terça-feira, 6 de maio de 2014

AS COLÔNIAS ESPIRITUAIS E A CODIFICAÇÃO
Mar/2014

“Tudo deve estar em harmonia, no mundo espiritual, como no mundo material; aos homens corpóreos, são necessários objetos materiais; aos Espíritos, cujo corpo é fluídico, são necessários objetos fluídicos, os objetos materiais não lhes serviriam, não mais do que os objetos fluídicos não serviriam aos homens corpóreos”. (KARDEC).

Quando vemos companheiros, de conhecimento muito maior que o nosso, dizerem que as colônias espirituais mencionadas por André Luiz, via psicografia de Francisco Cândido Xavier (1910-2002) não existem, ficamos a pensar se, pessoalmente, estamos “viajando na maionese”.

Isso nos preocupa sobremaneira visto ser nosso objetivo o de não fugir dos conceitos emanados das obras da Codificação Espírita; mais ainda: quando vamos às tribunas, nas casas espíritas, fazer estudos de temas evangélicos ou doutrinários, o que falamos nessas oportunidades, para muitas pessoas, é visto como se fosse tudo ponto doutrinário, já que nos veem como que falando em nome da Doutrina, como se tivéssemos dela uma procuração, e não como interpretando seus postulados.

Há uma orientação de Erasto que não podemos nos esquecer dela; caso contrário, repudiaremos qualquer nova ideia: 
Na dúvida, abstém-te, diz um de vossos antigos provérbios; não admitais, pois, senão o que vos é de uma evidência certa. Desde que uma opinião nova surge, por pouco que ela vos pareça duvidosa, passai-a pelo crivo da razão e da lógica; o que a razão e o bom senso reprovam, rejeitai-o ousadamente; mais vale repelir dez verdades, do que admitir uma única mentira, uma única teoria falsa. Com efeito, sobre essa teoria, poderíeis edificar todo um sistema que desabaria ao primeiro sopro da verdade, como um monumento edificado sobre uma areia movediça; ao passo que, se rejeitais hoje certas verdades, porque elas não vos são demonstradas lógica e claramente, logo um fato brutal, ou uma demonstração irrefutável, virá vos afirmar a sua autenticidade. (KARDEC, 1993f, p. 242, grifo nosso).
Então, devemos ter mente aberta para o novo; porém, devemos analisá-lo, passando-o pelo crivo da lógica e da razão, para evitar que sejamos facilmente enganados por ideias estapafúrdias. É, também, importante abdicar da ojeriza gratuita que, às vezes, temos por coisas que julgamos fora da Codificação, pois pode estar lá e ainda não as vimos.

A iniciativa de estudar o tema surgiu quando estávamos lendo a obra Devassando o invisível, de Yvonne do Amaral Pereira (1900-1984), em que a autora, no Capítulo I, “Nada de novo...”, apresenta vários argumentos para defender a realidade das colônias espirituais, contrapondo-se, ao que se deduz do teor do texto, aos que, na sua época, não as aceitam como realidade; não é, portanto uma obra mediúnica; reflete, apenas, a opinião pessoal da médium, calcada nas suas experiências provinda do exercício de sua mediunidade, notadamente a de emancipação consciente de sua alma.

O que achamos fantástico é a menção que Yvonne faz de personalidades renomadas terem comungado com essa ideia, entre elas e de um modo especial, cita nada menos que Léon Denis (1846-1927), que sabemos ter sido o continuador de Kardec, após o seu desencarne.

Alguns companheiros têm as obras de Allan Kardec (1804-1869) como se nelas a doutrina estivesse completa e acabada; porém, parece-nos, não ser bem assim: 
Mas, dir-se-á, ao lado destes fatos [referindo-se às manifestações espíritas] tendes uma teoria, uma doutrina; quem vos diz que essa teoria não sofrerá variações; que a de hoje será a mesma em alguns anos?

Sem dúvida, ele pode sofrer modificações em seus detalhes, em consequência de novas observações. Mas estando o princípio doravante adquirido, não pode variar e ainda menos ser anulado; aí está o essencial. Desde Copérnico e Galileu, calculou-se melhor o movimento da Terra e dos astros, mas o fato do movimento permaneceu com o princípio. (KARDEC, 2000c, p. 40, grifo nosso).

[…] As lacunas que a teoria atual pode ainda encerrar se encherão do mesmo modo. O Espiritismo está longe de ter dito a última palavra, quanto às suas consequências, mas é inabalável em sua base, porque esta base se assenta sobre os fatos. (KARDEC, 2000c, p. 41, grifo nosso).

