PARA OS ESPÍRITOS O PENSAMENTO É
TUDO
Estudo
com base numa comunicação dos Espíritos Erasto e Timóteo
in
O Livro dos Médiuns, Cap. XIX, Papel do Médium nas
Comunicações, item 225.
Obra codificada por
Allan Kardec.
Pesquisa: Elio Mollo
Em 23/04/2013
Os Espíritos não têm necessidades de vestir os seus pensamentos com
palavras. Os seres encarnados pelo contrário, só podem comunicar-se pelo
pensamento traduzido em palavras. Contudo, o ser encarnado põe o seu corpo, como
instrumento de comunicação por palavras, à disposição, o que um Espírito errante
não tem condição de fazê-lo. Assim, podemos perceber a importância do papel dos médiuns nas
comunicações espíritas.
Os Espíritos gastam algum tempo para percorrer o espaço, porém, rápido
como o pensamento. Quando o pensamento está em algum lugar, a alma está também,
uma vez que é a alma que pensa. O pensamento é um atributo da alma. Para os
Espíritos o pensamento é tudo. (1)
Os Espíritos agindo sobre os fluidos espirituais, não os manipulam como
os homens manipulam os gases, mas com a ajuda do pensamento e da vontade. O
pensamento e a vontade são para os Espíritos o que a mão é para o homem. Pelo
pensamento, eles imprimem a esses fluidos tal ou tal direção; aglomeram-nos,
combinam-nos ou os dispersam. É com esses fluidos que eles formam a grande
oficina ou o laboratório da vida espiritual. (2)
A linguagem dos Espíritos é o verdadeiro critério pelo qual podemos
julgá-los, pois, sendo a linguagem a expressão do pensamento, eles tem sempre um
reflexo das qualidades boas ou más que possuem em sua capacidade evolutiva,
sendo assim, o primeiro sentimento que os evocadores e os médiuns devem ter em
relação a eles é o da prudência (3), pois os Espíritos, não sendo outros senão
as almas dos homens, não possuem a soberana sabedoria, nem a soberana ciência. O
saber dos Espíritos esta limitado ao grau de seu adiantamento, e a suas opiniões
tem unicamente o valor de uma opinião pessoal. Essa verdade, reconhecida
preservará os evocadores e os médiuns da grande dificuldades de crerem em suas
infalibilidades. Inclusive, é útil e sensato não formular teorias prematuras
sobre o dizer de um só ou de alguns Espíritos. (4)
Salvo algumas poucas exceções, o médium transmite o pensamento dos
Espíritos pelos meios mecânicos de que dispõe, e a expressão desse pensamento
pode e deve, o mais frequentemente, ressentir-se da imperfeição desses meios.
Qualquer que seja a natureza dos médiuns escreventes, mecânicos,
semi-mecânicos ou simplesmente intuitivos, os processos de comunicação dos
Espíritos não variam na essência. As comunicações com os Espíritos encarnados,
diretamente, ou com os Espíritos propriamente ditos, se realizam unicamente pela
irradiação do pensamento. Os pensamentos não necessitam das vestes da palavra
para que os Espíritos os compreendam. Todos os Espíritos percebem o pensamento
transmitido, pelo simples fato de ele ter sido dirigido a alguém, um grupo, ou
de uma maneira geral e cada um o entenderá na razão do grau de suas faculdades
intelectuais. Quer dizer que determinado pensamento pode ser compreendido por
estes e aqueles, segundo o respectivo adiantamento, enquanto para outros o mesmo
pensamento, não despertará nenhuma lembrança nenhum conhecimento no fundo do seu
coração ou do seu cérebro não será perceptível. No caso de ser um Espírito
encarnado que serve de médium, este processo é o método mais apropriado para
transmitir o pensamento de um Espírito para outros encarnados, mesmo que o
médium não o compreenda.
Se um Espírito tiver a necessidade de usar de um médium para comunicar o
seu pensamento por palavras, ele irá usar um ser terreno (espirito encarnado),
porque este pode ceder o seu corpo como um instrumento, colocando-se a sua
disposição, o que um Espírito errante não tem condição de fazê-lo. Eis aqui um
ponto importante do papel dos médiuns nas comunicações
espíritas.
