A ECOLOGIA À LUZ DO ESPIRITISMO
Izabel
Gurgel
I - INTRODUÇÃO
A partir do momento da criação do mundo passaram-se muitos milhões
de anos até que a configuração do planeta Terra assumisse a forma que nós
conhecemos hoje.
Isso já deixa antever que a Criação não permite que a Natureza dê
saltos , o que dificultaria, desta maneira, a evolução lenta e progressiva pela
qual passaram os diferentes seres dos diferentes reinos que estão neste planeta,
não só no que diz respeito à crosta terrestre propriamente dita, bem como tudo
aquilo que compõe o quadro natural, além das inter-relações intrínsecas, entre a
camada gasosa que envolve a terra , conhecida como atmosfera e, este mesmo
planeta.
Em nossos dias, o desenvolvimento científico e tecnológico, nos
permite saber que esta configuração não foi e nem é definitiva e mais, que ela
está em constante modificação, ao longo do tempo e do espaço, segundo uma
dinâmica própria em consonância com o planejamento dos Arquitetos Siderais, em
função do equilíbrio cósmico.
A Natureza como um todo, e todo o Cosmos, segue o seu curso
evolutivo e, esse ambiente do planeta Terra que foi destinado ao Homem para que
nele desenvolvesse também o seu caminho lento e progressivo de evolução, em
equilíbrio com tudo aquilo que está à sua volta, e, sobretudo, com a grave
responsabilidade de conviver pacífica e harmoniosamente com seus semelhantes e
com este ambiente que o cerca.
Hoje em dia, neste final de século, em que o clamor de boa parte
da humanidade ainda se volta para a saúde e o pulsar do planeta, verificamos que
a espécie Homo sapiens, da qual o homem é o seu representante de topo,
esta longe o bastante para que se possa dizer que este mesmo homem procurou
conservar o seu patrimônio natural que lhe foi posto à disposição para os anos a
seguir.
Por outro lado, pelo menos desde que os profetas, avatares e
principalmente Jesus, vieram trazer os ensinamentos necessários para conduzir a
mente do homem também para as coisas do Pai, desde Moisés que, muito tempo antes
da vinda de Jesus, mesmo que ainda predominasse a Lei de talião, do “Olho por Olho e Dente por Dente”, que
vem a Humanidade sendo preparada para se colocar numa posição hominal, não só em
relação à sua estatura bípede (a qual já a possuía há muito tempo), mas,
sobretudo em relação à elevação de seus pensamentos para Deus e para as coisas
do Espírito, através do Amor Crístico
Universal.
Jesus, quando de sua descida à Terra, estabeleceu a Escola
Iniciática na Doutrina do Amor, tendo dito que trazia um único Mandamento: “Amem a Deus sobre todas as coisas e ao
próximo como a si mesmos”, pela caridade, pela fraternidade, pelo amor
ilimitado e que só assim o Reino de Deus estaria com suas portas abertas para
todos aqueles que, desta forma, passassem a conduzir suas vidas, sendo esta a
grande orientação deixada por Ele para toda a
humanidade.
Ao findar o Segundo Milênio, vê-se que o homem pouco apreendeu, ou
sequer colocou em prática tais ensinamentos representados por essa grande
síntese proposta por Jesus. E se não foi capaz de amar a seu Deus, como teria
sido capaz de amar a si próprio e ao próximo como a si
mesmo?
Considerando que ele próprio vem permitindo degradar sua matéria
pelo uso abusivo dos prazeres da matéria e as ilusões que só as artificialidades
da personalidade, de seu Ego super dimensionado trazem para si, pode-se imaginar
os danos que este mesmo Ser humano vem causando ao ambiente natural que o
cerca.
II - O QUE É ECOLOGIA?
Antes de continuarmos, devemos saber qual o significado do termo
Ecologia: oikos , em grego, quer dizer “casa”, “lugar onde se vive” e logos,
também do grego, significa, “estudo de”.
Ecologia, de forma literal, pode ser entendida como “o estudo dos organismos em sua
casa”.
Mas, como definição, podemos ter como sendo o estudo dos
organismos ou de grupos de organismos em relação ao seu ambiente. Ou ainda, a
ciência das interelações entre os organismos vivos e seu
ambiente.