O Livro dos Espíritos não é um tratado completo do Espiritismo; não faz senão colocar-lhe as bases e os pontos fundamentais, que devem se desenvolver sucessivamente pelo estudo e pela observação. (KARDEC, 1993j, p. 223, grifo nosso).

Se bem que o Espiritismo não haja dito ainda a sua última palavra sobre todos os pontos, ele se aproxima de seu complemento, e o momento não está longe em que lhe será necessário dar uma base forte e durável, suscetível, no entanto, de receber todos os desenvolvimentos que as circunstâncias ulteriores comportarem, e dando toda segurança àqueles que se perguntam quem lhe tomará as rédeas depois de nós. (KARDEC, 1993j, p. 370, grifo nosso).

O programa da Doutrina não será, pois, invariável senão sobre os princípios passados ao estado de verdades constatadas; para os outros, ela não os admitirá, como sempre o fez, senão a título de hipóteses até a confirmação. Se lhe for demonstrado que ela está no erro sobre um ponto, ela se modificará sobre esse ponto. (KARDEC, 1993j, p. 377, grifo nosso).

Além disso, convém notar que em parte alguma o ensino espírita foi dado integralmente; ele diz respeito a tão grande número de observações, a assuntos tão diferentes, exigindo conhecimentos e aptidões mediúnicas especiais, que impossível era acharem-se reunidas num mesmo ponto todas as condições necessárias. […].

A revelação faz-se assim parcialmente em diversos lugares e por uma multidão de intermediários e é dessa maneira que prossegue ainda, pois que nem tudo foi revelado. (KARDEC, 2007e, p. 49, grifo nosso).

[…] Caminhando de par com o progresso, o Espiritismo jamais será ultrapassado, porque, se novas descobertas lhe demonstrarem estar em erro acerca de um ponto qualquer, ele se modificará nesse ponto. Se uma verdade nova se revelar, ele a aceitará. (KARDEC, 2007e, p. 54, grifo nosso).
Existem mais considerações de Kardec, mas essas citadas já são suficientes para se perceber que o Espiritismo não é uma Doutrina acabada e nem fechada; pode (e deve), sim, incorporar novos pontos que não foram definidos no início da Codificação e, se for o caso, modificar-se naquilo em que a Ciência provar que ele está errado.

Antes de apresentar alguns parágrafos da obra de Yvonne Pereira, iremos ver se na Codificação podemos encontrar “espaço” para defender essa ideia.

Tomaremos, especificamente, da obra O Céu e o Inferno para análise de alguns de seus trechos: 
[…] Além disso, em vez de perdidos nas profundezas do Espaço, estão ao redor de nós; o mundo corporal e o mundo espiritual identificam-se em perpétuas relações, assistindo-se mutuamente. (p. 28).

Existem, portanto, dois mundos: o corporal, composto de Espíritos encarnados; e o espiritual, formado dos Espíritos desencarnados. Os seres do mundo corporal, devido mesmo à materialidade do seu envoltório, estão ligados à Terra ou a qualquer globo; o mundo espiritual ostenta-se por toda parte, em redor de nós como no Espaço, sem limite algum designado. Em razão mesmo da natureza fluídica do seu envoltório, os seres que o compõem, em lugar de se locomoverem penosamente sobre o solo, transpõem as distâncias com a rapidez do pensamento. A morte do corpo não é mais que a ruptura dos laços que os retinham cativos. (p. 32).

O mundo espiritual tem esplendores por toda parte, harmonias e sensações que os Espíritos inferiores, submetidos à influência da matéria, não entreveem sequer, e que somente são acessíveis aos Espíritos purificados. (p. 33).

O Espírito progride igualmente na erraticidade, adquirindo conhecimentos especiais que não poderia obter na Terra, e modificando as suas ideias. […]. (p. 36).

12. A felicidade dos Espíritos bem-aventurados não consiste na ociosidade contemplativa, que seria, como temos dito muitas vezes, uma eterna e fastidiosa inutilidade.

A vida espiritual em todos os seus graus é, ao contrário, uma constante atividade, mas atividade isenta de fadigas. (p. 37).

15. Todas as inteligências concorrem, pois, para a obra geral, qualquer que seja o grau atingido, e cada uma na medida das suas forças, seja no estado de encarnação ou no espiritual. Por toda parte a atividade, desde a base ao ápice da escala, instruindo-se, coadjuvando-se em mútuo apoio, dando-se as mãos para alcançarem o zênite. (p. 38).

