Ex seminarista, com estudos, cursos diversos na amada UMBANDA incluindo o de teologia, praticante desde 1978; vi a necessidade de poder repassar o que aprendo todos dias, quer sejam textos, cursos, vídeos, e-books, aos que possam desejar, sem compromisso algum com quem quer que seja a não ser a DIVULGAÇÃO DE NOSSA AMADA UMBANDA. Se desejarem contato: acevangel@gmail.com
sexta-feira, 13 de novembro de 2015
Kimbanda e Quimbanda
Por Edmundo Pellizari (Ras Adeagbo)
Kimbanda significa algo como "curandeiro" em kimbundu, um idioma bantu falado em Angola.
O kimbanda é uma espécie de xamã africano.
O ofício do kimbanda é chamado de "umbanda"... Todos já ouvimos essa palavra por aqui.
Quimbanda é um culto afro-brasileiro com forte influência bantu e muito influenciado pela magia negra europeia.
Kimbanda e Quimbanda se confundem, mas são cultos distintos e com objetivos diferentes.
O kimbandeiro é um membro ativo de sua comunidade, um doutor dos pobres e intérprete dos espíritos da Natureza.
Ético, ele sempre trabalha para o bem, a paz e a harmonia.
O quimbandeiro é um feiticeiro.
Normalmente vive afastado, não se envolve socialmente.
Na África, o kimbandeiro faz a ponte entre os Makungu (ancestrais divinizados), os Minkizes (espíritos sagrados da Natureza) e os seres humanos.
Ele entra em transe profundo, incorpora os seres invisíveis que consultam os necessitados e os aconselham na resolução dos problemas.
Os espíritos no corpo do kimbanda falam, fumam e bebem.
Como autêntico xamã, ele sabe que a mata é um ser vivo que respira, come e sente.
Ela é densamente habitada por diversos tipos de entidades, que transmitem seu conhecimento aos sacerdotes eleitos.
Alguns destes seres se parecem a "duendes".
Eles têm uma perna só, um olho só ou falta algum braço.
Moram dentro da mata e podem cruzar o caminho de algum caçador.
Um Ponto Cantado para os exus na Umbanda, diz:
"Eu fui no mato, oh ganga! Cortar cipó, oh ganga! Eu vi um bicho, oh ganga! De um olho só, oh ganga!"
Ganga vem de Nganga, um dos nomes pelo qual o kimbanda é conhecido.
Nosso querido Saci Pererê é um deles.
Ele usa o filá (gorro) vermelho dos kimbandas, o cachimbo dos pretos velhos e o tabaco dos caboclos!
O quimbandeiro centra seu trabalho na figura de Exu, que é um Orixá yoruba e não um Nkizi bantu.
A entidade que se assemelha a Exu entre os bantu é chamada de Aluvaiá, Nkuvu-Unana, Jini, Chiruwi, Mangabagabana e Kitunusi dependendo do dialeto e da região.
Aluvaiá pode ser "homem" ou "mulher" e sua energia permeia tudo e todas as coisas.
Ele se adapta muito bem à noção umbandista de exu (entidade masculina) e pomba-gira (entidade feminina).
O quimbandeiro também invoca e incorpora as entidades associadas ao culto do magnífico Orixá Exu, os exus e pombas-giras.
Pode haver sincretismo com nomes como Lúcifer, Asmodeus, Behemoth, Belzebu e Astaroth da Cultura Europeia.
A visão das entidades também pode mudar...
O kimbandeiro invoca as almas dos antigos Tatas (pais espirituais ou sacerdotes curandeiros) e Yayas (mães espirituais ou sacerdotisas curandeiras).
Estas almas transcenderam o limite da materialidade e da ignorância.
Elas possuem bondade, conhecimento e luminosidade.
Algumas não precisam mais encarnar, pois já evoluíram o suficiente neste mundo.
O quimbandeiro invoca almas de entidades que em vida foram feiticeiros, malandros, mercadores, homens ou mulheres comuns, etc...
Na África o sangue é um elemento sacrificial.
O kimbandeiro oferece um animal a uma entidade, prepara a carne e entrega a primeira porção ao espírito.
O resto do animal, que se tornou agora alimento, é compartilhado com a comunidade se isto acontece em data festiva.
O quimbandeiro não está interessado em "sacrificar" (tornar sagrado), ele está preocupado com os poderes mágicos do sangue, vísceras e couro do animal.
Portanto, teologicamente falando, ele não sacrifica.
As imagens utilizadas no culto do kimbandeiro são feitas de pedra, madeira e barro.
Os artesãos procuram modelar as entidades da Natureza de forma natural e simples.
A imagem é consagrada cerimonialmente, e uma porção do espírito da entidade passa a habitar a efígie.
Na Quimbanda, na maioria das vezes, são utilizadas imagens de gesso que representam os espíritos aliados.
Comumente estas imagens têm aspecto avermelhado, podendo ter chifres ou não.
O kimbandeiro é um agente social.
Ele depende da comunidade e a comunidade depende dele.
Quando aceita um pagamento para seu trabalho, ele retira do mesmo a sua sustentabilidade.
Todo mundo sabe e pactua com isso.
Não existe abuso.
Trocas de mercadorias e favores podem substituir o dinheiro como pagamento.
As pessoas empobrecidas são atendidas sem nada precisar dar em troca.
As vestes do xamã bantu são normais e naturais.
Quando está trabalhando usa filá, guias de sementes, cinturão com amuletos e roupas sóbrias.
Três são os pilares do kimbandeiro: amor, honra e caridade.
O universo da Kimbanda é composto por três mundos que se interpenetram:
O mundo celeste onde moram os espíritos celestiais e originais (alguns Minkizis e ancestrais divinizados), o mundo natural habitado pelos homens e pelos espíritos da natureza (elementais) e o mundo subterrâneo da morte e dos ancestrais.
O médium na Kimbanda é um canal entre os espíritos e os que precisam dos espíritos.
Ele é um instrumento mágico, um servidor da humanidade que pratica um transe profundo, pois, somente adormecendo o ego o divino pode fluir.
Os espíritos utilizam o médium com gentileza e cuidado, sem esgotar suas reservas de energia psíquica.
A Umbanda, certamente, bebeu das águas tradicionais da Kimbanda.
Os negros bantus trouxeram sua herança espiritual, legítima, luminosa, ecológica e antiquíssima.
Oramos para que as antigas almas dos Tatas e Yayas nos ajudem a separar o trigo do joio.
Nzambi primeiro! Nsala Malekun!
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