segunda-feira, 2 de novembro de 2015

                                                    Liturgia



É   uma palavra bonita - uma palavra que diz respeito a todo o contexto do ritual da religião, então os elementos presentes naquela ritualística da religião de Umbanda. 

Então, como “elemento de liturgia” ou o “elemento ritual” na Umbanda a gente tem, é, o ato de: “bater cabeça”. 

Então, o que é bater cabeça? 

Por que eu bato cabeça? 

Ou como se bate cabeça? 

“Bater cabeça” o nome é bem simbólico, é, nos remete a ideia de alguém batendo cabeça em alguma coisa, bater cabeça é o ato, o ato ritualístico gestual de prostrar-se diante do altar, de uma entidade ou do seu sacerdote. 

Então, o que é bater cabeça? 

“Bater cabeça” é: o elemento de reverência, de adoração, de humildade, de entrega. 

Então, dentro do ritual de Umbanda, numa Gira de Umbanda há um momento de bater cabeça ou os médiuns já chegam no Terreiro e batem cabeça no altar antes de começar o trabalho ou no ritual tem um momento, o momento aonde vai cantar o ponto de bater cabeça. 

Então, existem muitos pontos de bater cabeça, então se canta um ponto como: “Vai, vai, vai nos pés de meu pai Xangô e vai bater cabeça que Oxalá mandou. 

Ele era um Preto Velho, era um Babalaô e vai bater cabeça que Oxalá mandou”. 

Então, é um ponto de bater cabeça aonde um por um os médiuns vão batendo cabeça: bate cabeça no altar, bate cabeça para o dirigente ou bate cabeça só no altar. 

E que gesto é esse? 

Como se, qual é a construção desse gesto? 

Bater cabeça é prostrar-se. Como você vai se prostrar? 

Você para diante do altar, então, há Terreiros aonde você ajoelha e encosta a cabeça no chão em ato de reverência. 

Há Terreiros aonde você vai diante do altar e você se deita no chão, coloca as mãos para frente e toca o chão com a cabeça. 

Há Terreiros aonde no momento em que você deita e toca a cabeça no chão, você deve levantar os pés, dobrar os pés para cima. 

E em muitos Terreiros é pedido que bata a cabeça três vezes porque o três é um número sagrado, três é o número da multiplicação - Ritualisticamente, a gente acaba fazendo tudo em número de três ou em número de sete ou em número de nove são número multiplicadores. 

O três é multiplicador, três vezes três é pra tudo que você fizer em três vezes três se multiplique, prospere, aumente. 

O número sete é o número das sete vibrações - Então, se bate cabeça três vezes você está saudando o Alto, a Direita e a Esquerda. 

Geralmente, antes de bater cabeça em muitos Terreiros você na frente do altar, se ajoelha e você faz o sinal da cruz com a mão, você cruza o chão – “cruzar” é: fazer o sinal da cruz – e (sau...) faz a saudação, saúda o Alto, o Embaixo, a Direita e a Esquerda daquele Terreiro e ali você ajoelha ou deitase e bate cabeça tocando o chão com a testa. 

O ato ritualístico de bater cabeça é um ato de entrega. 

O momento, o momento de bater cabeça é um momento de entrega. 

Naquele momento, é, de forma pessoal você eleva o seu pensamento a Deus, aos Orixás, aos seus Guias e você se entrega. 

Você está  oferecendo a sua cabeça para a religião, bater cabeça é se oferecer, se entregar. 

Você está oferecendo o seu Ori: bate cabeça. 

Você em humildade está entregando o que há de mais sagrado em você: o seu Ori - oferecendo pra Deus, para os Orixás, para Guias de Umbanda. 

É uma entrega, isso chama-se “bater cabeça”. 

A pessoa que bate cabeça ela está subentendo que ela está ali para servir, ela está ali para obedecer, ela está ali para trabalhar, ela reconhece que o Terreiro tem um comando, esse comando vem de Deus, dos Orixás, dos Guias e também do dirigente espiritual. 

E que assim como numa orquestra, você tem um maestro e cada um dos elementos da orquestra, cada um tem o seu papel, a sua partitura pra desempenhar e o maestro comanda. 

Quando você bate cabeça você está dizendo: “Estou aqui para desempenhar o meu trabalho, a minha função nesse conjunto”, “Estou para trabalhar em harmonia com o grupo”, “Estou para obedecer, acatar, respeitar”, “Estou aqui em ato de humildade, ato religioso”. 

É por isso que em muito Terreiros bate cabeça no altar e depois bate cabeça diante do dirigente, aos pés do dirigente pra que fique claro que ali naquele Terreiro você reconhece aquele dirigente espiritual, aquele sacerdote, sacerdotisa, aquele padrinho, aquela madrinha, aquele pai de santo, aquela mãe de santo, você o reconhece como: o orientador, o tutor, o condutor, o sacerdote, o mestre – no Terreiro o dirigente é o mestre – você está em atitude de discípulo diante dele batendo cabeça e pedindo a benção. 

Então, há dirigentes espirituais que pedem que os médiuns não batam cabeça, mas é importante. 

Porque quando você bate cabeça para um dirigente, você não está batendo cabeça apenas para o homem ou a mulher que está encarnado ali, você está batendo cabeça pra toda hierarquia que se manifesta mediunicamente por meio dele, o sacerdote, ele é um Templo vivo. 