25º – Espíritos há mergulhados em densa treva; outros se encontram em absoluto insulamento no Espaço, atormentados pela ignorância da própria posição, como da sorte que os aguarda. Os mais culpados padecem torturas muito mais pungentes por não lhes entreverem um termo.
Alguns são privados de ver os seres queridos, e todos, geralmente, passam com intensidade relativa pelos males, pelas dores e privações que a outrem ocasionaram. Esta situação perdura até que o desejo de reparação pelo arrependimento lhes traga a calma para entrever a possibilidade de, por eles mesmos, pôr um termo à sua situação.

26º – Para o orgulhoso relegado às classes inferiores, é suplício ver acima dele colocados, cheios de glória e bem-estar, os que na Terra desprezara. O hipócrita vê desvendados, penetrados e lidos por todo o mundo os seus mais secretos pensamentos, sem que os possa ocultar ou dissimular; o sátiro, na impotência de os saciar, tem na exaltação dos bestiais desejos o mais atroz tormento; vê o avaro o esbanjamento inevitável do seu tesouro, enquanto que o egoísta, desamparado de todos, sofre as consequências da sua atitude terrena; nem a sede nem a fome lhe serão mitigadas, nem amigas mãos se lhe estenderão às suas mãos súplices; e pois que em vida só de si cuidara, ninguém dele se compadecerá na morte. (p. 105-106).

(KARDEC, 2007d, passim, grifo nosso).
Acreditamos que tudo o que acima é falado pode, sim, servir de base para que a vida no mundo espiritual não seja apenas uma bela tela com “anjos tocando harpa”; é ativa e com reais possibilidade de aprendermos muitas coisas, quando nele estamos, no intervalo das reencarnações: “Por toda a parte, no mundo espiritual, a atividade, em nenhum ponto a ociosidade inútil”. (KARDEC, 2007e, p. 251).

Yvonne A. Pereira, tece várias considerações, quanto à possibilidade de existirem colônias no mundo espiritual; dentre elas destacamos: 
Desde o advento da Doutrina Espírita, os nobres habitantes do mundo espiritual que se têm comunicado com os homens, através de grande variedade de médiuns, afirmam ser a Terra um pálido reflexo do Espaço. ”O Livro dos Médiuns", de Allan Kardec, no belo capítulo VIII – “Do Laboratório do Mundo Invisível” – é fecundo em explicações que oferecem base para estudos e conclusões muito profundas quanto à vertiginosa intensidade do plano invisível, a possibilidade de realizações, ali, por assim dizer, “materiais”, que as entidades desencarnadas sempre afirmaram e que nos últimos tempos vêm confirmando com insistência e pormenores dignos de atenção. E no precioso compêndio “A Gênese”, também de Allan Kardec, lemos o seguinte, no capítulo XIV, sob o título – Ação dos Espíritos sobre os fluidos – Criações fluídicas – Fotografias do pensamento:

“Os fluidos espirituais, que constituem um dos estados do fluido cósmico universal, são, a bem dizer, a atmosfera dos seres espirituais; o elemento donde eles tiram os materiais sobre que operam; o meio onde ocorrem os fenômenos especiais, perceptíveis à visão e à audição do Espírito, mas que escapam aos sentidos carnais, impressionáveis somente à matéria tangível; o meio onde se forma a luz peculiar ao mundo espiritual, diferente, pela causa e pelos efeitos, da luz ordinária; finalmente, o veículo do pensamento, como o ar o é do som.

“Os Espíritos atuam sobre os fluidos espirituais, não manipulando-os como os homens manipulam os gases, mas empregando o pensamento e a vontade. (O grifo é nosso.) Para os Espíritos, o pensamento e a vontade são o que é a mão para o homem. Pelo pensamento, eles imprimem àqueles fluidos tal ou qual direção, os aglomeram, combinam ou dispersam, organizam com eles conjuntos que apresentam uma aparência, uma forma, uma coloração determinadas; mudam-lhes as propriedades, como um químico muda a dos gases ou de outros corpos combinando-os segundo certas leis. É a grande oficina ou laboratório da
vida espiritual”. (Parágrafos 13 e 14.)

E, no parágrafo 3, desse mesmo capítulo, encontraremos:

“No estado de eterização, o fluido cósmico não é uniforme: sem deixar de ser etéreo, sofre modificações tão variadas em gênero e mais numerosas talvez do que no estado de matéria tangível. Essas modificações constituem fluidos distintos que, embora procedentes do mesmo princípio, são dotados de propriedades especiais e dão lugar aos fenômenos peculiares ao mundo invisível. Dentro da relatividade de tudo, esses fluidos têm para os Espíritos, que também são fluídicos, uma aparência tão material, quanto a dos objetos tangíveis para os encarnados, e são, para eles, o que são para nós as substâncias do mundo terrestre. Eles os elaboram e combinam para produzirem determinados efeitos, como fazem os homens com os seus materiais, ainda que por processos diferentes”.

