Em nossa última passagem pela Terra fomos filhos da terra, aqueles que dela viveram, dela extraímos a raiz de cada dia, o alimento da família e a esperança. Montado no lombo de um cavalo ou boi pastávamos não os animais, mas ao som do berrante era possível berrar ao Pai Criador que olhasse por nós.
Eu fui peão, cuidei de muitas fazendas e deixei muitos fazendeiros ricos. Estranhamente não respingava no meu bolso a pataca que no deles enchia. Tampouco me queixava disso; afinal, não saberia viver com luxo. Gostava mesmo da rede amarrada no batente da simples varanda, ali eu podia descansar meus ossos.
Pra que se tenha mais entendimento, nós somos os verdadeiros sertanejos, aqueles que vivem na ferida do Brasil; é uma chaga que não se fecha e com o andar da carruagem periga que esta chaga tome o corpo todo desta terra varonil. Não vou ficar a falar de minha pessoa e nem desta realidade brasileira: vou logo palestrar sobre nós como amigos trabalhadores do mundo invisível.
Parece que a linha dos Boiadeiros é nova, mas não, é não. Já manifestávamos em Terreiros, Tendas e Barracões de muitas variantes do culto afro. No Catimbó é mais notável nossa presença. Quando começou o movimento Umbanda no Astral é que nos organizamos e aguardamos a oportunidade de aparição nos Terreiros deste culto. Assim foi ocorrendo de forma regional até que nos alastramos por todos os Terreiros de Umbanda. Mas engana-se aquele que hoje pensa que esta linha de trabalho é composta por homens e mulheres da terra. Nem todos; aqui tem uma mistura grande. Também tem o machista que prega não existir mulher na linha Boiadeiros. Então o que faríamos com as amazonas? Ou tantas “Marias Bonitas” que guerrilharam por uma vida melhor?
Outro tanto de companheiros nesta linha são ex-Exus, ou seja, espíritos que atuaram no Grau Exu, lá nas esferas mais baixas, e que após receber a graça de se graduar na Luz, tem que passar por uma linha transitória. Eis a chave do nosso “mistério”: Boiadeiro, enquanto Grau, é um Grau de transição para espíritos que aguardam seu alocamento mais definitivo. Neste período vamos trabalhando na Lei, colocando ordem na fronteira do meio fio entre luz e trevas. Já esta tênue linha existe dentro de cada um de nós; logo, a oportunidade de trabalhar a ordem na fronteira, nos nossos semelhantes encarnados e desencarnados é a forma que o Criador achou para que nós pudéssemos fortalecer a ordem dentro de nós mesmos.
Com nosso laço, visto pelos clarividentes, este serve para buscar os zombeteiros e perturbadores. Nossa corda é infinitamente “elástica” e de onde estivermos, se localizarmos um ponto negativo e um perturbador, dali lançamos o laço e no laço quebramos o mal. Somos comumente chamados nos Terreiros para limpeza pesada, pois somos mesmo aqueles que retiram a carga pesada; quando batemos nosso pé e gritamos nosso boi, não sobra mal algum em nosso redor. Por fim, nosso arquétipo é o sertanejo, o brasileiro do sertão, quer seja o guerrilheiro lampião ou o tocador de gado. No entanto nem todos foram assim. Vou tocando meu gado por aqui e desejo que o Criador lhe ilumine!
Jetruá Boiadeiros!
Nota do Médium: Quem não sentiu o chão tremer e o corpo bambear ao presenciar a manifestação de um Boiadeiro no Terreiro, girando o braço como que a laçar um boi e gritando: – Êi boi! ? A oportunidade de convivência com a diversidade cultural brasileira que a Umbanda fornece é algo incrível que só vivenciando para poder compreender. Podemos viajar o Brasil todo em apenas uma Gira. Obrigado aos valentes Boiadeiros do Além que nos amparam e nos guiam, como disse certa vez o Sr. José Anízio:
“Estamos a serviço do Criador para tocar seu gado divino, cada filho seu, seu rebanho, e cabe a nós laçar aqueles que se perderam ou afundaram em algum brejo da evolução e, uma vez laçado, vamos recolocar na trilha reta do caminhar. Mais um adeus e lá vamos nós a laçar o boi de meu Deus!”
“Estamos a serviço do Criador para tocar seu gado divino, cada filho seu, seu rebanho, e cabe a nós laçar aqueles que se perderam ou afundaram em algum brejo da evolução e, uma vez laçado, vamos recolocar na trilha reta do caminhar. Mais um adeus e lá vamos nós a laçar o boi de meu Deus!”
Ditado por Sr. José Anízio
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