domingo, 13 de setembro de 2015

A DESVITALIZAÇÃO DO MÉDIUM PELO MAL USO DA PALAVRA

Nem tudo é obsessor ou demanda

Ser fiel é imprescindível, particularmente nas sociedades de tradição oral, onde ela é indispensável à sobrevivência do indivíduo, do grupo e da história.

Um velho adágio diz: Pelo fruto se conhece a árvore e pela palavra se conhece o homem.

A palavra falada movimenta energias e tem poder de criação, conservação ou destruição, também detém o poder de criar a paz ou destruí-la. 
Aquele que procura desenvolver sua consciência moral liga a palavra falada com a verdade. 
Verdade remete-nos à fidelidade e à confiabilidade. Tornam-se confiáveis as pessoas cujas demonstrações de responsabilidade social ou espiritual não deixam margens a dúvidas e incertezas. 
A verdade associa-se à sinceridade que, por sua vez, relaciona-se à honestidade.

Há pessoas de palavras saudáveis e há outras pessoas de palavra adoecida. 
Todo e qualquer uso depreciativo da fala e dos atos, refere-se a esse adoecimento. 
Na ausência ou afastamento da verdade, ocorre o que poderíamos chamar de “lepra da palavra”: mentira, tagarelice, fofoca, maledicência, calúnia, escárnio, xingamento e maldição, entre outras. 
A mentira é uma das mais frequentes manifestações da falta de apreço da palavra. Um mentiroso, ao perder o crédito dos demais, perde também o respeito que lhe devotavam. 
Por isso se diz que a mentira mais promove morte social por perda de credibilidade e da confiabilidade. 
Seu efeito nocivo vai além disso: mata também fisicamente, por acarretar perda de vitalidade, pois, ao promover o distanciamento entre a pessoa e seu próprio ori, a mentira dificulta ou mesmo impede o fluxo do axé que, advindo da divindade pessoal – Ori – vitaliza o corpo físico e espiritual.

Um tipo especial de mentiroso é o homem que não cumpre o que promete e, assim, não assume compromisso com a palavra que profere. 
Podemos chamá-lo vulgarmente de “boca frouxa”, pois sua palavra não é firme e confiável. 
Neste grupo de pessoas inclui-se aquele que, de má fé, mente deliberadamente, prometendo vantagens que, de antemão, sabe ser incapaz de oferecer. Inclui-se, também, aquele outro que não age de má fé: é uma pessoa que não reconhece a si mesma como mentirosa, pois, ao enunciar determinado propósito, talvez esteja pessoalmente convencida de que o cumprirá; talvez tenha dificuldade de avaliar os próprios limites e possibilidades e, por isso, proponha-se a realizar tarefas que de fato não realizará nunca.
Essa fraqueza da palavra, aparentemente sem maiores consequências, é de fato desastrosa. 
Não apenas para a própria pessoa, por sua perda de confiabilidade, mas, também, pelos efeitos sociais desse comportamento, pois a sobrevivência do coletivo (concretização das tarefas), também depende do compromisso de cada qual para com a própria palavra. 
Por isso, o ditado: Não prometa nada sem a certeza de poder cumprir.
A tagarelice, outra lepra da palavra, caracteriza-se pelo falar excessivamente: o homem falante e verborrágico não exerce crítica sobre o que verbaliza: fala de tudo e de todos, conta seus planos a quem quer que se apresente diante dele. 
A tagarelice, em suas múltiplas formas, associa-se a difamação, à bisbilhotice e à maledicência, entre outras. 
Denota irresponsabilidade e falta de compromisso para com a vida, pois o bom uso da palavra demanda consciência a respeito de sua natureza e função. 
A fala deve ser funcional, ou seja, deve haver uma finalidade clara para o que está sendo enunciado e quando alguém tem um problema ou necessidade deve comunicá-los exclusivamente a quem possa aconselhar ou ajudar.
O homem verborrágico ou “boca aberta” é aquele que não reflete antes de falar, ignora se o seu interlocutor está interessado no que diz, não observa se “sua vítima” tem condições de sobreviver a seu bombardeio de palavras. 
Falam de tudo a todos e a qualquer um de modo indiscriminado e acrítico. 
Saem por aí contando seus planos mais íntimos e os planos alheios ao primeiro que encontram
A verdade é um compromisso que se tem para com o Ori e para com os demais orixás. 
Cada vez que uma pessoa utiliza a palavra de modo adequado, o seu ori se fortalece e ocorre um avanço em sua existência: a palavra correta fortalece o homem e lhe possibilita prosperar.

Fonte: EXU E A ORDEM DO UNIVERSO
Cap. Valores e Virtudes: o código ético-moral iorubá.
Editora Oduduwa.

Texto originalmente publicado em CAMINHOS DE ARUANDA
https://www.facebook.com/Nos-Caminhos-de-Aruanda-3207553…/…/

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