Porque Não Considerar o Espiritismo Como Religião?
Esperando que não me tomem por detrator da doutrina ou algo do tipo, pois estou apenas apresentando fatos históricos e etimológicos, trazidos por um professor e filólogo, que Rivail era, prossigo com mais fatos históricos, dessa vez apresentando o como e o porque do Espiritismo ter passado de “Doutrina Filosófica de Bases Cientificas e Conseqüências Morais”, assim definida por Kardec, a ser vista como “Ciência, Filosofia e Religião”, no Brasil.
No Brasil, o espiritismo entrou pela porta do misticismo, popularizando-se nas camadas sociais com substituto dos negros adivinhadores da senzala e dos magnetizadores, então em voga. A elite intelectual que a ele aderiu era constituída, em sua maioria, por religiosos que não renunciaram ao catolicismo, talvez porque – mesmo eles – não aceitavam-no como religião. Com o tempo, todavia, houve um sincretismo inevitável e o espírito de seita foi sendo formado, estilizando cultos e rituais das igrejas cristãs.
O que importa assinalar é que, como acentuou Carlos Imbassahy (o pai e não o filho), em sua obra “Religião”: “Allan Kardec é verdade, nunca chamou o Espiritismo propriamente de religião” (página 108, 2ª edição – 1951 – FEB). Ao contrário. Quem disse, foram os espíritas brasileiros e suas organizações. Alguns como o próprio Imbassahy, J. Herculano Pires e Deolindo Amorim, com admirável contribuição intelectual ou, entre os desencarnados, o espírito de Emmanuel, que através do médium Francisco Candido Xavier, lançou seu famoso triângulo, definindo o espiritismo como “ciência, filosofia e religião”, dando a esta última a primazia, o que foi considerado verdade final pelos organismos federativos do movimento.
No Brasil, o espiritismo entrou pela porta do misticismo, popularizando-se nas camadas sociais com substituto dos negros adivinhadores da senzala e dos magnetizadores, então em voga. A elite intelectual que a ele aderiu era constituída, em sua maioria, por religiosos que não renunciaram ao catolicismo, talvez porque – mesmo eles – não aceitavam-no como religião. Com o tempo, todavia, houve um sincretismo inevitável e o espírito de seita foi sendo formado, estilizando cultos e rituais das igrejas cristãs.
O que importa assinalar é que, como acentuou Carlos Imbassahy (o pai e não o filho), em sua obra “Religião”: “Allan Kardec é verdade, nunca chamou o Espiritismo propriamente de religião” (página 108, 2ª edição – 1951 – FEB). Ao contrário. Quem disse, foram os espíritas brasileiros e suas organizações. Alguns como o próprio Imbassahy, J. Herculano Pires e Deolindo Amorim, com admirável contribuição intelectual ou, entre os desencarnados, o espírito de Emmanuel, que através do médium Francisco Candido Xavier, lançou seu famoso triângulo, definindo o espiritismo como “ciência, filosofia e religião”, dando a esta última a primazia, o que foi considerado verdade final pelos organismos federativos do movimento.
Muitos se perguntarão se, diante do posicionamento de Emmanuel, Chico Xavier, Herculano, Deolindo e outros, haveria lugar para dúvida. A resposta é afirmativa. Porque é preciso repensar aquilo que foi estruturado no Brasil, com o nome de espiritismo e perguntar por que, ao cabo de mais de 150 anos, a doutrina continua sem identificação, confundida, adjetivada, mutilada, cada vez mais distante do genuíno pensamento kardequiano, como, curiosamente, os mesmos líderes e escritores mencionados, não cansam de denunciar.
È preciso encarar realística e sensatamente a verdadeira face o movimento espírita brasileiro e compará-la com a estrutura doutrinaria estabelecida por Allan Kardec e separar, refletir sobre o resultado prático alcançado. Reconhecer, enfim, que o espiritismo no Brasil foi erguido sobre bases de opiniões, ainda que respeitáveis, de espíritos e líderes que, todavia, refletiram não apenas suas idiossincrasia, mas também o ambiente cultural da sociedade brasileira desde o século passado, pelo menos.
