quarta-feira, 27 de maio de 2015


         Em três oportunidades diferentes, sendo entrevistado por institutos de pesquisa no final do ano passado, fiquei intrigado com uma das questões. "Sua religião?" Naturalmente, respondi, Umbandista. Automaticamente, os pesquisadores marcaram um "x" em "Espírita. E, nas três oportunidades, pedi para que marcassem em "Outros" e registrassem a palavra Umbandista. Inclusive, isto me recorda o Censo de 2000, quando a questão não foi feita ou seja, todos os Umbandistas da residência, não foram considerados.

          Será que há interesses que desconhecemos ou foi uma distração?


          Na matéria: "Umbanda e Candomblé estão encolhendo no País", de Chico Otavio e Toni Marques, publicado em diversos jornais do País, na primeira semana de janeiro de 2005, chamou-me a atenção, pois mais uma vez, as referências estatísticas do IBGE, me forçaram ao raciocínio. 


Pelos registros do Censo de 1991 e 2000, no Brasil, o número de Umbandistas caiu de 541 mil para 397 mil, considerando os seus 5560 municípios. Por conseqüência, a média de Umbandistas caiu de 97 para 71 e, pela tendência, cada município hoje deve ter aproximadamente 50 Umbandistas e daqui a 20 anos "encherá uma kombi"! Creio que o dado não reflita a realidade, pois certamente, há muito mais Umbandista do que se imagina.

          Por outro lado, deve-se considerar que nas duas últimas décadas do século passado, houve um real e grande esvaziamento do Movimento Umbandista, devido ao surgimento de movimentos filo-religiosos, que apresentaram uma abordagem simples para a "entrada no Paraíso", criando-se grandes corporações, que disputam dia-a-dia, volumes consideráveis de dinheiro no "mercado da fé", em detrimento ao estímulo ao esforço individual para o crescimento e desenvolvimento do indivíduo. Tornando, portanto, o Movimento Umbandista como principal alvo do mercado, visto que é, teoricamente, mais fácil pagar pela salvação, do que se esforçar por ela.


          Mas o quadro está aí, para quem quiser ver! Em cem anos, temos o registro do "surgimento" da Umbanda, suas reais e incontestes dificuldades até a década de 40, o seu crescimento espontâneo (diga-se de passagem, sem os recursos atuais da tecnologia e comunicação) e, de repente, um esvaziamento... Não houve atualização? Valores individuais sobrepuseram aos coletivos? Houve uma falsa percepção de poder? Será que não está na hora de parar de "olhar o próprio umbigo"? Será que a questões menores de vaidade, inveja, orgulho e egoísmo, que tanto as "Crianças", "Caboclos" e "Pretos-Velhos" nos ensinam a evitar, não estão sendo assimiladas? 


          "Grãos de areia formam montanhas"! Alguém se lembra de quem foi a primeira pessoa a cumprimentar o atual Presidente da República, no momento da posse, nos salões do Palácio Alvorada? Isto mesmo, um representante dos ditos Cultos Afro-Brasileiros! Ora, o que foi feito com aquele momento? Qual foi a repercursão? Nada! Era digno de registro por todos aqueles de que certa forma estão ligados em suas raízes religiosas. Mas, não, creio que só eu tenha percebido.


          Talvez, um dos maiores problemas seja o da falta de raciocínio ou estímulo ao pensamento. Quando surgem iniciativas para este fim, a primeira, segunda, terceira tentativas é a de criar situações para o desaparecimento das idéias. Graças a Deus, isto mesmo, a Zamby de Preto-Velho e Tupã de Caboclo, temos um instrumento na mão, que querendo ou não, democratiza a informação, a Internet. Então, vamos usá-la! Vamos abrir espaços e ampliar os existentes para discussão, de forma inteligente, saudável e, principalmente, barata. Eficiência e eficácia ao alcance de todos.


          Afinal, quantos somos? Onde podemos encontrar o eco? Morei alguns anos em Curitiba e "não conheci nenhum Umbandista", apesar da existência, na época, de 16 Federações de Umbanda. Onde estavam os Umbandistas? As pessoas têm receio de dizer que são Umbandistas? Outro fato curioso é que um dos ícones na nossa história dos Cultos de Nação no Brasil, conhecida aqui e no exterior como a "Menininha do Gantois", sempre que inquirida nos Censos, dizia-se católica. É, ...


