José
Lucas
Numa breve viagem efectuada em serviço profissional, não
pude deixar de constatar o mundo que me rodeia, desde o embarque no avião, a
viagem, o desembarque, enfim as múltiplas acções e reacções das pessoas na sua
interacção social.
Confesso que fiquei preocupado ao aperceber-me de uma nova
doença que afecta a sociedade ocidental: chama-se
SIT.
Curiosamente, ao ler "O Livro dos Espíritos",
de Allan Kardec, verdadeira pérola da literatura mundial, onde está confinada a
parte filosófica da Doutrina Espírita (que não é mais uma religião nem mais uma
seita, mas sim ciência, filosofia e moral), no seu capítulo VII intitulado
"Lei de Sociedade", podemos encontrar questões interessantes:
"766 A vida social está na
Natureza?
“Certamente. Deus fez o homem para viver em sociedade. Não
lhe deu inutilmente a palavra e todas as outras faculdades necessárias à vida de
relação.”
767. É contrário à lei da Natureza o isolamento
absoluto?
“Sem dúvida, pois que por instinto os homens buscam a
sociedade e todos devem concorrer para o progresso, auxiliando-se
mutuamente.”
768.Procurando a sociedade,
não fará o homem mais do que obedecer a um sentimento pessoal, ou há nesse
sentimento algum providencial objectivo de ordem mais
geral?
“O homem tem que progredir. Isolado, não lhe é isso
possível, por não dispor de todas as faculdades. Falta-lhe o contacto com os
outros homens. No isolamento, ele se embrutece e
estiola.”
Homem nenhum possui faculdades completas. Mediante a união
social é que elas umas às outras se completam, para lhe assegurarem o bem-estar
e o progresso. Por isso é que, precisando uns dos outros, os homens foram feitos
para viver em sociedade e não isolados."
O ser humano estimulando a sua inteligência, vai criando e
modificando a matéria e o mundo material, tornando-o mais agradável para a sua
vida no quotidiano, que por sua vez se torna mais confortável e mais
feliz.
“O homem tem que
progredir. Isolado, não lhe é isso possível, por não dispor de todas as
faculdades. Falta-lhe o contacto com os outros homens. No isolamento, ele se embrutece e
estiola.” (Allan
Kardec)
Vemos ao longo destes últimos 100 anos, um incremento
fantástico ao nível tecnológico, contribuindo sobremaneira para uma maior e
melhor qualidade de vida do ser humano. Curiosamente, esta tecnologia ao invés
de contribuir para uma partilha saudável de vivências entre os seres humanos,
tem contribuído para um uso desajustado, levando-o ao
isolamento.
Paradoxalmente, nestes tempos que deveriam ser de alegria,
face ao incremento da tecnologia, a sociedade sofre de grave doença mortal, a
solidão, mesmo quando rodeados de uma imensidão de pessoas.
Naquele avião potente, com 200 pessoas a bordo, meditava
fascinado no avanço da tecnologia, naquele grande pássaro de ferro rasgando o
ar, tranquilamente e, verificava com alguma tristeza, que naquela hora e meia de
viagem as 200 pessoas iam, cada uma delas, imersas no seu mundo (com auriculares
ouvindo música ou outra coisa qualquer, com computadores trabalhando ou jogando,
agarrados interminavelmente aos seus telemóveis e/ou agendas electrónicas,
dormindo ou descansando de olhos fechados), ao invés de aproveitarem o tempo
para conversarem, fazerem novos conhecimentos, trocarem ideias, partilharem
opiniões, enfim, sociabilizarem-se.
Foi aí que me apercebi da grave doença, que se vai
instalando silenciosamente, que nos afecta nos dias de hoje: a "SIT" (Solidão,
Isolamento e Tecnologia).
Se as novas tecnologias são uma bênção para a humanidade, o
seu uso deve ser efectuado com parcimónia, de modo a que o rumo orientador de
sociabilização apontado em "O Livro dos Espíritos", nos itens
acima referidos, não venham a ser postos em causa por este flagelo que associa a
tecnologia ao isolamento e à solidão do ser humano.
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