Os próprios Espíritos ditos sofredores, até mesmo os criminosos, que se costumam apresentar em bem dirigidas sessões práticas, narram acontecimentos reais, positivos, que no Invisível se sucedem, um modo de viver e de agir, no Espaço, muito distanciado daquele estado vago, indefinível, inexpressivo, que muitos entendem seja o único verdadeiro, quando a Revelação propala, desde o início, um mundo de vida intensa, mundo real e de realidades, onde o trabalho se desdobra ao infinito e as realizações não conhecem ocasos. Nas entrelinhas de grandes e conceituadas obras doutrinárias, existem claras alusões a sociedades, ou “colônias”, organizadas no Além-Túmulo, onde avultamcidades, casas, palácios, jardins, etc., etc. […]. (PEREIRA, 1987, p. 10-12, grifo do original).
Esses argumentos são pertinentes e, s.m.j, condizem com o que se poderia esperar de um estudioso em defesa de seu ponto de vista, ou seja, basear-se nas obras da Codificação. A surpresa maior veio na sequência, quando Yvonne cita Léon Denis:

Na erudita e encantadora obra “Depois da Morte”, do eminente colaborador de Allan Kardec, Léon Denis, o qual, como sabemos, além de primoroso escritor foi um grande inspirado pelos Espíritos de escol, à página 235 da 7ª edição (FEB), Cap. XXXV, a exposição dessa tese não somente é fecunda e expressiva, como também mesclada de grande beleza, como tudo o que passou por aquele cérebro e aquela pena. Diz Léon Denis, na citada obra: 
“O Espírito, pelo poder da sua vontade, opera sobre os fluidos do Espaço, combina-os e os dispõe a seu gosto, dá-lhes as cores e as formas que convêm ao seu fim. É por meio desses fluidos que se executam obras que desafiam toda comparação e toda análise. Construções aéreas, de cores brilhantes, de zimbórios resplandecentes: circos imensos onde se reúnem em conselho os delegados do Universo; templos de vastas proporções, donde se elevam acordes de uma harmonia divina; quadros variados, luminosos: reproduções de vidas humanas, vidas de fé e de sacrifício, apostolados dolorosos, dramas do Infinito (1). Como descrever magnificências que os próprios Espíritos se declaram impotentes para exprimir no vocabulário humano? É nessas moradas fluídicas que se ostentam as pompas das festas espirituais. Os Espíritos puros, ofuscantes de luz, se agrupam em famílias. Seu brilho e as cores variadas de seus invólucros permitem medir a sua elevação, determinar os seus atributos”. (Os grifos são nossos.).

E ainda outros trechos desse belo volume trazem informações a respeito do assunto, bastando que o leiamos com a devida atenção, bem assim vários capítulos de outra obra sua – “O Problema do Ser, do Destino e da Dor”. Em outro magnífico livro do grande Denis – “No Invisível” –, à página 470, no cap. XXVI, da 3ª edição (FEB), há também este pequeno trecho, profundo complexo, sugestivo, descortinando afirmações grandiosas:

“Dante Alighieri é médium incomparável. Sua “Divina Comédia” é uma peregrinação através dos mundos invisíveis. Ozanã, o principal autor católico que já analisou essa obra genial, reconhece que o seu plano é calcado nas grandes linhas da iniciação nos mistérios antigos, cujo princípio, como é sabido, era a comunhão com o oculto”. (Os grifos são nossos.)

Assim se expressa o grande inspirado Léon Denis, em suas obras, e, se mais não transcrevemos aqui, será por economia de espaço, que precisaremos atender. Do exposto, no entanto, deduziremos que a “Divina Comédia” não apresenta tão somente fantasias, como imaginaram os próprios eruditos, mas ocorrências reais do Além-Túmulo, que o poeta visionário mesclou de divagações, talvez propositadamente, numa época de incompreensões e preconceitos ainda mais intransigentes que os verificados em nossos dias (2).
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(1) São essas reproduções de vidas humanas que os Instrutores Espirituais dão a ver aos médiuns, no Espaço, durante o sono letárgico, ou desdobramento, e dos quais se originam os romances mediúnicos, sempre tão atraentes. Vide capítulo VI.