          Organizar o Movimento Umbandista não é tarefa fácil, se é que é possível, pois além dos aspectos culturais, regionais, étnicos e sociais, encontramos nesta "colcha de retalhos" muitas posições sobre "status quo" e "segredos de santos". Um dos maiores receios de muitos dirigentes de Terreiros é tornar público um conhecimento, infligindo ao seu detentor, a "perda de poder", estimulando portanto, a permanência (sic!) da tradição oral. Há centenas de anos, na origem das nossas raízes ameríndias, africanas e heleno-semitas, justificava-se, não haviam recursos abundantes para registros, poucos sabiam ler e escrever e algumas líguas não tinham a respectiva escrita. Assim, a tradição forçosamente tinha que ser oral e, por sua vez, considerando as pequenas comunidades, os escolhidos passavam a vida inteira ouvindo e falando sobre um determiando tema. Hoje, creio que seja difícil, só se abandonarmos as cidades e formos viver nas selvas desde crianças.


          Este estado de "não organização" ocorre a partir de alguns pressuostos: 1) Com algumas exceções, o Movimento Umbandista é caritativo, diferente de movimentos filo-religiosos comerciais; 2) Se a classe média foi a mola propulsora nas décadas de 40 a 70, esta mesma classe média ou melhor, o que resta dela está mais preocupada com a sua sobrevivência, omitindo-se de sua responsabilidade no processo, se é que tem; 3) Grande parte dos integrantes do Movimento Umbandista não está interessada em livros e estudos; 4) As Federações e Associações existentes, na sua grande maioria, não são reconhecidas. No Brasil, com tanta tutela, mandos e desmandos, envios e desvios, qualquer tentativa de "formalização" será inócua, se "as lideranças" não forem "ouvir as bases". Pesquisa é necessário. Caso contrário, será um teatro, pois as pessoas não estarão comprometidas com o principal, que é o essencial.


          Outro dia, acidentalmente, fui a um encontro onde, pelo que pude perceber, estava-se ensaiando algum tipo de normatização. Digo perceber, pois o grupo, pelo que parece, estava fechado, não me perguntaram quem eu era, o que estava fazendo ali e nem expuseram o que era o contexto. Fui embora antes do término, apenas com especulações à respeito. De certa forma preservei-me, mas escapou a oportunidade de oferecer o acesso a instrumento de comunicação, que é o primeiro site sobre Umbanda na Internet, que este mês completa 10 anos, com mais de 1 milhão de visitas. 


          Antes de se buscar uma "federalização", sindicalização", têm-se que buscar uma "associação", para que, mesmo nas divergências conceituais ou práticas, haja uma convergência de fortalecimento cultural.


          Naturalmente, alguns passos devem ser observados. Em primeiro lugar, determinar a sua identidade. Apesar de sempre repetir que a Umbanda não tem nacionalidade, mas em termos práticos, a Umbanda é a ÚNICA Religião Brasileira. Foi criada, moldada e amalgamada no Brasil. Isto é História! Se não o fosse, a Umbanda teria surgido espontâneamente na América do Norte, na América Central e em toda América do Sul. Não nego a Raiz Africana um de seus pilares, entretanto temos as "coisas nativas", específicas do Brasil e influências diretas da Europa e do Oriente, através do Judaísmo-Cristão. Para quem não sabe ou não se lembra, Cristo, sincretizado com Oxalá, era Judeu. A Igreja Católica tem toda a sua fundamentação no Judaismo-Cristão institucionalizado por Simão (Pedro), diferente da Igreja Ortodoxa, que foi moldada no Helenismo-Cristão, através de Paulo.  Outro dia, num encontro tido como Afro-Brasileiro, alguém manifestou "e pajelança?" ou outro respondeu: "não entra porque é coisa de índio"; Pode?