Mas o espiritismo brasileiro também tem a sua historia particular. Quem leu já os excelentes livrinhos de Canuto de Abreu e Acquarone, biografando Bezerra de Menezes, há de ter-se espantado com a complicação que era o ambiente nacional, nos primórdios da doutrina. Dividiamo-nos em partidos que se desentendiam francamente. Havia os “místicos” e os “científicos”, os “espíritas” e os “Kardecistas”. (Lembra os religiosos e os ortodoxos de hoje, não?)
Muito mais tarde vamos encontrar o espiritismo dividido em “alto” e “baixo”, de “mesa” e de “terreiro”, com a introdução do complicador que foi o sincretismo. Havia quem dissesse das “linhas”, a branca, a oriental, a indiana e por aí a fora. Essa polarização e radicalização é que, antes da virada do século, levou a impasses fortes, que provocaram a formação da atual Federação Espírita Brasileira
È preciso encarar realística e sensatamente a verdadeira face o movimento espírita brasileiro e compará-la com a estrutura doutrinaria estabelecida por Allan Kardec e separar, refletir sobre o resultado prático alcançado. Reconhecer, enfim, que o espiritismo no Brasil foi erguido sobre bases de opiniões, ainda que respeitáveis, de espíritos e líderes que, todavia, refletiram não apenas suas idiossincrasia, mas também o ambiente cultural da sociedade brasileira desde o século passado, pelo menos.
Mas o espiritismo brasileiro também tem a sua historia particular. Quem leu já os excelentes livrinhos de Canuto de Abreu e Acquarone, biografando Bezerra de Menezes, há de ter-se espantado com a complicação que era o ambiente nacional, nos primórdios da doutrina. Dividiamo-nos em partidos que se desentendiam francamente. Havia os “místicos” e os “científicos”, os “espíritas” e os “Kardecistas”. (Lembra os religiosos e os ortodoxos de hoje, não?)
Muito mais tarde vamos encontrar o espiritismo dividido em “alto” e “baixo”, de “mesa” e de “terreiro”, com a introdução do complicador que foi o sincretismo. Havia quem dissesse das “linhas”, a branca, a oriental, a indiana e por aí a fora. Essa polarização e radicalização é que, antes da virada do século, levou a impasses fortes, que provocaram a formação da atual Federação Espírita Brasileira
A crônica nesses dias, em matéria documental, é produzida por partidários da facção que predominou. Os místicos, religiosos, evangélicos, como se denominavam, conseguiram impor-se, menos pelas razoes próprias que os amparassem de modo inconfundível, do que pelos erros e desorientação dos que foram alijados.
É preciso compreender como eram as coisas, então. O espiritismo era visto daqui, com fumaças e neblinas de desinformação. Era um pensamento francês, um requintado pensamento francês, donde vinham todos os demais que alimentavam a mentalidade brasileira, que habitava cabeças mais próprias para ostentar melenas e chapéus elegantes, do que, realmente, para pensar em profundidade.
Superficialismo, frivolidade e muita alienação cultural, adornavam a rarefeita vida intelectual do país. A base escravocrata, na aristocracia rural, rebaixava-nos como povo. Os livros de Kardec, embora conhecidos desde quase sua publicação inicial, somente foram traduzidos em 1875, dezoito anos depois e assim mesmo nem todos, nem na proporção e preço exigidos, para que se produzisse a informação plena.
Pode dizer-se que se entendia, então, o espiritismo, pela metade, filtrado pelas predisposições mentais de cada um, dominada que era nossa sociedade pelo imperialismo sectário da religião católica. Havia tanta desinformação que os adeptos viviam espantosamente incientes da natureza real daquilo que freqüentavam e diziam professar.
Os nomes de centros refletem essa perplexidade. São típicos produtos de mistura de catolicismo com outros elementos. Tipicamente religiosos.
O elemento intelectualizado, a elite que sustentava a comunicação, na tribuna, na imprensa, nos panfletos passados de mão em mão, também cindia-se.
