Umbanda |
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22 Feb 2014 04:48 AM PST
Léon Denis (lê-se: dení) nasceu numa aldeia
chamada Foug, situada nos arredores de Tours, na França, em 1º de janeiro de
1846, numa família humilde. Cedo conheceu, por necessidade, os trabalhos manuais
e os pesados encargos da família. Desde os seus primeiros passos neste mundo,
sentiu que os amigos invisíveis o auxiliavam. No lugar de participar em
brincadeiras próprias da juventude, procurava instruir-se o mais possível. Lia
obras sérias, conseguindo assim, com esforço próprio, desenvolver sua
inteligência. Tornou-se um autodidata sério e
competente.
Aos 18 anos, tornou-se representante comercial da
empresa onde trabalhava, fato que o obrigava a viagens constantes, situação que
se manteve até à sua reforma e manteve ainda depois por mais algum tempo.
Adorava a música e sempre que podia assistia a uma ópera ou concerto. Gostava de
dedilhar, ao piano, árias conhecidas e de tirar acordes para seu próprio
devaneio. Não fumava, era quase exclusivamente vegetariano e não fazia uso de
bebidas fermentadas. Encontrava na água a sua bebida
ideal.
Era seu hábito olhar, com interesse, para os livros
expostos nas livrarias. Um dia, ainda com 18 anos, o chamado acaso fez com que a
sua atenção fosse despertada para uma obra de título inusitado. Esse livro
era O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec. Dispondo do dinheiro
necessário, comprou-o e, recolhendo-se imediatamente ao lar, entregou-se com
avidez à leitura. O próprio Denis disse:
Nele encontrei a solução clara, completa e lógica,
acerca do problema universal. A minha convicção tornou-se firme. A teoria
espírita dissipou a minha indiferença e as minhas dúvidas.
O ano de 1882 marca, em realidade, o início do seu
apostolado, durante o qual teve de enfrentar sucessivos obstáculos: o
materialismo e o positivismo que olham para o Espiritismo com ironia e risadas e
os crentes das demais correntes religiosas, que não hesitam em aliar-se aos
ateus, para o ridicularizar e enfraquecer. Léon Denis, porém, como bom paladino,
enfrenta a tempestade. Os companheiros invisíveis colocam-se ao seu lado para o
encorajar e exortá-lo à luta. Coragem, amigo − diz-lhe o
Espírito de Jeanne − estaremos sempre contigo para te sustentar e
inspirar. Jamais estarás só. Meios ser-te-ão dados, em tempo, para bem cumprires
a tua obra.
A 2 de novembro, de 1882, dia de Finados, um evento
de capital importância produziu-se na sua vida: a manifestação, pela primeira
vez, daquele Espírito que, durante meio século, havia de ser o seu guia, o seu
melhor amigo, o seu pai espiritual − Jerônimo
de Praga −, que lhe disse: Vai, meu filho, pela estrada
aberta diante de ti. Caminharei atrás de ti para te
sustentar.
A partir de 1910, a visão de Léon Denis foi, dia após
dia, enfraquecendo. A operação a que se submetera, dois anos antes, não lhe
proporcionara nenhuma melhora, mas suportava, com calma e resignação, a marcha
implacável desse mal que o castigava desde a juventude. Aceitava tudo com
estoicismo e resignação. Jamais o viram queixar-se. Todavia, é possível supor
quão grande devia ser o seu sofrimento. Apesar disso, mantinha volumosa
correspondência. Jamais se aborrecia; amava a juventude e possuía a alegria da
alma. Era inimigo da tristeza. O mal físico, para ele, devia ser bem menor do
que a angústia que experimentava pelo fato de não mais poder manejar a pena.
Secretárias ocasionais substituíam-no nesse ofício. No entanto, a grande
dificuldade para Denis, consistia em rever e corrigir as novas edições dos seus
livros e dos seus escritos. Graças, porém, ao seu espírito de ordem e à sua
incomparável memória, superava todos esses contratempos, sem molestar ou
importunar os amigos.
Após a I Grande Guerra, aprendeu braille, o que
lhe permitiu fixar no papel os elementos de capítulos ou artigos que lhe vinham
ao Espírito, pois, nesta época da sua vida, estava, por assim dizer, quase
cego.