          Exemplos sobre estas dificuldades são muitos. Há uma resistência em se registrar informações para as gerações futuras:Um exemplo recente foi a reação contrária em função de se levar a Umbanda para o meio acadêmico, a Faculdade de Teologia de Umbanda em São Paulo, que por "acaso" há uma resistência, não do meio acadêmico, e sim de alguns setores do Movimento Umbandista.


          O que é, como posso compreender a pratica Umbanda?


          Creio que um desvio no início do movimento é que tenha e tem causado a nossa "salada de frutas". Talvez, o posicionamento inicial, como sendo "Culto Afro-Brasileiro" é que provocou a dissensão entre os seus seguidores, pois a falta da identidade inicial, causou a generalização, fazendo com que cada um desse um peso maior a sua crença de origem. Há quem diga, por exemplo, que ela é Cristã. Pessoalmente não concordo, pois Ela é contexto e não parte. E, sendo contexto, Ela é anterior ao advento de Cristo. Assim, para a nossa realidade da forma, Cristo é e pregava os valores de Umbanda.


          Criando-se a identidade a partir dos seus valores básicos, talvez a perspectiva de "rotular" a Umbanda como religião seja mais fácil. Alguns princípios e valores norteiam os praticantes de Umbanda. Assim, crendo-se na existência de um Deus único; Crendo-se numa hierarquia espiritual através da qual Deus emana a Sua Vontade; Crendo-se em entidades espirituais em evolução; Crendo-se em guias; Crendo-se existência da alma; Crendo-se na diversas modalidades de prática mediúnica, como forma de desenvolvimento espiritual e de prática de caridade; Crendo-se na movimentação de energias e utilização dos recursos naturais (dos reinos vegetal, animal e mineral) para louvação, pedidos, curas, prática do bem, etc; está-se praticando Umbanda. 


O que não se encontrar neste entendimento, não é Umbanda (isto, repito, considerando sempre a nossa realidade da forma). 

          Talvez, este seja um caminho. O resto, é adereço. Por exemplo, o Pai Velho e o Caboclo que me assistem, utilizam-se do tabaco. Mas em outros locais, talvez não o utilize, e daí? Se os "credos" acima são praticados, não importa.
          Assim, independentemente de nomenclaturas, símbolos, referências arquétipas, espaços, instalações, cores, o ponto é, o que A norteia. A Umbanda, felizmente, permite este ecletismo de entendimento, não ficando engessada e presa a tabus. Não importa se acredito que tal Entidade é de uma falange ou Vibração Ancestral e não de outra. O que importa é que tal Entidade Espiritual está desenvolvendo e praticando a sua Missão. Assim, se eu creio que a Cabocla de Iansã é uma Chefe de Falange da Vibração Ancestral de Yemanjá, não importa. Se outro acha que Ela é um Orixá Maior ou mesmo da Vibração de Xangô, não importa. O que importa é que as energias desta Cabocla de Iansã sejam canalizadas para o bem comum. Assim, todos os rótulos são adereços e acessórios do que compreendemos como Umbanda.
         

 Creio que o primeiro passo é o de se identificar, sem nominações, a Missão de Umbanda e quais os Valores e Princípios que a norteiam, para a nossa realidade da forma. Em seguida, ter em mente que a Umbanda é uma Religião e não um Culto Afro-Brasileiro, senão, teremos que reclassificar e mudar a forma de tratamento de todas as religiões (Por exemplo, a Religião Católica, os Evangélicos, ou o Cristianismo de uma forma geral, estaria classificado em Cultos Judaicos-Cristão, afinal, Cristo era judeu e não renegou o Deus que acreditava. Apenas, mudou a forma!)

          Logo, colocar debaixo de um mesmo "guarda-chuva" crenças diferentes, não funciona. Diria até que é uma forma prestigiar grupos, dificultando veladamente a sua interação e crescimento.


          Agora, fica a pergunta: há uma preocupação real em fazer com que a "Umbanda mostre a cara" ou pessoas desejam que Ela permaneça velada, retornando à clandestinidade?



Com votos de profunda paz nos seus pensamentos, irradiante alegria nos seus sentimentos e contagiante harmonia nas suas ações, com prosperidade, força e minha benção.
Selo Astral de Mestre Thashamara

THASHAMARA

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