Considerando-se que a ecologia esta relacionada com a biologia de
grupos de organismos e com processos funcionais nas terras, oceanos e águas
doces é mais acurado dizer-se que ecologia é o estudo da estrutura e funções da
natureza (admitindo-se que a humanidade é parte integrante dela), ou ainda: é a
ciência do “ambiente vivo” ou simplesmente “da biologia ambiental”.
Pelo que pode-se ver do que foi dito acima em termos de
conceituações, o Homem tem-se interessado pela Ecologia de uma forma prática,
nada pragmática, desde muito cedo em sua História. Nas
sociedades primitivas, cada indivíduo, para sobreviver, precisou ter um
conhecimento definido do seu ambiente, isto é, para saber valer-se dele,
precisou compreender as forças da Natureza , dos seus diferentes reinos, quer
dizer: dos minerais, vegetais e demais
animais.
O fruto de suas próprias observações levou esse homem primitivo a
observar os astros em seu deslocamento pelo céu, os ventos, a chuva, as
variações de temperatura, as correntes marinhas, as marés, as estações do ano,
as plantas a serem cultivadas, por exemplo, e assim, empiricamente, mas
perfeitamente integrado com tudo o que a natureza se lhe apresentava permitiu
que sua trajetória evolutiva se processasse e chegasse onde estamos hoje, quando
a Ciência e a Tecnologia contemporânea, já permitiram levar o Homem a explorar
espaços e planetas outros que a Terra, tendo há trinta anos atrás, sido-lhe
permitido pisar o solo lunar e retornado à Terra, são e
salvo.
Só que o descompasso havido ao longo do tempo, levou o nosso
planeta à situação em que se encontra em nossos dias, não precisando acrescentar
as crises e os problemas que o próprio homem criou, mas que não se preocupou
muito em resolvê-los, pelo menos, de forma objetiva e
concreta.
Se considerarmos que as crises morais, sociais e filosóficas
engendradas pelo Homem vieram refletir-se, de forma inexorável, sobre o meio que
o cerca, como podemos esperar, por mais auto-regenerador que seja o Sistema de
Gaia, que o Homem encontre um caminho pacífico e obedecendo os princípios
básicos da Natureza para resolver tais
conflitos?
“A pressão sobre o meio
ambiente é, ao mesmo tempo, causa e efeito de tensões políticas e conflitos
militares. As nações freqüentemente lutaram para ter ou manter o controle de
matérias primas, suprimento de energia, terras, bacias fluviais , passagens
marítimas e outros recursos ambientais básicos. Esses conflitos tendem a
aumentar à medida que os recursos escasseiam e aumenta a competição por
eles”,
este trecho é encontrado na página 325 do relatório BRUNDTLAND, de 1988,
da Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, no livro “Nosso Futuro Comum”, vindo
corroborar o que foi dito acima.
Se hoje podemos compreender que a religião é a re-ligação
do Homem com Deus Criador, reconectar-se com a Teia da Vida significa, dentro da
observância da Lei de Evolução, construir e alimentar comunidades sustentáveis
nas quais podemos satisfazer nossas necessidades a aspirações, sem diminuirmos
as chances das gerações futuras, tentando o homem de todas as formas possíveis
minimizar os efeitos, por mais nefastos que sejam, das disputas políticas entre
as nações, sobre o meio ambiente.
Por causa disso, precisamos reaprender alguns princípios básicos
de Ecologia.
Considerando-se que, basicamente todos os sistemas vivos exibem os
mesmos princípios de organização, todas as comunidades são redes
organizacionalmente fechadas, mas abertas a fluxos de energia e de
recursos.
Por causa disso, o Homem precisa entender que apenas compreender
os ciclos da natureza não lhe basta mais; faz-se necessário que ele traga isso
para todas as experiências por que passa ao longo de sua vida. Além do princípio
da interdependência, isto é, a dependência mútua de todos os processos vivos uns
aos outros, que é a natureza de todo relacionamento ecológico que precisa ser
igualmente incorporada, há a necessidade de o homem compreender porque
determinadas crises ocorrem em certas regiões da Terra, como conseqüência de sua
inadequada prática do uso da terra, por
exemplo.