(2) Dante Alighieri – Ilustre poeta e pensador italiano, nascido em 1265 e falecido em 1321, autor do poema épico “Divina Comédia”, considerado “uma das mais altas concepções do espírito humano”. Esse poema contém as ideias e a filosofia da Idade Média e se divide em três pontos: o Inferno, o Purgatório e o Paraíso, e figura uma viagem do poeta ao Mundo Invisível. Pode-se acrescentar que essa obra imortal criou a poesia e a linguagem italianas.

(PEREIRA, 1987, p. 12-14, grifo do original).
Apresentar Léon Denis como defensor da causa foi algo como que um certeiro “tiro na mosca”, porquanto não há o que se falar de serem antidoutrinárias as colocações dele, e muito menos, que tenha “viajado na maionese”, como se diz popularmente.

Mas Yvonne, ao apresentar argumentos filosóficos, baseada em Denis, não para por aí; com outro personagem busca a vertente científica, ao trazer as considerações do sábio italiano Ernesto Bozzano (1862-1943): 
Os preciosos volumes escritos pelo sábio psiquista italiano Ernesto Bozzano, produto de severa análise científica, são férteis em apontar esses mesmos locais do Invisível, revelados por Espíritos desencarnados de adiantamento moralespiritual normal, cujas comunicações, psicografadas por vários médiuns desconhecidos uns dos outros, alguns até completamente alheios ao Espiritismo, foram examinadas e cientificamente analisadas por aquele ilustre autor. Ser-nosá impossível transcrever, aqui, muitos trechos de Bozzano a respeito, visto que em suas obras encontramos fartas observações em torno da tese em apreço. Limitar-nos-emos a citar alguns trechos do interessante livro “A Crise da Morte”, onde substancioso noticiário encontraremos sobre o assunto, além de alguns “detalhes fundamentais” da sua análise sobre comunicações com Espíritos desencarnados. Assim é que, no “Décimo-quarto caso”, analisando uma das comunicações inseridas no mesmo volume, Bozzano observa que – a paisagem “astral” se compõe de duas séries de objetivações do pensamento, bem distinta uma da outra. A primeira é permanente e imutável, por ser a objetivação do pensamento e da vontade de entidades espirituais muito elevadas, prepostas ao governo das esferas espirituais inferiores; a outra é, ao contrário, transitória e muito mutável; seria a objetivação do pensamento e da vontade de cada entidade desencarnada, criadora do seu próprio meio imediato”.

(3) (Os grifos são nossos.)

À página 153 da referida obra, nas “Conclusões” relativas ao último caso, leremos o seguinte, no “detalhe fundamental” nº 6:

“Terem-se achado (os Espíritos recém-desencarnados) num meio espiritual radioso e maravilhoso (no caso de mortos moralmente normais), e num meio tenebroso e opressivo (no caso de mortos moralmente depravados)”.

No “detalhe” nº 7:

“Terem reconhecido que o meio espiritual era um novo mundo objetivo, substancial, real, análogo ao meio terrestre espiritualizado”.

No “detalhe” nº 8:

“Haverem aprendido que isso era devido ao fato de que, no mundo espiritual, o pensamento constitui uma força criadora, por meio da qual todo Espírito existente no mundo ‘astral’ pode reproduzir em torno de si o meio de suas recordações”.
No “detalhe” nº 12:

“Terem aprendido que os Espíritos dos mortos gravitam fatalmente e automaticamente para a esfera espiritual que lhes convém, por virtude da lei de afinidades”. (Os grifos são nossos.)

E ponderamos nós: Se os Espíritos dos mortos fatalmente e automaticamente gravitam para a esfera espiritual que lhes convém, é que tais esferas existiam mesmo antes de eles para lá gravitarem, criadas, certamente, por outros Espíritos, com os quais passarão a colaborar, na medida das próprias forças. Com efeito. No “detalhe secundário” nº 4, do mesmo caso,

Bozzano analisa:

“Acham-se de acordo (as almas dos mortos) em afirmar que, embora os Espíritos tenham a faculdade de criar mais ou menos bem, pela força do pensamento, o que lhes seja necessário, todavia, quando se trata de obras complexas e importantes, a tarefa é confiada a grupos de Espíritos que nisso se especializaram”.

Dentre as comunicações analisadas por Bozzano, ressaltaremos as concedidas pelo Espírito do inesquecível artista cinematográfico Rodolfo Valentino, falecido em Agosto de 1926, à sua esposa Natacha Rambowa, nas sessões realizadas em Nice, na França, e consideradas cientificamente muito importantes, nas quais são citados pormenores desse mundo espiritual, e que muito edificam os estudiosos. Não nos furtaremos ao prazer de oferecer ao leitor um substancioso trecho das mesmas comunicações. Assim se expressa o Espírito do célebre “astro”, através da psicografia do médium norte-americano, Jorge Benjamim Wehner, dirigindo-se à sua esposa:

– “Aqui, tudo o que existe parece constituído em virtude das diferentes modalidades pelas quais se manifesta a força do pensamento. Afirmam-me que a substância sobre que se exerce a força do pensamento é, na realidade, mais sólida e mais durável do que as pedras e os metais no meio terrestre.