Ou adotavam uma linha puramente literária ou confiavam-se a piedosas dissertações, copiando senão o fundo, pelo menos a forma dos discursos sacros.
Acquarone é mais objetivo que Canuto, mas ambos concordam que reinava um desafinamento total nessa orquestra de adeptos.
É preciso compreender como eram as coisas, então. O espiritismo era visto daqui, com fumaças e neblinas de desinformação. Era um pensamento francês, um requintado pensamento francês, donde vinham todos os demais que alimentavam a mentalidade brasileira, que habitava cabeças mais próprias para ostentar melenas e chapéus elegantes, do que, realmente, para pensar em profundidade.
Superficialismo, frivolidade e muita alienação cultural, adornavam a rarefeita vida intelectual do país. A base escravocrata, na aristocracia rural, rebaixava-nos como povo. Os livros de Kardec, embora conhecidos desde quase sua publicação inicial, somente foram traduzidos em 1875, dezoito anos depois e assim mesmo nem todos, nem na proporção e preço exigidos, para que se produzisse a informação plena.
Pode dizer-se que se entendia, então, o espiritismo, pela metade, filtrado pelas predisposições mentais de cada um, dominada que era nossa sociedade pelo imperialismo sectário da religião católica. Havia tanta desinformação que os adeptos viviam espantosamente incientes da natureza real daquilo que freqüentavam e diziam professar.
Os nomes de centros refletem essa perplexidade. São típicos produtos de mistura de catolicismo com outros elementos. Tipicamente religiosos.
O elemento intelectualizado, a elite que sustentava a comunicação, na tribuna, na imprensa, nos panfletos passados de mão em mão, também cindia-se.
Ou adotavam uma linha puramente literária ou confiavam-se a piedosas dissertações, copiando senão o fundo, pelo menos a forma dos discursos sacros.
Acquarone é mais objetivo que Canuto, mas ambos concordam que reinava um desafinamento total nessa orquestra de adeptos.
É perigoso julgar uma época como aquela, pelo risco de injustiçar. Hoje contamos com um formidável arsenal de instrumentos de analise e correção de rumo, que fazem a razão independer da tutela religiosa, mas naquele tempo pouco se podia fazer.
O roustainguismo foi mais assimilado pelas pessoas que vinham do catolicismo, tinham a mente obnubilada por preconceitos e bloqueios. O roustainguismo falava de coisas familiares. O culto da Virgem Maria, a proposta piedosa, as imagens da sua retórica toda sacralista.
Havia toda uma crosta de equívocos e mal entendidos no ar, impossíveis de serem desfeitos. Tendo faltado a esses veneráveis fundadores do movimento uma visão mais límpida, ficou-se com a impressão errônea de que Kardec era “científico” ao passo que Roustaing era mais “evangélico”.
Também deve-se reconhecer que os chamados “científicos”, costumavam descomedir-se, exceder-se, com insistências e elitismos, realismos incríveis, que terminaram justificando boa parte dos reparos que até hoje são-lhes desfechados. Os extremismos e radicalismos nunca conduzem a bons resultados, e o que deu foi se cavar, lentamente, o fosso de incompatibilidades e incompreensões, onde dificilmente se pode dar razão completa a cada um dos lados. (Novamente, não lembram os Espiritas religiosos e os Espiritas ortodoxos de hoje, ambos radicalizando em seus pontos de vista e achando que estão certos e o outro lado errado?)
Por volta dos anos 30, a situação política do Brasil era peculiar. Seguindo a onde universal dos regimes de direita, a ditadura de Vargas instalara-se apos a Revolução, que derrubara a Republica Velha, sob vibrações de justas esperanças.
Era um regime de exceção onde, à falta das claridades solares da lei, livremente fabricada em legislativos eleitos pelo voto livre do povo, com representação autenticamente democrática, pululavam os cogumelos e demais fungos típicos da sombra do arbítrio, as excrescências das ditaduras, afinal.
