domingo, 7 de fevereiro de 2016


VERDADE OU INDUÇÃO?
Texto de Pai Silvio Ferreira da Costa Mattos – sacerdote e presidente fundador da APEU .
Certa vez, visitei um terreiro que se identificava como sendo “de Umbanda”, cujo nome, por questão de ética, prefiro não mencionar para não ferir a merecida notabilidade do autêntico mentor, do qual fora furtada a denominação.

Sabemos que tal casa, há muito, teve suas portas fechadas em caráter definitivo, provavelmente por razões óbvias e sob a ação dos Planos Superiores da Espiritualidade que não se dispuseram a se fazerem coniventes com o fomento da vaidade, da irresponsabilidade e das mentiras que ali pululavam diante dos olhos dos incautos despreocupados com o verdadeiro compromisso exigido pela nobre missão mediúnica.

Entre os vários procedimentos estapafúrdios que lá, infelizmente tivemos o desprazer de observar, despertou-nos especial atenção a espetacular facilidade com que a “mãe-de-santo” dominava e conduzia o seu nada modesto grupo de sensitivos e elementos ditos sob a influência de Entidades neles incorporadas. 

Havia algo em torno de umas sessenta pessoas que, sob o efeito de um simples brado dado pela “sacerdotisa” que se interpunha ao centro de um grande círculo por elas formado por mãos dadas, entravam num transe imediato, todos a uma só vez, fazendo transparecer que a engira tivesse sido invadida por toda a população das várias aldeias de índios desencarnados ou dos grupos étnicos africanos habitantes das camadas etéreas.

Sempre num tom arrogante e arbitrário, exorbitante e autoritário, aquela senhora, do núcleo da grande corrente, gritava: “FORÇA DE CABOCLOS!” e instantaneamente, tais legiões acorriam para atender ao seu chamado e o mesmo se dava quando, com idêntica postura, evocava às demais linhas espirituais, mostrando um absolutismo incomparável e capaz de fazer inveja a qualquer Senhor Feudal.

Oras!, diante de tamanha competência, vimo-nos animados a estudar aquele incomum fenômeno com mais profundidade, afinal, tratava-se de uma manifestação inusitada e ao mesmo tempo estranha pela inversão de autoridades. Seu subjugo sobre os representantes de Aruanda deixara-nos pasmos e saímos dali carregados de dúvidas e interrogações:

Seria ela um espírito encarnado dotado de imensurável ascendência sobre todos os demais? – pensamos – Estariam aquelas pessoas agindo sob a influência de uma força hipnótica ou anímica e, por isso, induzidas a uma representação teatral? Ou, talvez eu é que não estivesse a altura de compreender como se processava aquele mecanismo por não estar inteirado da modernidade disseminada e imposta pelos Guias e Protetores Espirituais em meio àqueles “escolhidos”.

Os dias, meses, anos e décadas se passaram e nunca mais nos deparamos com ritual semelhante em nenhum dos templos em que nos fizemos presentes, quer como convidados, quer como meros espectadores, ocasiões em que fazíamos nossas pesquisas e perguntávamos aos respeitáveis espíritos que se apresentavam ao serviço da doutrina umbandista e da caridade se aquilo era possível de acontecer e, todos eles, sempre, respondiam de forma taxativa, que não, dando-nos a seguinte explicação:

“Inicialmente, temos de considerar que, nem todos os indivíduos que se acham vestidos de branco no âmbito sagrado de uma engira ou auréola de terreiro são médiuns de incorporação, depois, o perfeito ajuste ou entrelaçamento de nossas energias com as dessas pessoas não depende, unicamente, de suas próprias vontades, pois, há necessidade de que também o queiramos fazer. 

Além disso, tais equilíbrios somente são conseguidos após testarmos todos os canais de vibrações ativos de que o médium dispõe (os chamados chakras). 

A incorporação dos espíritos de grau evolutivo também se dá em função das energias ou vibrações oferecidas pelo templo através das emanações provindas de seus pontos fundamentais e de seus assentamentos (núcleos de sustentação da casa). 

Outros fatores, tais como: o estado físico, mental e psicológico do médium e a nossa disponibilidade de tempo para o atendimento de sua evocação, já que não somos escravos do desejo de nenhum encarnado e temos muitas outras tarefas a executar, quer neste como em outros planos do universo, completam o quadro das dependências para que tal aconteça a contento. 

Somente os nossos infelizes irmãos, ainda presos aos vícios, às degradações e às maldades, tidos como quiumbas, trevosos, rabos de encruza, ignorantes e perversos é que violam o livre-arbítrio dos filhos da seara de Umbanda, desavisados e distraídos no “Orai e Vigiai” preconizados pelo Mestre Oxalá e, dessa maneira, tornam-se vítimas diretas da ação dessas hostes ainda cegas para a verdadeira luz. 

Todas as expressões de comunicação que necessitamos estabelecer com o mundo terreno só se concretizam, de forma individual, eqüitativa ao potencial de nossos intermediários e com a anuência dos Estratos Superiores onde vibram nossos Mestres, orixás e a própria Divindade”.