Muitas dificuldades encontrais, naturalmente, para conceber semelhante coisa, que, parece, não se concilia com a ideia que se pode formar das modalidades em que devera manifestar-se a força do pensamento. Eu, por minha parte, imaginava tratar-se de criações formadas de uma matéria vaporosa; elas, porém, são, ao contrário, mais sólidas e revestidas de cores mais vivas, do que o são os objetos sólidos e coloridos do meio terrestre... As habitações são construídas por Espíritos que se especializaram em modelar, pela força do pensamento, essa matéria espiritual. Eles as constroem sempre tais como as desejam os Espíritos, pois que tomam às subconsciências destes últimos os gabaritos mentais de seus desejos”. (Os grifos são nossos.)
______
(3) Certa vez, durante um transporte em corpo astral, tivemos ocasião de visitar, no Espaço, conduzida pelo Espírito de nossa mãe, uma tia falecida havia três anos, Sra. Ernestina Ferraz, de quem fôramos muito amiga e de quem recebêramos, sempre, muitas provas de dedicação e ternura maternal, sobre a Terra. Recebeu-nos em “um meio imediato”, segundo as expressões de Bozzano, criado por ela própria, pois havia um salão de visitas idêntico ao de sua antiga residência terrena, com o velho piano de carvalho que fora seu (ou a sua reprodução fluídica), e que, presentemente, se encontra em nosso poder. Aberto, com a partitura no local devido, o piano fluídico era dedilhado por sua irmã caçula, Luísa, também já falecida, a qual ela própria educara, inclusive ensinando-lhe música. Tal a realidade da criação que, talvez perturbada com a situação frisante, exclamamos, algo vexada:

– Oh, titia! O seu piano está necessitado de um reparo... está desafinado... mas prometo que o mandarei consertar...

E ela, prontamente:

– Não te incomodes, minha filha, com este meu piano... Presentemente, o piano, devidamente conservado, é mantido como recordação da boa amiga que tanto nos serviu.

(PEREIRA, 1987, p. 14-17, grifo do original). 
Bom, o apoio de Bozzano é importante, porquanto foi um dos cientistas que, lá nos primórdios da Codificação, estudou as manifestações dos espíritos.

Pensa que a Yvonne parou?! Nada, pois ainda apresenta um novo personagem; trata-se do rev. George Vale Owen (1869-1931), religioso e médium inglês: 
Um livro ainda mais antigo do que as obras de Bozzano - “A Vida Além do Véu” – obtido também mediunicamente pelo pastor protestante Rev. G. Vale Owen, tornou-se célebre no assunto, pois que o Espírito da genitora do próprio médium narra ao filho, em comunicações periódicas, as mesmas construções fluídicas do mundo espiritual, isto é, jardins, estradas pitorescas, habitações, cidades, etc. semelhante médium é, certamente, insuspeito, visto que, como protestante, seriam bem outras as ideias que alimentaria quanto à vida espiritual. Tais comunicações, em sua maioria, datam do ano de 1913. Convém deliciarmos, ainda, as nossas almas com alguns pequenos trechos de tão interessante livro:

– “Pode agora fazer-me o favor de descrever sua casa, paisagens, etc.?” – Pergunta o Rev. Vale Owen ao Espírito de sua mãe.

E este responde:

– “É a Terra aperfeiçoada. Certo, o que chamais quarta dimensão, até certo ponto existe aqui, mas não podemos descrevê-la claramente. Nós temos montes, rios, belas florestas, e muitas casas; tudo foi preparado pelos que nos
precederam. Trabalhamos, atualmente, por nossa vez, construindo e regulando tudo para os que, ainda durante algum tempo, têm que continuar a sua luta na Terra. Quando eles vierem, encontrarão tudo pronto e preparado para recebê-los”.

– “O tecido e a cor do nosso vestuário tomam a sua qualidade do estado espiritual e do caráter de quem o usa. (O grifo é nosso.) O nosso ambiente é parte de nós mesmos e a luz é um importante componente do nosso ambiente. Entretanto, é de poderosa aplicação, debaixo de certas condições, como poderemos ver naqueles salões”.