Em março de 1927, com 81 anos de idade, terminara o
manuscrito que intitulou de O Gênio Céltico e o Mundo Invisível. Neste
mesmo mês, a Revue Spirite publicava o seu derradeiro
artigo.
Terça-feira, 12 de março, de 1927, pelas 13 horas,
respirava Denis com grande dificuldade. A pneumonia atacava-o novamente. A vida
parecia abandoná-lo, mas o seu estado de lucidez era perfeito. As suas últimas
palavras, pronunciadas com extraordinária calma, apesar da muita dificuldade,
foram dirigidas à sua empregada Georgette: É preciso terminar, resumir e...
concluir. Fazia alusão ao prefácio da nova edição biográfica de Kardec.
Neste preciso momento, faltaram-lhe completamente as forças, para que pudesse
articular outras palavras. Às 21h o seu Espírito alou-se. O seu semblante
parecia ainda em êxtase.
As cerimônias fúnebres realizaram-se a 16 de abril. A
seu pedido, o enterro foi modesto e sem o ofício de qualquer Igreja
confessional. Está sepultado no cemitério de La Salle, em
Tours.
Dentre os grandes apóstolos do Espiritismo, a figura
exponencial de Léon Denis merece referência toda especial, principalmente em
vista de ter sido o continuador lógico da obra de Allan Kardec. É possível
afiançar mesmo que constitui tarefa sumamente difícil tentar biografar essa
grande vida, dada a magnitude de sua missão terrena, na qual muito há para
salientar: a sua personalidade contagiante, o bom senso de que era dotado, a
operosidade no trabalho, a dedicação ímpar aos seus semelhantes e o depurado
amor que devotava aos ideais que esposava.
Léon Denis foi o consolidador do Espiritismo. Não foi
apenas o substituto e continuador de Allan Kardec, como geralmente se pensa.
Denis tinha uma missão quase tão grandiosa quanto à do Codificador. Cabia-lhe
desenvolver os estudos doutrinários, dar continuidade às pesquisas mediúnicas,
impulsionar o movimento espírita na França e no Mundo, aprofundar o aspecto
moral da Doutrina e, sobretudo, consolidá-la nas primeiras décadas do século.
Nessa nova Bíblia (o Espiritismo), o papel de Kardec é o de sábio e o papel de
Denis é o de filósofo. Léon Denis foi cognominado o Apóstolo do
Espiritismo pela magnífica atuação desenvolvida, pela palavra escrita e
falada, em favor da nova Doutrina. Ainda, foi o seu consolidador e, por isso,
conhecido como o filósofo do Espiritismo. De acentuadas qualidades
morais, dedicou toda uma longa vida à defesa dos postulados que Kardec
transmitira nos livros do pentateuco espírita. O aspecto moral (religioso) da
Doutrina, os princípios superiores da Vida, a instrução, a família mereceram
dele cuidados extremos e, por isso mesmo, sua vida de provações. Seu exemplo de
trabalho, perseverança e fé é um roteiro de luz para os espíritas, e mais, para
os homens de bem de todos os tempos. Em palavras de confiança e fé, ele mesmo
resumiu assim a missão que viera desempenhar em favor de uma nobre
causa: Consagrei esta existência ao serviço de uma grande causa, o
Espiritismo ou Espiritualismo moderno, que será certamente a crença universal, a
religião do futuro.
A sua bibliografia é bastante vasta e composta de obras
monumentais que enriquecem as bibliotecas espíritas. Deve-se a ele a
oportunidade ímpar que os espíritas tiveram de ver ampliados novos ângulos do
aspecto filosófico da Doutrina Espírita, pois as suas obras de um modo geral
focalizam numerosos problemas que assolam os homens e também a sempre momentosa
questão da sobrevivência da alma humana em seu laborioso processo evolutivo.
Léon Denis imortalizou-se na gigantesca tarefa de dissecar problemas atinentes
às aflições que acometem os seres encarnados, fornecendo valiosos subsídios no
sentido de lançar novas luzes sobre a problemática das tribulações terrenas,
deixou de lado os conceitos até então prevalecentes para apresentá-la aureolada
de ensinamentos altamente consoladores, hauridos nas fontes inesgotáveis da
Doutrina dos Espíritos.