Assim, quando os Espíritos superiores encontram num médium o cérebro
cheio de conhecimentos adquiridos na sua vida atual, e o seu Espírito rico de
conhecimentos anteriores, latentes, próprios a facilitar as comunicações, eles
preferem servir-se dele, porque então o fenômeno da comunicação será muito mais
fácil do que através de um médium da inteligência limitada, e cujos
conhecimentos anteriores fossem insuficientes.
Para compreender melhor tentaremos usar algumas explicações que nos
parecem ser mais claras e precisas.
Com um médium cuja inteligência atual ou anterior esteja desenvolvida, o
pensamento do Espírito se comunica instantaneamente, de Espírito a Espírito,
graças a uma faculdade peculiar à essência mesma do Espírito. Nesse caso o
Espírito encontra no cérebro do médium os elementos apropriados à roupagem de
palavras correspondentes a esse pensamento, quer o médium seja intuitivo,
semi-mecãnico ou mecânico. É por isso que apesar de diversos Espíritos se
comunicarem através do médium, os ditados por eles recebidos trazem sempre o
cunho pessoal do médium, quanto à forma e ao estilo. Porque embora o pensamento
não seja absolutamente dele, o assunto não se enquadre em suas preocupações
habituais, se bem o que os Espíritos desejam dizer não provenha do médium, ele
não deixa de exercer sua influência na forma, dando-lhe as qualidades e
propriedades características da sua individualidade. É precisamente como quando
olhamos diversos lugares através de binóculos coloridos, de lentes brancas,
verdes ou azuis, e embora os lugares e objetos vistos pertençam ao mesmo trecho,
mas tenham aspectos inteiramente diferentes, aparecem sempre com a coloração
dada pelas lentes.
Melhor ainda: comparemos os médiuns a esses botijões de vidros com
líquidos coloridos e transparentes que se veem nos laboratórios farmacêuticos.
Pois bem, os Espíritos são como focos luminosos voltados para certos trechos de
paisagens morais, filosóficas, psicológicas, iluminando-os através de médiuns
azuis, verdes ou vermelhos, de maneira que os nossos raios luminosos tomam essas
colorações, se bem o que os Espíritos desejam dizer não provenha dele, ou seja,
obrigados a atravessar vidros mais ou menos bem lapidados, mais ou menos
transparentes, o que vale dizer médiuns mais ou menos apropriados, esses raios
só atingem os objetos que os Espíritos desejam iluminar tomando a coloração ou a
forma própria e particular desses médiuns.
Para terminar oferecemos mais uma comparação: os Espíritos são como os
compositores de música que tendo composto ou querendo improvisar uma ária só
dispõem de um destes instrumentos; um piano, um violino, uma flauta, um fagote
ou um apito comum. Não há dúvida que com o piano, com a flauta ou com o violino
eles executarão a ária de maneira satisfatória. Embora os sons do piano, do
fagote ou da flauta sejam essencialmente diferentes entre si, a composição do
Espírito será sempre a mesma nas diversas variações de sons. Mas se ele dispõe
apenas de um apito comum, ou mesmo de um sifão de esguicho, ei-lo em
dificuldade.
Quando os Espíritos são obrigados a servir-se de médiuns pouco adiantados
o trabalho deles se torna mais demorado e penoso, pois eles tem de recorrer a
formas imperfeitas de expressão, o que é para eles um embaraço. São então
forçados a decompor os pensamentos e ditar palavra por palavra, letra por letra,
o que é fatigante e aborrecido, constituindo verdadeiro entrave à presteza e ao
bom desenvolvimento das manifestações espíritas.
É por isso que eles se sentem felizes quando encontram médiuns bem
apropriados, suficientemente aparelhados, munidos de elementos mentais que podem
ser prontamente utilizados, bons instrumentos, numa palavra, porque então o
perispírito dos Espíritos, agindo sobre o perispírito daquele que
mediunizam, só tem de lhe impulsionar a mão que serve de porta caneta ou
porta lápis. Com os médiuns mal aparelhados eles, para se comunicarem são
obrigados a realizar um trabalho por meio de pancadas, ou seja, indicando letra
por letra, palavra por palavra, para formar as frases que traduzem o pensamento
a ser transmitido. Essa a razão dos Espíritos preferirem as classes esclarecidas
e instruídas, para a divulgação do Espiritismo e o desenvolvimento da
mediunidade escrevente, embora seja nessas classes que se encontram os
indivíduos mais incrédulos, mais rebeldes e mais destituídos de moralidade. E é
também por isso que, se deixam aos Espíritos brincalhões e pouco adiantados a
transmissão das comunicações tangíveis por meios de pancadas e os fenômenos de
transporte, é porque os homens são pouco sérios preferindo os fenômenos que lhes
tocam os olhos e os ouvidos aos de natureza puramente espiritual, puramente
psicológica.