Estou afirmando e repetindo as palavras de Pai Benedito de Aruanda, ditas tantas vezes na obra do Rubens de que: “Cada um de nós é um Templo vivo”. 

Então, o Templo exterior é um reflexo, um espelho externo de tudo que está no interno. 

Então, quando eu bato cabeça para o meu sacerdote, para meu dirigente, eu estou batendo cabeça diante do Templo vivo que é o que ele representa, o meu sacerdote é o “Templo vivo”. 

Mas, ele é uma pessoa humana como eu, cheia de falhas, cheio de erros, cheio de defeitos e vícios? 

Exatamente. 

Você não está batendo cabeça para o homem ou para a mulher, você está batendo cabeça para o sacerdote. 

E há de se entender que humano todos nós somos com erros defeitos e vícios, todos nós somos assim. 

Mas, aquele sacerdote, você sacerdote não deve abrir mão do seu posto de hierarquia a frente do Terreiro. 

Então, estou batendo cabeça àquele que assumiu uma responsabilidade, a enorme responsabilidade de conduzir um grupo e que mesmo não sendo um ser iluminado - que não é – mesmo às vezes fazendo algo que não nos agrada, que ninguém agrada todo mundo o tempo todo. 

Se tem uma coisa que a gente aprende na Umbanda é que não estamos aqui para agradar, os Guias de Umbanda – Caboclo, Preto Velho, Baiano, Exu, Pombagira – não incorpora pra ficar agradando as pessoas, incorpora pra fazer o seu melhor, como pode lhe ajudar na maioria das vezes não é passando a mão na sua cabeça. 

Então, “melhor estar junto de alguém que está na verdade, do que junto de alguém que quer lhe agradar”, porque esse corre o risco de estar na falsidade, porque ninguém agrada o tempo inteiro e esforçar-se para agradar o tempo inteiro é faltar com a verdade. 

Então, esse sacerdote não agrada o tempo inteiro, ele tem defeitos, ele tem erros, tem falhas, mas ele é o “Templo vivo”, o Templo material é um espelho do que está no íntimo dele, é a edificação daquilo que anima o seu interior, da sua verdade, da sua alma, do seu amor pela religião. 

Então, bato cabeça para o meu dirigente, para meu pai de santo, minha mãe de santo, Babalorixá, Ialorixá, padrinho, cacique, comandante, não importa o nome, bato cabeça por toda responsabilidade que ele assumiu perante a espiritualidade de conduzir e porque ele está cuidando de mim, mesmo que eu não veja. 

Se eu estou dentro do Terreiro, estou sendo cuidado por esse dirigente e estou batendo cabeça para todos os seus Guias, e os seus Orixás que se manifestam nele. 

Então, bater cabeça para um dirigente espiritual é um ato de humildade, de amor, devoção, de respeito daquele que foi acolhido no Terreiro como filho de santo, como médium que é também um discípulo. 

Então, bate-se cabeça no altar, bate-se cabeça para o dirigente. 

Então esse ato de bater cabeça é um ato ritualístico importantíssimo, é um ato, é, ritualístico gestual milenar. 

Em quase todas as religiões você vai encontrar o momento em que o adepto se ajoelha e bate cabeça. 

No Islã todos os dias o muçulmano reza cinco vezes por dia voltado pra Meca, ele se ajoelha e ele bate cabeça voltado pra Meca. 

No Catolicismo há rituais realizado, realizados em Roma que nós vemos os padres se deitarem no chão, abrir os braços e ali ele está batendo cabeça. 

No Judaísmo, há momentos e rituais, principalmente dentro da Cabala Hebraica também, em que você ajoelha e toca o chão com a sua cabeça. 

Então, no Budismo isso mostra a sua humildade. 

De tanto você repetir esse gesto, preste atenção que existem várias dimensões da importância do ato gestual, não basta eu respeitar o meu dirigente, é importante eu demostrar e que todos vejam que eu respeito o meu dirigente. 

Então, eu bato cabeça pra eles, eu estou mostrando a todos. 

Não basta sentir, é importante exteriorizar. 

No momento em que eu bato cabeça, eu recebo uma benção de quem protege: o dirigente e o altar, ao qual eu bato cabeça. 

Agora, dentro de mim quando eu me ajoelho, curvo o corpo, me deito e bato cabeça, alguma coisa acontece dentro da gente porque eu estou em atitude de humildade, eu estou de fato em ato, numa ação que demostra a minha humildade. 

Então, se eu estou batendo cabeça de forma sincera, isso começa a mexer com as minhas emoções, com a minha maneira de lidar com o mundo. 

É, é difícil imaginar uma pessoa arrogante batendo cabeça, é difícil imaginar uma pessoa soberba batendo cabeça pra outra, é difícil imaginar alguém vaidoso, egocêntrico, assumir uma atitude de humildade de bater cabeça para uma outra pessoa. 

Então, isso também nos torna humildes, nós batemos cabeça para o altar, batemos cabeça para o nosso dirigente, batemos cabeça para os Guias quando estão incorporado, para os Orixás quando incorporam e isso é forte, vai mexendo com a gente, vai nos tornando pessoas melhores, pessoas humildes, a gente vai entendendo, é, que bater cabeça é um ato litúrgico, ritualístico, então, nós vamos entendendo que cada elemento do ritual tem a sua importância de ser, não é o acaso que existem, é, esses momentos ritualísticos.

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