Dedicando-se ao estudo aprofundado do Espiritismo, em
seu tríplice aspecto de ciência, filosofia e religião, demorou-se com maior
persistência na abordagem do seu aspecto filosófico. Concomitantemente com os
seus profundos estudos nesse campo, também deu a sua contribuição valiosa na
abordagem e no estudo de assuntos históricos, fornecendo importantes subsídios
no sentido de esclarecer as origens celtas da França e no tocante ao dramático
episódio do martírio de Joana D'Arc, a grande médium francesa. Seus estudos não
pararam aí; ele preocupou-se sobremaneira com as origens do Cristianismo e o seu
processo evolutivo através dos tempos.
Dentre as suas múltiplas ocupações, foi presidente de
honra da União Espírita Francesa, membro honorário da Federação Espírita
Internacional, presidente do Congresso Espírita Internacional, realizado
em Paris, no ano de 1925. Teve também a oportunidade de dirigir, durante longos
anos, um grupo experimental de Espiritismo, na cidade francesa de
Tours.
A sua atuação no seio do Espiritismo foi bastante
diversa daquela desenvolvida por Allan Kardec. Enquanto o Codificador exerceu
suas nobilitantes atividades na própria capital francesa, Léon Denis desempenhou
a sua dignificante tarefa na província. A sua inusitada capacidade intelectual e
o descortino que tinha das coisas transcendentais, fizeram com que o movimento
espírita francês, e mesmo mundial, gravitasse em torno da cidade de Tours. Após
a desencarnação de Allan Kardec, essa cidade tornou-se o ponto de convergência
de todos os que desejavam tomar contato com o Espiritismo, recebendo as luzes do
conhecimento, pois, inegavelmente, a plêiade de Espíritos que tinha por
incumbência o êxito de processo de revelação do Espiritismo, levou ao grande
apóstolo toda a sustentação necessária a fim de que a nova doutrina se firmasse
de forma ampla e irrestrita.
Enquanto Kardec se destacou como uma personalidade de
formação universitária, que firmou seu nome nas letras e nas ciências, antes de
se dedicar às pesquisas espíritas e codificar o Espiritismo, Léon Denis foi um
autodidata que se preparou em silêncio, na obscuridade e na pobreza material,
para surgir subitamente no cenário intelectual e impor-se como conferencista e
escritor de renome, tornando-se figura exponencial no campo da divulgação
doutrinária do Espiritismo. Denis possuía uma inteligência robusta, era um
Espírito ilustre, grande orador e escritor, desfrutando de apreciável grau de
intuição. Referindo-se a ele, escreveu o seu contemporâneo Gabriel
Gobron: Ele conheceu verdadeiros triunfos e aqueles que tiveram a rara
felicidade de ouvi-lo falar a uma assistência de duas ou três mil pessoas, sabem
perfeitamente quão encantadora e convincente era a sua
oratória.
Denis jamais cursou uma academia oficial, entretanto,
formou-se na escola prática da vida, na qual a dor própria e alheia, o trabalho
mal retribuído, as privações heroicas ensinam a verdadeira sabedoria, por isso
dizia sempre: Os que não conhecem dessas lições, ignoram sempre um dos mais
comovedores lados da vida. Com o concurso de sua inteligência invulgar
furtar-se-ia à pobreza, mas ele preferiu viver nela, pois em sua opinião era
difícil acumular egoisticamente para si, aquilo que ele recebia para repartir
com os seus semelhantes.
Com idade bastante avançada, cego e com uma constituição
física relativamente fraca, vivia ainda cheio de tribulações. Nada disso,
entretanto, mudava o seu modo de proceder. Apesar de todas essas condições
adversas, todos, ele recebia obsequiosamente. Desde as primeiras horas da manhã
ditava volumosa correspondência, respondendo aos apelos das inúmeras sociedades
que fundara ou de que era presidente honorário. Onde quer que comparecesse, ali
davam-lhe sempre o lugar de maior destaque, lugar conquistado a preço de
profunda dedicação, perseverança e incansável operosidade no
bem.
Que a Divina Luz esteja entre nós Emidio de Ogum |
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