O roustainguismo foi mais assimilado pelas pessoas que vinham do catolicismo, tinham a mente obnubilada por preconceitos e bloqueios. O roustainguismo falava de coisas familiares. O culto da Virgem Maria, a proposta piedosa, as imagens da sua retórica toda sacralista.
Havia toda uma crosta de equívocos e mal entendidos no ar, impossíveis de serem desfeitos. Tendo faltado a esses veneráveis fundadores do movimento uma visão mais límpida, ficou-se com a impressão errônea de que Kardec era “científico” ao passo que Roustaing era mais “evangélico”.
Também deve-se reconhecer que os chamados “científicos”, costumavam descomedir-se, exceder-se, com insistências e elitismos, realismos incríveis, que terminaram justificando boa parte dos reparos que até hoje são-lhes desfechados. Os extremismos e radicalismos nunca conduzem a bons resultados, e o que deu foi se cavar, lentamente, o fosso de incompatibilidades e incompreensões, onde dificilmente se pode dar razão completa a cada um dos lados. (Novamente, não lembram os Espiritas religiosos e os Espiritas ortodoxos de hoje, ambos radicalizando em seus pontos de vista e achando que estão certos e o outro lado errado?)
Por volta dos anos 30, a situação política do Brasil era peculiar. Seguindo a onde universal dos regimes de direita, a ditadura de Vargas instalara-se apos a Revolução, que derrubara a Republica Velha, sob vibrações de justas esperanças.
Era um regime de exceção onde, à falta das claridades solares da lei, livremente fabricada em legislativos eleitos pelo voto livre do povo, com representação autenticamente democrática, pululavam os cogumelos e demais fungos típicos da sombra do arbítrio, as excrescências das ditaduras, afinal.
Vargas já tem os seus críticos e analistas, não irei engrossar esse número. Quero só dizer que Robert M. Levine, um brazilianist americano, portanto um daqueles que sabem das coisas, no seu livro, “O Regime de Vargas”, edição da “Nova Fronteira”, refere que a Igreja Católica, grande amiga e beneficiária de todos os totalitarismos, exigia e obtinha, do ditador, sempre que queria, o fechamento sumario de centros espíritas.
Que foi assim em 30, 32, 35, 37 e 38. quem o diz é um brazilianist, que afinal sabem mais do Brasil do que nos mesmos.
O fato é que o relacionamento entre o governo, a sociedade e o espiritismo foi pontilhado de lamentáveis incidentes e excessos perfeitamente dispensáveis, provocado pelo religiosismo sectário e intolerante, de um lado; de outro, pela eterna covardia moral e despreparo crônico das chamadas autoridades competentes, para administrar a coisa pública, principalmente a convivência entre as correntes de opinião.
Dirigentes e médiuns, freqüentadores de centros, eram presos arbitrariamente e fichados, numa vergonhosa rotina de cerceamento da liberdade de consciência e de reunião, mesmo sendo desarmada, para fins pacíficos, como rezava a Lei, mesmo a legalidade relativa das constituições suspensas e substituídas por decretos- leis.
A comunicação espírita arrisca-se a desmemória total do esforço e das abnegações desses confrades corajosos, íntegros, prudentes e humildes, que Deolindo Amorim evoca, salvando para a posteridade seus nomes.
Em meio a essa crise, um alvitre terá brotado, em certos círculos, como um achado: os cultos, as religiões, eram protegidos por lei, que lhes garantia o exercício.
Ora, o espiritismo era uma religião, (pensamento dominante nos círculos onde teria brotado o alvitre); logo, estaria protegido pelo manto da legalidade.
Que foi assim em 30, 32, 35, 37 e 38. quem o diz é um brazilianist, que afinal sabem mais do Brasil do que nos mesmos.
O fato é que o relacionamento entre o governo, a sociedade e o espiritismo foi pontilhado de lamentáveis incidentes e excessos perfeitamente dispensáveis, provocado pelo religiosismo sectário e intolerante, de um lado; de outro, pela eterna covardia moral e despreparo crônico das chamadas autoridades competentes, para administrar a coisa pública, principalmente a convivência entre as correntes de opinião.
