, nas mãos de Deus, até as forças que parecem contrárias podem ser instrumentos de Seu amor e cuidado.
(Contos populares; adaptação Hugo Lapa)