Compreender a interdependência ecológica significa compreender o
relacionamento das partes com o todo, dos objetos com os relacionamentos, do
conteúdo aos padrões.
III- A ECOLOGIA À LUZ DO
ESPIRITISMO
Encontramos no livro “O Consolador”, pelo Espírito
Emmanuel, psicografado por Francisco Cândido Xavier, as questões de número 27,
28 e 121, em que se lê:
“Como devemos compreender a
Natureza?”
e a resposta de Emmanuel foi a seguinte: “A Natureza é sempre o livro divino, onde a
mão de Deus escreveu a história de sua sabedoria, livro da vida que constitui a
escola de progresso espiritual do homem evoluindo constantemente com o esforço e
a dedicação de seus discípulos”.
Em seguida, foi perguntado a Emmanuel: As manifestações de vida dos vários reinos
da Natureza, abrangendo o Homem, significam a expressão do Verbo Divino, em
escala gradativa nos processos de aperfeiçoamento da Terra? Ao que foi por
ele respondido: “Sim em todos os reinos
da Natureza palpita a vibração de Deus, como o Verbo Divino da Criação Infinita;
e, no quadro sem-fim do trabalho de experiência, todos os princípios, como todos
os indivíduos, catalogam os seus valores e aquisições sagradas para a vida
imortal.
A pergunta 121 é a seguinte: “O meio Ambiente influi no Espírito?” e
Emmanuel responde: “O meio ambiente em que a alma renasceu, muitas vezes
constitui a prova expiatória; com poderosas influências sobre a personalidade,
faz-se indispensável que o coração esclarecido coopere na sua transformação para
o bem, melhorando e elevando as condições materiais e morais de todos os que
vivem na sua zona de influência”.
Pelo exposto, podemos ver que a Ecologia à luz do Espiritismo,
certamente diz respeito à uma ecologia mais profunda, da consciência ecológica
que deve vir do respeito à qualquer forma de preservação da vida, do respeito
pela vida, que vem do religare
espiritual.
É intenção de Deus de que todos os Seus filhos sejam felizes e,
mesmo que nossa Humanidade atual, esteja neste planeta em fase de provas e
expiações, com tudo isso nosso Deus, nos deu, por empréstimo um mundo muito
belo, como um verdadeiro caleidoscópio de ambientes, com relevo, rios,
montanhas, grutas, vales, florestas, cachoeiras, desertos, regiões cobertas de
gelo, sendo as temperaturas muito baixas, fatores limitantes para qualquer forma
de vida, onde apenas aquelas que possuam as precondicionantes e que foram
sofrendo adaptações lentas e progressivas ao longo do tempo geológico,
aperfeiçoaram-se de forma a viver em locais muito inóspitos e assim, para todas
as demais formas de vida distribuídas pelas diferentes regiões biogeográficas de
nosso planeta.
Se a intenção de Deus tivesse sido apreendida ao longo do tempo,
sobretudo, no último século, pelos habitantes da Terra, não estaríamos diante
dos descalabros que constatamos hoje em
dia.
Naturalmente a Terra foi passando por transformações (algumas
quase imperceptíveis, enquanto outras, com características catastróficas) e os
agentes naturais da Natureza, foram fazendo o seu trabalho, todos eles regidos
pela batuta invisível dos Engenheiros
Siderais.
As paisagens foram se sucedendo e com isso, muitas delas foram
desaparecendo num lugar e aparecendo outras, em outros locais, e com elas todo o
conjunto de formas vivas igualmente passaram pelo mesmo processo, que é sempre
de cunho evolutivo, provendo assim, um saneamento de algumas
regiões.
Entretanto, o que se apresenta no mundo atual, resguardadas
algumas paisagens naturais que o Homem ainda não conseguiu modificar de forma
muito indecorosa, o Continente Antártico sendo um desses exemplos, denota a
total incúria e desrespeito, sobretudo do Homem contemporâneo, à Natureza que o
cerca, sobretudo vindo a desestabilizar os ciclos biogeoquímicos do planeta,
destruindo a camada de Ozônio que a protege da incidência muito acentuada dos
raios ultravioleta, o efeito estufa, acrescido do lançamento cada vez maior de
CO2 e outros gases que aceleram o efeito estufa, da utilização de
defensivos agrícolas que, em nome de um melhor rendimento de safras e com
conseqüências danosas para todos os seres vivos, estão poluindo as terras e os
rios, e que, por sua vez irão poluir os mares; e o efeito do “El Ninõ e La Niña”,aí também estão como exemplos
muito nefastos.