– “Não teriam de ser demolidas (as edificações), para aproveitar-se depois o material em nova construção. Seria ele aproveitado com o prédio em pé. O tempo não tem ação de espécie alguma sobre as nossas edificações. Elas não se desfazem nem se arruínam. Sua durabilidade depende apenas da vontade dos donos, e, enquanto eles quiserem, o edifício ficará de pé, podendo ser alterado ou modificado consoante seus desejos.

– “...porque estas esferas são espirituais e não materiais“. (Grifo nosso.)

E o livro todo assim prossegue, em revelações belas e simples, lógicas e edificantes, o que confirma o noticiário de muitos médiuns, que também chegam a verificar tais realidades do mundo invisível durante seus desdobramentos em espírito.

(PEREIRA, 1987, p. 17-18, grifo do original). 
Portanto, com esses três autores citados a médium Yvonne A. Pereira conseguiu nos convencer da realidade das colônias espirituais ou construções diversas no mundo espiritual. Sim, ela com as provas apresentadas, venceu o nosso achismo.

A nosso ver, o que ela apresenta vem, judiciosamente, corroborar muitas coisas relacionadas ao tema citadas nas obras inspiradas pelo Espírito André Luiz, que, ultimamente, têm sido questionadas por vários companheiros, que, talvez, não tenham atentado pelo que Léon Denis, Ernesto Bozzano e George Vale Owen apresentam em suas respectivas obras, conforme exposto nos apontamentos de Yvonne.

Na Revista Espírita 1865, encontramos uma comunicação assinada pelo espírito Mesmer, da qual transcrevemos este pequeno trecho:
O mundo dos invisíveis é como o vosso; em lugar de ser material e grosseiro, é fluídico, etéreo, da natureza do perispírito, que é o verdadeiro corpo do Espírito, haurido nesses meios moleculares, como o vosso se forma de coisas mais palpáveis, tangíveis, materiais.

O mundo dos Espíritos não é o reflexo do vosso; é o vosso que é uma grosseira e muito imperfeita imagem do reino de além-túmulo(KARDEC, 2000c, p. 160, grifo nosso).
Trazemos algo que Kardec disse que, julgamos, confirma tudo isso: “Consideramos, pois, o mundo dos Espíritos como o duplo do mundo corpóreo, como uma fração da Humanidade […].” (KARDEC, 1993i, p. 110, 1993i).

Há na Revista Espírita 1859, um artigo sob o título de “Música de além-túmulo”, onde costa que na reunião da Sociedade Espírita de Paris, realizada a 08 de abril, os espíritos dos compositores Mozart e Chopin foram evocados. Da parte em que relata o diálogo com Chopin, transcrevemos:
20. Estais bem errante?
– R. Sim; quer dizer que não pertenço a nenhum planeta exclusivamente.

21. E vossos executantes, estão também errantes?
– Errantes como eu.

22. (A Mozart) Teríeis a bondade de nos explicar o que Chopin acaba de dizer?
– R. Concebo vosso espanto; todavia, dissemo-vos que há mundos particularmente atribuídos aos seres errantes, mundos nos quais podem habitar temporariamente; espécies de acampamentos, de campos para repousar seus espíritos fatigados por uma longa erraticidade, estado sempre um pouco penoso. (KARDEC, 1993e, p. 125, grifo nosso).
Tendo em vista essa referência a mundos intermediários ou transitórios nos quais habitam espíritos errantes, ou seja, os que se encontram na dimensão espiritual aguardando nova encarnação, Kardec resolve, numa outra oportunidade, questionar ao espírito Santo Agostinho sobre eles, de cujas considerações podemos resumir (KARDEC, 1993e, p. 126):

– ocupam posições intermediárias entre os outros mundos;

– neles os Espíritos têm o objetivo de se instruírem;

– têm posição transitória e são destinados a espíritos Errantes;

– não são habitados por seres corpóreos;

– têm superfície é estéril, condição temporária;

– a Terra foi um desses mundos durante a sua formação.

Após essa comunicação Kardec faz a seguinte consideração: “Essa comunicação confirma, uma vez mais, essa grande verdade que nada é inútil na Natureza; casa coisa tem seu objetivo, sua destinação; nada está no vazio, tudo está habitado, a vida está por toda parte. (KARDEC, 1993e, p. 126-127, grifo nosso).

Ora, se por aqui temos que há Espíritos errantes que vivem em planetas em formação, por que também não poderia criar colônias espirituais localizadas nas cercanias de algum planeta ao qual têm interesses?

