"Uma belíssima reflexão sobre a velhice do teólogo e escritor
Leonardo Boff,75, cujo título original é “Oficialmente, Velho”.
O texto foi
escrito em dezembro de 2009, quando completou 70 anos de vida.
Neste mês completo 70 anos.
Pelas condições brasileiras, me torno
oficialmente velho.
Isso não significa que estou próximo da morte, porque esta
pode ocorrer já no primeiro momento da vida.
Mas é uma outra etapa da vida, a
derradeira. Esta possui uma dimensão biológica, pois irrefreavelmente o capital
vital se esgota, nos debilitamos, perdemos o vigor dos sentidos e nos despedimos
lentamente de todas as coisas.
De fato, ficamos mais esquecidos, quem sabe,
impacientes e sensíveis a gestos de bondade que nos levam facilmente às
lágrimas.
Mas há um outro lado, mais instigante.
A velhice é a última etapa
do crescimento humano.
Nós nascemos inteiros.
Mas nunca estamos prontos.
Temos
que completar nosso nascimento ao construir a existência, ao abrir caminhos, ao
superar dificuldades e ao moldar o nosso destino.
Estamos sempre em gênese.
Começamos a nascer, vamos nascendo em prestações ao longo da vida até acabar de
nascer.
Então entramos no silêncio.
E morremos.
A velhice é a última chance que a vida nos oferece para acabar de
crescer, madurar e finalmente terminar de nascer.
Neste contexto, é iluminadora
a palavra de São Paulo: “na medida em que definha o homem exterior, nesta mesma
medida rejuvenesce o homem interior”(2Cor 4,16). A velhice é uma exigência do
homem interior.
Que é o homem interior? É o nosso eu profundo, o nosso modo
singular de ser e de agir, a nossa marca registrada, a nossa identidade mais
radical.
Esta identidade devemos encará-la face a face.
Ela é pessoalíssima e se esconde atrás de muitas máscaras que a
vida nos impõe.
Pois a vida é um teatro no qual desempenhamos muitos papéis.
Eu,
por exemplo, fui franciscano, padre, agora leigo, teólogo, filósofo, professor,
conferencista, escritor, editor, redator de algumas revistas, inquirido pelas
autoridades doutrinais do Vaticano, submetido ao “silêncio obsequioso” e outros
papéis mais.
Mas há um momento em que tudo isso é relativizado e vira pura
palha. Então deixamos o palco, tiramos as máscaras e nos perguntamos: Afinal,
quem sou eu? Que sonhos me movem? Que anjos que habitam? Que demônios me
atormentam? Qual é o meu lugar no desígnio do Mistério? Na medida em que
tentamos, com
temor e tremor, responder a estas indagações vem à lume o homem
interior.
A resposta nunca é conclusiva; perde-se para dentro do
Inefável.
Este é o desafio para a etapa da velhice.
Então nos damos conta de
que precisaríamos muitos anos de velhice para encontrar a palavra essencial que
nos defina.
Surpresos, descobrimos que não vivemos porque simplesmente não
morremos, mas vivemos para pensar, meditar, rasgar novos horizontes e criar
sentidos de vida. Especialmente para tentar fazer uma síntese final, integrando
as sombras, realimentando os sonhos que nos sustentaram por toda uma vida,
reconciliando-nos com os fracassos e buscando sabedoria.
É ilusão pensar que
esta vem com a velhice.
Ela vem do espírito com o qual vivenciamos a velhice
como a etapa final do crescimento e de nosso verdadeiro Natal.
Por fim, importa preparar o grande Encontro.
A vida não é
estruturada para terminar na morte, mas para se transfigurar através da morte.
Morremos para viver mais e melhor, para mergulhar na eternidade e encontrar a
Última Realidade, feita de amor e de misericórdia.
Aí saberemos finalmente quem
somos e qual é o nosso verdadeiro nome.
Nutro o mesmo sentimento que o sábio do Antigo Testamento:
“contemplo os dias passados e tenho os olhos voltados para a
eternidade”.
Parafraseando Camões, completo: mais vivera se não
fora, para tão longo ideal, tão curta a vida.
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Ex seminarista, com estudos, cursos diversos na amada UMBANDA incluindo o de teologia, praticante desde 1978; vi a necessidade de poder repassar o que aprendo todos dias, quer sejam textos, cursos, vídeos, e-books, aos que possam desejar, sem compromisso algum com quem quer que seja a não ser a DIVULGAÇÃO DE NOSSA AMADA UMBANDA. Se desejarem contato: acevangel@gmail.com
terça-feira, 7 de abril de 2015
O que sou após alcançar meus 70 anos de vida?
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Cristinatormena
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