- O que é preciso para que os médiuns se prestem a incorporações indubitáveis? 

– questionei-os, buscando aprender com tais detentores do saber.

“Usar das ferramentas mais eficazes que daqui do nosso plano facilmente somos capazes de reconhecer. Os seus nomes são: VERDADE e HUMILDADE”.




LUXO NA UMBANDA?
Necessidade espiritual ou vaidade do(s) médium(ns)?


Texto de Sandro da Costa Mattos – autor de “O Livro Básico dos Ogãs” e Ogã Alabê da APEU.

“Vamos refletir sobre: "necessidade x vaidade x humildade".


Não está acontecendo um exagero de vaidade na Umbanda (não da religião, mas dos adeptos)?
Entre muitos aspectos, podemos citar como exemplo a vestimenta e os paramentos: quando o médium tem uma entidade ou outra que usa um apetrecho de trabalho (um chapéu, um lenço, uma bengala ou mesmo outro elemento), nota-se que a necessidade desse material é do guia, ou seja, aquele espírito usa o chapéu, o lenço etc. para realizar seu trabalho, dentro do seu fundamento.
Mas, quando TODAS as entidades que trabalham com o mesmo médium, ou todas do mesmo terreiro (mesmo em médiuns diferentes)precisam se paramentar, não seria mais coisa do(s) médium(ns),  na maioria das vezes semi-consciente(s), do que do(s) espírito(s) atuante(s)?

Na internet, revistas e jornais, podemos ver com facilidade, fotos em que o mesmo médium (ou todos do terreiro), quando incorporado(s) apresenta(m)-se da seguinte forma: o baiano está vestido de cangaceiro, com falangeiros de seu Zé Pelintra (não concordo com o termo “linha de malandros”, usado pelos umbandistas mais novos ) usa terno, bengala e chapéu, o boiadeiro parece um capataz ou um coronel fazendeiro, o caboclo se veste imitando um índio (já que o de modo geral, os artigos encontrados, como cocares, não são genuinamente indígenas, e muitos não têm nenhuma semelhança aos paramentos que eram utilizados pelos povos ancestrais de nosso continente, ou mesmo pelos índios atuais), o Ogum veste roupa de soldado romano e tem uma linda espada (se possível, cravejada de brilhantes), o erê traja roupas infantis (macacãozinho, vestidinho colorido etc), o cigano com vestes características do povo (e lógico, quanto mais colorido, melhor), o Exu usa capa, tridente e cartola, o marinheiro usa uma “farda” como se fosse um autêntico capitão da marinha americana, etc. 

Isso quando não resolvem por um “trono” no meio do terreiro, colocando a entidade numa posição de rei dentro da casa (já existem tronos especialmente confeccionados para Exus e que são vendidos aos “olhos da cara” nas casas de artigos religiosos).

O que vocês acham? Será que existem mesmo médiuns ou casas onde TODAS as Entidades atuantes precisam se paramentar?

Seria coincidência esses espíritos escolherem, todos ao mesmo tempo, esse médium ou essa casa, para se paramentar?

Isso não seria contrário ao principal lema da Umbanda: “HUMILDADE e SIMPLICIDADE”- tão ensinado pelos nossos sábios Pretos-Velhos?

A roupa branca (símbolo de igualdade), aos poucos estaria deixando de ser a FARDA dos soldados do exército do Pai Oxalá, já que até em dias de giras comuns estão usando roupas cada vez mais esplendorosas?

Será que festa de entidade ou orixá precisa mesmo desse luxo todo, deixando, às vezes, um local sagrado como um templo umbandista mais parecido com uma ala de escola de samba, onde todo mundo fica "fantasiado"?

Esse colorido todo não facilita a indução à mistificação, ou no mínimo, ao animismo, já que o médium que gastou tanto dinheiro com toda essa parafernália, não vai querer deixar tudo aquilo guardado?

Ou será que os guias, que sempre foram exemplos de humildade e simplicidade, é que são (ou estão ficando) cada vez mais vaidosos (o que não acredito)?

Irmãos-de-fé, filhos da nossa amada Umbanda: apesar do respeito às diferenças, certas questões poderiam e deveriam ser melhor estudadas ou revistas pelos seguidores do Mestre Oxalá, afinal de contas, a Umbanda veio para dar espaço a todos os filhos do Pai Celestial, principalmente aos simples e humildes (encarnados e desencarnados), muitas vezes não aceitos em outros segmentos religiosos.  

Com toda essa parafernália utilizada atualmente,  como os mais necessitados se encaixarão, já que muitos não podem comprar uma “roupa de Exu”, que muitas vezes, custa mais do que eles ganham por um mês de trabalho?

Lembremos que o brilho que devemos mostrar não é no luxo da vestimenta, ou seja, o lado externo, pois tudo isso é ilusório, já que roupa não tem força espiritual. 

O que realmente importa é a essência divina que existe em cada um de nós, filhos de Deus (encarnados e desencarnados). 