Podemos acrescentar que essa informação sobre a existência das colônias espirituais é encontrada em outros autores espirituais, como por exemplo, João Lúcio na psicografia da obra Em Novos Horizontes, por Wagner Gomes da Paixão (1962- ) e de Joanna de Ângelis em No limiar do infinito, via Divaldo P. Franco (1927- ). Nesta última obra, temos o capítulo 12 intitulado “A vida espírita ou espiritual”, do qual transcrevemos o seguinte trecho:
Sendo a vida na Terra, suas edificações e paisagens um símile mais condensado e algo mais grosseiro do que existe no mundo espírita ou espiritual, facilmente se compreenderá que o progresso na região das causas transcende em beleza as realizações, superando em emoções e efeitos tudo quanto a imaginação pode conceber.

Desde os sítios mais grotescos e sombrios, onde se fixam os núcleos de depuração compulsória para os que dilapidam, irresponsáveis, os preciosos dons da existência, até aos altos círculos de felicidade nas vibrações circunvizinhas da Terra, há uma infinita variedade de vilas e cidades, círculos espirituais e postos de socorro onde vivem os que se vinculam ao planeta generoso, que nos serve de berço e escola de progresso nos intervalos de uma para outra reencarnação. Plasmados pelas mentes que as moldam no fluido universal, são populosos centros de vida em que o amor estua, verdadeiros céus […].

Não se tratam de lugares hipotéticos, ou de centros onde campeia a ociosidade em aposentadoria demorada, ou de paisagens fantasistas para o repouso da inutilidade.

Há atividades febricitantes em que o culto ao trabalho fomenta o progresso das mentes e aprimora os sentimentos.
De forma alguma são mundos quiméricos, imateriais, sobrenaturais, mas searas de ação objetiva, organizações promovidas pelo espírito humano, distantes ainda dos mundos da divina benção.

[…].

Perfeitamente lógica a ocorrência da multiplicidade das Cidades e Colônias Espirituais no mundo das causas.

[…].

Metrópoles trabalhadas em substância sutil, plástica e de fácil moldagem às mentes ditosas, constituem os painéis de incomparável dita onde reinam a paz, a ventura plena e a felicidade sem jaça.

Há incontáveis instituições beneficentes e socorristas no além-túmulo, que se afervoram no auxílio aos que transitam na Terra e partem do corpo após a desencarnação, […].

Legiões de abnegados e caridosos mensageiros do Senhor recolhem em Institutos de recuperação e aperfeiçoamento os desencarnados em dor, […].

Educandários e hospitais de retificação, à semelhança dos que existem na Terra, melhor organizados e mais aprimorados, se abrem convidativos, como santuários de recolhimento e correção para a elevação dos caídos […].

Conforme existem na Terra conglomerados e organizações humanas para albergar a imensa legião de criaturas, no plano espiritual sucedem-se, múltiplos, acolhedores como ninhos de ventura […].

Ninguém se surpreenda, portanto, que a vida espiritual seja refletida nas comunidades terrenas, que são cópias imperfeitas das sociedades vigentes nos círculos superiores do Orbe e nos planetas onde a vida estua sem sombra, sem dor, sem morte, sem adeus... (FRANCO, 2000, p. 97-102, grifo nosso).
O exposto aqui corrobora em tudo o que se pode encontrar nas narrativas de André Luiz. Para que não mais existam dúvidas recomendamos a obra Colônias Espirituais, na qual a autora Lúcia Maria Farias Loureiro de Souza (1944- ) ou, simplesmente, Lúcia Loureiro,  apresenta uma profunda pesquisa sobre esse assunto.

Paulo da Silva Neto Sobrinho
Mar/2014.

Referências bibliográficas
KARDEC, A. A Gênese. Rio de Janeiro: FEB, 2007e.
KARDEC, A. O Céu e o Inferno. Rio de Janeiro: FEB, 2007d.
KARDEC, A. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Rio de Janeiro: FEB, 1996.
KARDEC, A. O Livro dos Médiuns. Rio de Janeiro: FEB, 2007b.
KARDEC, A. Revista Espírita 1861. Araras, SP: IDE, 1993f.
KARDEC, A. Revista Espírita 1865. Araras, SP: IDE, 2000c.
KARDEC, A. Revista Espírita 1866. Araras, SP: IDE, 1993i.
KARDEC, A. Revista Espírita 1868. Araras, SP: IDE, 1993j.
LOUREIRO, L. Colônias Espirituais. São Paulo: Editora Mnêmio Túlio, 1995.
PAIXÃO, W. G. Em Novos Horizontes. Belo Horizonte, UEM, 2004.
PEREIRA, Y. A. Devassando o invisível. Rio de Janeiro: FEB, 1987.

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