Dirigentes e médiuns, freqüentadores de centros, eram presos arbitrariamente e fichados, numa vergonhosa rotina de cerceamento da liberdade de consciência e de reunião, mesmo sendo desarmada, para fins pacíficos, como rezava a Lei, mesmo a legalidade relativa das constituições suspensas e substituídas por decretos- leis.
A comunicação espírita arrisca-se a desmemória total do esforço e das abnegações desses confrades corajosos, íntegros, prudentes e humildes, que Deolindo Amorim evoca, salvando para a posteridade seus nomes.
Em meio a essa crise, um alvitre terá brotado, em certos círculos, como um achado: os cultos, as religiões, eram protegidos por lei, que lhes garantia o exercício.
Ora, o espiritismo era uma religião, (pensamento dominante nos círculos onde teria brotado o alvitre); logo, estaria protegido pelo manto da legalidade.
Por que não confugir ao patrocínio da lei? Por que não refugiar-se sob sua proteção? Bastaria enfatizar o pretendido aspecto religioso, para o que não se precisaria fazer nenhum esforço especial, tão difuso era esse pensamento, entre os confrades, sinceros, bem intencionados.
É difícil resistir quando uma sugestão dessas vem vestida com tanta aparência de racionalidade, de sorte que muitos não teriam desadorado o lembrete.
Afinal, tínhamos compromisso com os pobres, os deserdados, os necessitados, aspirávamos a uma situação de legalidade e tranqüilidade, não de clandestinidade, não de martirológios.
A idéia pousou com a naturalidade das soluções sem alternativa, como se fosse a única, a mais acertada, a mais confiável.
Mas não era. Era mais parecido com a velha historia de Esaú e Jacob, quando o primeiro cedeu ao mais jovem o direito de primogenitura, através da barganha de um “prato de lentilhas” com seu irmão. O “prato de lentilhas” barganhado passou como símbolo da irreflexão que se tem quando se aliena um bem valioso, importante, capital, por coisas sem valor, num momento de precipitação, explorado pelo oportunismo, pela velhacaria.
Essa barganha é uma imagem literária de citação obrigatória, aqui, pois foi
assim que se consolidou, entre nós, a fantasia do religiosismo.
Pelo menos é o que se alega ter sido a razão da opção que se fez pelo religiosismo, como uma defesa contra pressões, por meio de uma mimetização com as religiões.
Para a corrente roustainguista, sincera e respeitável sempre, na coerência que mostrater com seu pensamento em separado, que é o de achar válida a teoria do díscolo de Kardec – aquela idéia caiu como sopa no mel.
Era a promoção de sua ideologia ao estagio de artigo de necessidade.
É difícil resistir quando uma sugestão dessas vem vestida com tanta aparência de racionalidade, de sorte que muitos não teriam desadorado o lembrete.
Afinal, tínhamos compromisso com os pobres, os deserdados, os necessitados, aspirávamos a uma situação de legalidade e tranqüilidade, não de clandestinidade, não de martirológios.
A idéia pousou com a naturalidade das soluções sem alternativa, como se fosse a única, a mais acertada, a mais confiável.
Mas não era. Era mais parecido com a velha historia de Esaú e Jacob, quando o primeiro cedeu ao mais jovem o direito de primogenitura, através da barganha de um “prato de lentilhas” com seu irmão. O “prato de lentilhas” barganhado passou como símbolo da irreflexão que se tem quando se aliena um bem valioso, importante, capital, por coisas sem valor, num momento de precipitação, explorado pelo oportunismo, pela velhacaria.
Essa barganha é uma imagem literária de citação obrigatória, aqui, pois foi
assim que se consolidou, entre nós, a fantasia do religiosismo.
Pelo menos é o que se alega ter sido a razão da opção que se fez pelo religiosismo, como uma defesa contra pressões, por meio de uma mimetização com as religiões.
Para a corrente roustainguista, sincera e respeitável sempre, na coerência que mostrater com seu pensamento em separado, que é o de achar válida a teoria do díscolo de Kardec – aquela idéia caiu como sopa no mel.