Hoje, sabemos que estamos na iminência de catástrofes ecológicas
de conseqüências imprevisíveis, caso o Homem não desperte rápido do seu sonho
destrutivo, em nome do progresso e do desenvolvimento, de um condomínio que esta
sob nossa responsabilidade e guarda, mas que pertence a nosso Deus Criador
apenas para quadro de nossa evolução e para ver se despertamos e nos
religamos às realidades da Criação.
IV- PERSPECTIVAS
Mahatma Gandhi disse certa vez: “Nós precisamos ser a mudança que nós queremos ver no
mundo”.
De certa forma é a constatação do que foi dito acima com relação à
pergunta de número 29 feita ao Espírito Emmanuel, mas sobretudo em sua resposta,
no que tange a própria transformação do Homem para o bem , melhorando e elevando
as condições materiais e morais de todos aqueles que vivem em sua esfera de
interferência.
E essência do que Gandhi quis dizer foi que, antes que o homem
deseje modificar o mundo, ele deve, antes de mais nada, começar por modificar-se
a si próprio.
Essa modificação se realiza em dois sentidos: de dentro para fora,
isto é, em seus próprios pensamentos, em suas palavras e em suas ações, em
relação a ele mesmo e projetando isso para o seu mundo exterior, e, por sua vez,
recebendo dele todas as informações necessárias para se engrandecer em
conhecimentos, em experiências , sobretudo se modificar para melhor e, por
conseguinte, SER aquilo que queremos para o nosso mundo, para o meio, com todo o
seu conjunto de funções e de estruturas, mas admitindo que não é a sua vontade
pessoal que deve imperar, mas sim o bem estar da humanidade, dotada da mesma
paz, equilíbrio e auto-conhecimento que ele próprio.
Através da Educação , que é uma espécie de jornada para dentro do
próprio “eu”, certamente o desejado
equilíbrio, necessário para que haja uma ação mais efetiva do homem em busca da
sua própria evolução, se dará através da busca do equilíbrio saudável dos
elementos no ambiente global e que também se aplicam ao equilíbrio saudável das
forças que constituem os sistemas políticos. Em outras palavras, é através do
auto-conhecimento consciente e disciplinado que poderá o homem chegar ao cerne
deste processo, que é eminentemente
educativo.
Al Gore disse em seu livro “O Equilíbrio da Terra”, de 1992, “que não surpreende que tenhamos nos tornado
tão desconcertados com o mundo natural - e é incrível que ainda sintamos alguma
conexão com nós mesmos. Acostumamo-nos com a idéia de um mundo sem futuro. As
engenhocas de distração estão gradualmente destruindo a ecologia interior da
experiência humana. O essencial para esta ecologia é o equilíbrio entre o
respeito pelo passado e a fé no futuro, entre a crença no indivíduo e um
compromisso com a comunidade, entre o nosso amor pelo mundo e o nosso medo de
perdê-lo. Um equilíbrio, em outras palavras, do qual o ambientalismo espiritual
depende”.
V - BIBLIOGRAFIA
ARAÚJO, H.L. - “Alguém Vela por Voce”,
Aliança da Fraternidade. 1995.
XAVIER,F.C. ( Emmanuel).- “O Consolador”, FEB, 1940.
Nosso Futuro Comum. Relatório da Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento. Ed. da Fundação Getúlio Vargas. 1988
ODUM,E.P.- Fundamentals of Ecology. 2nd. Edition. 1959
PLANETA - ”Meditação. - Vamos Salvar a Terra?”. número 13. 1999.
XAVIER,F.C. ( Emmanuel).- “O Consolador”, FEB, 1940.
Nosso Futuro Comum. Relatório da Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento. Ed. da Fundação Getúlio Vargas. 1988
ODUM,E.P.- Fundamentals of Ecology. 2nd. Edition. 1959
PLANETA - ”Meditação. - Vamos Salvar a Terra?”. número 13. 1999.
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