Quando os Espíritos desejam ditar mensagens espontâneas agem sobre o
cérebro, nos arquivos do médium, e juntam o material deles com os elementos que
o médium fornece. E tudo isso sem que ele o perceba. É como se os Espíritos
tirassem da bolsa do médium o seu dinheiro e dispuséssem a moedas, para
somá-las. Na ordem que lhes parecer melhor. (5)
Mas quando o próprio médium quer interrogar os Espíritos, melhor será que
antes reflita seriamente a fim de fazer as perguntas de maneira metódica,
facilitando assim o trabalho deles para responder. Porque o cérebro do médium,
como acontece frequentemente, pode estar numa desordem dificílima de organizar,
sendo para os Espíritos muito mais difícil trabalhar com o labirinto do
pensamento do médium.
Quando as perguntas devem ser feitas por terceiro, é bom e conveniente
que sejam antes comunicadas ao médium para que ele se identifique com o Espírito
do interrogante, impregnando-se, por assim dizer, das suas intenções. Porque
então os Espíritos terão muito mais facilidades para responder, graças à
afinidade existente entre o perispírito do Espírito e o do médium que servirá de
intérprete (6).
Certamente, os Espíritos podem tratar de Matemáticas através de um médium
que as desconheça por completo, mas quase sempre o Espírito do médium possui
esse conhecimento em estado latente. Isso quer dizer que se trata de um
conhecimento pessoal do ser fluídico e não do ser encarnado, porque o seu corpo
atual é um instrumento inadequado ou rebelde a essa forma de conhecimento. O
mesmo se dá com a Astronomia, a Poesia, a Medicina e as línguas diversas, e
ainda com todos os demais conhecimentos peculiares à espécie humana. Por fim, os
Espíritos, tem ainda o meio dificultoso de elaboração, aplicado aos médiuns
completamente estranhos ao assunto tratado, que é o de reunião das letras e das
palavras como se faz em tipografia (7).
Finalizando, os Espíritos não têm necessidades de vestir os seus
pensamentos com palavras. Eles o percebem e os transmitem naturalmente entre si.
Os seres encarnados pelo contrário, só podem comunicar-se pelo pensamento
traduzido em palavras. Enquanto a letra, a palavra, o substantivo, o verbo, a
frase, enfim, são necessários para percepção dos seres encarnados, mesmo mental,
nenhuma forma visível ou tangível é necessária para os Espíritos.
(8).
Esta análise do papel dos médiuns e dos processos, pelos quais se
comunicam é tão clara quanto lógica. Dela decorre o princípio de que o Espírito
não se serve das ideias do médium, mas dos materiais necessários para exprimir
os seus próprios pensamentos, existentes no cérebro do médium, e de que, quanto
mais rico for cérebro do médium, mais fácil se torna a
comunicação.
Os que exigem esses fenômenos para se convencerem, devem antes tratar de
estudar a teoria, só assim, poderão saber em que condições especiais eles se
produzem. (9)
NOTAS
(1) Ver
Allan Kardec, O Livro dos Espíritos, Escala Espírita, itens
89, 89a e 100.
(2) Ver
Allan Kardec, Revista Espírita junho 1868, Fotografia do
Pensamento.
(3) Ver
Allan Kardec, Revista Espírita, setembro 1859, Procedimentos
para Afastar os Maus Espíritos.
(4) Ver
Allan Kardec, Obras Póstumas, 2ª. Parte, Minha primeira
iniciação no Espiritismo.