Era a promoção de sua ideologia ao estagio de artigo de necessidade.
O espiritismo “tinha de” ser religioso, numa injunção, para por-se a salvo de perseguições, gozar dos mesmos direitos que as “demais” religiões, as “outras” religiões (é assim que costumam dizer nessa área).
Para a massa de adeptos, cujo raciocínio é místico, limitado a encarar o espiritismo como uma religião sucedânea da sua fé anterior, tudo estava bem. O enquadramento da doutrina nesse termos dispensava todo mundo da obrigação de mudar, de reciclar seu intimo par adaptar-se ao fato novo; este sim, o espiritismo, é que estaria sofrendo uma mudança para adaptar-se ao gostinho acomodatício dos adeptos.
Tudo não passava de uma colossal mimetização.
Enquanto a área religiosa da comunidade, encabeçada pela venerável Federação Espírita Brasileira, sentia-se à vontade com essa forma mimetista, que afinal casava-se com seu propósito natural, já que roustainguismo é uma visão confessionalista – a outra área não roustainguista, que era quase que só a Liga Espírita do Brasil, teve a lucidez de gerar outro tipo de reação, uma providência muito mais eficaz, que passava bem ao largo dessa mimetização.
Para esta área, aquela emenda sairia bem pior que o soneto, pois o espiritismo, uma vez nivelado, por oportunismo, com os cultos, assemelhado a eles, do ponto de vista de proteção legal,podia ser isso uma solução de ocasião,mas no fundo representaria um lamentável desprezamento da Codificação, que se opunha, como se sabe, a qualquer confusão naquele sentido.
Esaú, vendendo seus direitos por um prato de lentilhas, matou sua fome no momento mas alienou vantagens e interesses de grande importância e significação para sempre.
O espiritismo aceitando ser visto como religião para fugir a perseguições, poderia gozar uma relativa calmaria – por quanto tempo? – mas trairia seu permanente compromisso de lealdade a Kardec, que expressamente desautorizava tal transigência.
Para a massa de adeptos, cujo raciocínio é místico, limitado a encarar o espiritismo como uma religião sucedânea da sua fé anterior, tudo estava bem. O enquadramento da doutrina nesse termos dispensava todo mundo da obrigação de mudar, de reciclar seu intimo par adaptar-se ao fato novo; este sim, o espiritismo, é que estaria sofrendo uma mudança para adaptar-se ao gostinho acomodatício dos adeptos.
Tudo não passava de uma colossal mimetização.
Enquanto a área religiosa da comunidade, encabeçada pela venerável Federação Espírita Brasileira, sentia-se à vontade com essa forma mimetista, que afinal casava-se com seu propósito natural, já que roustainguismo é uma visão confessionalista – a outra área não roustainguista, que era quase que só a Liga Espírita do Brasil, teve a lucidez de gerar outro tipo de reação, uma providência muito mais eficaz, que passava bem ao largo dessa mimetização.
Para esta área, aquela emenda sairia bem pior que o soneto, pois o espiritismo, uma vez nivelado, por oportunismo, com os cultos, assemelhado a eles, do ponto de vista de proteção legal,podia ser isso uma solução de ocasião,mas no fundo representaria um lamentável desprezamento da Codificação, que se opunha, como se sabe, a qualquer confusão naquele sentido.
Esaú, vendendo seus direitos por um prato de lentilhas, matou sua fome no momento mas alienou vantagens e interesses de grande importância e significação para sempre.
O espiritismo aceitando ser visto como religião para fugir a perseguições, poderia gozar uma relativa calmaria – por quanto tempo? – mas trairia seu permanente compromisso de lealdade a Kardec, que expressamente desautorizava tal transigência.
Era uma questão de princípios. A mimetização só interessava realmente a quem já tinha assentado no seu intimo que o espiritismo era mesmo um culto religioso, uma visão opiniática, sem dúvida, pois nao é essa a expressa realidade da Codificação.
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