Esse brilho, que brota no âmago do ser é que deve ser mostrado e melhor ainda, doado, a todos aqueles que necessitam. Isso sim agrada ao Pai, aos orixás e seus Falangeiros de Luz.



UMBANDA – FÉ CRISTÃ

Texto de Sandro da Costa Mattos – autor de “O Livro Básico dos Ogãs” e Ogã Alabê da APEU.



Existem irmãos que defendem a idéia de que a Umbanda não poderia ser cristã, pois esta seria uma religião baseada nos cultos afros. 


Dentro de sua visão, apesar do respeito que demonstram, Jesus Cristo é apenas uma figura simbólica, relacionada através do sincretismo criado pelos negros ao Orixá Oxalá, naqueles tempos em que a Coroa Portuguesa, através do poder da Igreja, impunha aos escravos sua fé trazida da Europa. 

E aí, com o passar do tempo e com a associação dos cultos afros ao espiritismo e ao próprio catolicismo, teria nascido a Umbanda no Brasil.

Já os que defendem a idéia da Umbanda como um culto cristão, baseiam-se principalmente nas palavras do Caboclo das Sete Encruzilhadas que em 15/11/1908, informou aos presentes que estava iniciando ali, um novo culto, chamado Umbanda, onde espíritos de negros e índios poderiam praticar a caridade. Disse também que esta nova religião trabalharia baseada nos Evangelhos de Cristo e que teria como Mestre Supremo: Jesus.

Então, como poderiamos saber qual corrente tem mais razão? 

Vejamos: Estamos no início do século XXI, mais precisamente em 2006 (118 anos depois da Lei Áurea, assinada pela Princesa Isabel).

Porque então os umbandistas continuam com a imagem de Cristo no local mais alto do congá? 

Afinal de contas não existe mais feitor, sinhozinho ou capitão-do-mato. 

Nem a perseguição policial que ocorria no início do século XX. 

Mas estamos lá, ajoelhando, orando e pedindo diante de Sua imagem. Simples, porque no íntimo da grande maioria dos filhos de fé, Cristo é, sem dúvida, o Ser de maior expressão espiritual que passou neste orbe. 

Não bastasse isso, é extremamente comum observarmos nossas Entidades, em especial os Pretos-Velhos, clamando forças a zin Nosso Sinhô Jesus Cristo. 

Teriam esses Guias de Luz, medo do sinhozinho? Ou da Igreja Católica? 

Não, claro que não. Eles pedem a Jesus com imenso respeito e devoção, assim como rogam aos Orixás, pois sabem que dessa forma poderão nos conduzir à trilha que nos leva ao Pai.

Além dos Vovôs e Vovós, isso é muito fácil de se perceber numa gira de baianos ou boiadeiros, que rogam a Nosso Senhor do Bonfim e ao Bom Jesus da Lapa. 

Até quando tratamos com Exus de Lei, estes demonstram um respeito e um carinho especial ao “Nazareno”. 

Alguns o chamam até de “o Coroado” e se mostram satisfeitos em terem enxergado a importância de se trabalhar baseados nos ensinamentos D’Ele. 

Se não bastasse isso, existe um sem-número de pontos cantados que nos remetem à figura do Messias... 

“Abre a porta ó gente, que aí vem Jesus, e ele vem cansado com o peso da cruz...”, “Preto-Velho quando vem, ele vem aos pés da cruz, vem trazendo proteção para os filhos de Jesus ...”, “Jesus nasceu, padeceu e morreu...”, “Seu cava-lo corre, sua espada reluz, sua bandeira cobre todos filhos de Jesus...”, entre outros. 

Sem contar as preces utilizadas, inclusive o Pai Nosso Umbandista, baseado no Pai Nosso ensinado pelo Mestre há cerca de 2000 anos atrás.

Quanto à relação da Umbanda com outros segmentos, notamos forte influência católica e kardecista (ambas religiões cristãs), somada à cultura e fé afro(influência dos espíritos de negros escravos e de ex-participantes desses cultos que vieram a se tornar umbandistas). 

Respeitando a visão de todos os filhos desta linda religião, porém, baseado nessas e em outras tantas questões que poderiam ser formuladas, somadas ainda às palavras do Caboclo das Sete Encruzilhadas, particularmente creio sim numa Umbanda CRISTÃ, universalista e cheia fé nos Orixás, Guias e Protetores Espirituais.

O objetivo do texto não é criar polêmicas ou discussões, até porque seriam em vão, já que 
cada pessoa tem o direito de pensar e acreditar no que quiser, mas apenas de colocar alguns pontos que às vezes passam despercebidos. E, além disso, tenho a certeza de que, acreditando N’Ele ou não, Jesus ampara a todos, assim como os Orixás, que independente do credo da pessoa, estão sempre abertos a trabalhar em prol da caridade. 

Que o Mestre Jesus Cristo, chamado carinhosamente por nós de Pai Oxalá, nos cubra com Seu Manto Sagrado, envolvendo-nos com as energias que traz do Pai Universal - Deus (ou Zambi, Olorum, Tupã,...).-----------


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