(5)
Note-se a precisão deste exemplo: o médium possui os elementos materiais da
comunicação, que no caso são as moedas; o Espírito os toma e utiliza segundo as
suas ideias para exprimir o seu pensamento. Os exemplos anteriores são também de
extrema clareza. Mas devemos ressaltar neste capitulo o perfeito esclarecimento
das relações entre os Espíritos e os médiuns. Graças a esse esclarecimento,
compreende-se a função médiuns como de verdadeiro intérprete espiritual e os
problemas tantas vezes levantados pela crítica, como o da marca pessoal do
médium nas mensagens, o da trivialidade da maioria destas, o da dificuldade na
obtenção de comunicações de teor elevado no campo das Ciências ou da Filosofia,
e outros que tais ficam perfeitamente esclarecidos. Vê-se que os críticos do
Espiritismo, em sua esmagadora maioria, nada conhecem de todos esses problemas,
expostos de maneira precisa e didática há mais de um século. (Nota de J.
Herculano Pires)
(6)
Observe-se aqui a origem de uma das maiores dificuldades encontradas pela
pesquisa psíquica. A lei de afinidade fluídica é desconsiderada pelos
pesquisadores, em nome da desconfiança "necessária" ao rigor científico.
Felizmente, na atualidade, os estudos de Parapsicologia sobre as relações entre
o experimentador e o sensitivo modificaram muito essa situação, dando razão à
pesquisa espírita. Compreende-se, afinal, depois de muitas torturas físicas e
morais impostas aos médiuns, que o problema exige condições psicológicas
favoráveis. (Nota de J. Herculano Pires)
(7)
Note-se a diferença entre ser fluídico e ser encarnado. O
primeiro, como Espírito, possui conhecimentos e predicados que podem não se
refletir no segundo. O ser encarnado é um condicionamento especial do
ser fluídico para uma experiência terrena, com vistas aos objetivos dessa
experiência. A personalidade total do homem está no Espírito e não na conjugação
espírito corpo. que constitui a sua forma de manifestação temporária e
específica na Terra. (Nota de J. Herculano Pires)
(8) A
expressão vestir os pensamentos com palavras corresponde precisamente ao
princípio espírita da encarnação e da materialização. O pensamento, segundo a
Lógica, é uma entidade abstraia, que existe realmente, mas como objeto lógico.
Essa entidade se manifesta no plano material através dos elementos
convencionados para traduzir ideias: a palavra, a letra, os sinais da mímica,
telegráficos e outros. É a esses signos convencionais que os Espíritos recorrem
para nos transmitir, através dos médiuns, os seus pensamentos, que então se
encarnam ou se materializam na palavra, na escrita, na tiptologia.
Esse problema lógico, até há pouco encarado como de simples abstração mental,
passou para o plano da realidade científica através das pesquisas
parapsicológicas sobre telepatia. O pensamento não é hoje apenas um objeto
lógico, sem realidade própria, uma espécie de epifenômeno produzido pelo
cérebro (segregado pelo cérebro como o fígado segrega a bílis, segundo a
conhecida expressão materialista), mas um objeto dotado de realidade
cientificamente constatada e cuja natureza extrafísica (segundo Rhine e sua
escola) abre as portas da Ciência para um novo mundo, evidentemente o
espiritual. Na Física moderna o problema é colocado em termos de
antimatéria, mas também já foi atingido e o físico nuclear Arthur Compton
chegou mesmo a afirmar que "por trás da energia", a que as pesquisas
reduziram a própria matéria, existe algo mais, e que esse algo mais "parece ser
pensamento". Vemos assim a importância dessas explicações dos espíritos de
Erasto e Timóteo, dadas há mais de um século e sistematicamente desprezadas e
ridicularizadas pelos que negam e combatem o Espiritismo. (Nota de J. Herculano
Pires)
(9)
Porque os Espíritos se referiram ao cérebro e não à mente, nessas explicações,
Kardec segue a mesma linha nas suas observações? Porque estão explicando o
processo de manifestação, que implica a materialização do pensamento. E claro
que os elementos ou materiais que aludem são abstratos, são
conceitos, mas em forma palavras. Atente-se para a explicação final de que as
palavras nos são necessárias pá a percepção do pensamento, mesmo mental,
e será fácil compreender que eles trata das funções mentais do cérebro,
que é o instrumento material da mente. De fato, (experiências telepáticas ficou
demonstrado que a transmissão do pensamento se por meio de palavras, em virtude
do nosso hábito de pensar em palavras. (Nota de J. Herculano
Pires).
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