quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

                         

                  Caboclo – Preto Velho – Erês-Crianças.



Então, quem é o Caboclo? O que é o Caboclo? O que o Caboclo representa pra religião de Umbanda? O que significa? Por que nós temos uma linha de trabalho chamada linha dos Caboclos
na Umbanda? E dentro da Umbanda a linha de Caboclo é a linha mais expressiva, é, a mais presente, a mais forte, a mais significativa junto com a linha de Preto Velho. 

Então, nós poderíamos dizer que as duas linhas mais fortes são: de Caboclo e Preto Velho e na maioria das regiões do Brasil, a linha de Caboclo tem se mostrado como a linha mais forte, mais
determinante, mais incisiva, mais presente, mais significativa, seguida da linha de Preto Velho.

Então, a gente pode inclusive trazer o contexto histórico, vamos voltar – sempre que fala em contexto histórico a gente acaba voltando na história de Zélio de Moraes e do Caboclo das Sete
Encruzilhadas – então, vamos voltar até que todos tenham isso “de cor”, na “ponta da língua”, a primeira manifestação de Umbanda foi no dia 15 de novembro de 1908, Zélio de Moraes incorpora um espírito e ao ser questionado: 

“Quem é você?”, ele responde: “Se eu preciso ter um nome, me chame Caboclo das Sete Encruzilhadas”, muito bem.  É um nome simbólico, então Caboclo das Sete Encruzilhadas, não é um nome da sua identidade, é um nome simbólico esse Sete Encruzilhadas. 

E Caboclo? Qual é o simbolismo em si de Caboclo? 

O que quer dizer Caboclo? 

Quando alguém diz: “Eu sou um caboclo”, o que ele está querendo dizer com isso: eu sou um caboclo? 

Então, vamos a palavra: caboclo. O que quer dizer caboclo? 

Na cultura Brasileira, na língua portuguesa, qual a terminologia da palavra caboclo?

Quer dizer: simples. Caboclo é isso: é um homem simples. 

Quando uma entidade, um espírito diz que é um Caboclo, isso tem sido considerado sinônimo de índio, mas Caboclo não é sinônimo de índio. 

Quando alguém perguntou para aquela entidade: quem é você? 

Ele não respondeu: eu sou o índio Sete Encruzilhadas; ele respondeu: “Eu sou o Caboclo das Sete Encruzilhadas”. 

Então, há uma diferença entre ser caboclo e ser índio porque um índio pode ser um caboclo, mas um caboclo não é necessariamente, nem obrigatoriamente um índio.

No entanto, para a Umbanda quase todos os Caboclos tem se apresentado como índio e vamos lá, a pergunta que não quer calar é: 

Todo Caboclo é índio? 

Não necessariamente. Então, esta é a questão, nem todo Caboclo é índio e nem todo Caboclo foi um índio ou teve uma encarnação como índio. 

Então, os espíritos que se manifestam como Caboclo em sua grande maioria, eles trazem um pouco dessa cultura nativa, dessa cultura do índio, mas não necessariamente eles foram índios. Mesmo que não tenha sido índio, ele pode querer se apresentar como índio.

Então, essa é a liberdade que a Umbanda dá, isso chama-se linha de trabalho, forma de apresentação, hierarquia, aquele espírito assume uma forma plasmada, ele se assenta numa hierarquia, se você tem tantos Caboclos Pena Branca, então um deles é o primeiro Pena Branca, o hierarca Pena Branca, aquele que é o dono do nome, o responsável do nome, aquele que em algum dia se identificou com aquele mistério Pena Branca.

No caso de Pena Branca tem a história de um índio e foi chamado e identificado que teve um nome de índio Pena Branca, a gente tem um histórico desse índio num texto do Edmundo Pelizari. 

Então, existe o índio Pena Branca, existiu o índio, é, Ubirajara, existe na história, na literatura Brasileira de José de Alencar tem lá Ubirajara, a história de Ubirajara, é, do índio Ubirajara. 

Então a gente, por exemplo, Urubatão é nome praticamente de um mito indígena, de um herói indígena. 

Agora, quando você fala Caboclo Tupã, Tupã é o nome da divindade, da deidade, não para todas as tribos Tupi Guaranis, para alguns Tupã era uma das divindades, para outros Tupã era uma referência a uma força: ao trovão. 

Mas, quando o Caboclo dá o nome de Tupã, é, quer dizer que ele está fazendo uma referência a uma força, a uma energia, diz respeito a qual linha que ele está trabalhando, então quem é ele? 

Ele é um Caboclo. 

Você sabe quem é o Caboclo? 

Não, você não sabe quem é o Caboclo, você só sabe o que ele está querendo lhe apresentar, o que ele está querendo lhe mostrar.

Então, o Caboclo das Sete Encruzilhadas havia sido Frei Gabriel de Malagrida – Frei Gabriel de Malagrida foi um intelectual, foi um homem de uma cultura europeia - no entanto, ele prefere se apresentar como Caboclo, diz que foi índio e se apresenta como Caboclo, como homem simples. 

Por que apresentar-se como Caboclo das Sete Encruzilhadas? 

Primeiro, a gente já comentou para que não haja o culto a personalidade, para que não haja o culto ao ego, como caboclo, como homem simples. 

Nós podemos nos lembrar que isso aconteceu numa sessão Espírita em que ali os médiuns estavam incorporando espíritos de índio, espíritos de negro e o dirigente da sessão estava convidando esses espíritos a se retirarem porque eles não tinham o mesmo nível de cultura, de informação, de sabedoria, eles não eram doutores, não eram filósofos, então há uma confusão entre bondade e cultura. 

Um homem pode ser extremamente culto, intelectual, ter muito conhecimento e não ser um homem bom. 

E às vezes a pessoas simples, a pessoa que não teve muito acesso a cultura, muitas vezes se sente intimidada quando está diante de alguém que se apresenta cheio de conhecimento, de cultura, de informação porque é comum no dia-a-dia as pessoas que adquirem muito conhecimento, é como assumirem uma postura de arrogância, então aquele que já se apresenta dessa forma de certa maneira já cria um certo acanhamento na pessoa que é simples. 

Então, apresentar-se como um simples que é isso que o Caboclo pretende: apresentar-se como uma pessoa simples, faz com que os outros simples e humildes consigam conversar e estabelecer uma relação na mesma altura, no mesmo nível. 

É, nos textos de Leal de Souza que é o primeiro escritor de Umbanda, Leal de Souza foi médium, um intelectual, um escritor que na época de Zélio de Moraes frequentou o Espiritismo, era um expositor, um médium falante que dava palestras, que ensinava a doutrina Espírita, que ao conhecer a Tenda Espírita Nossa Senhora da Piedade e Zélio de Moraes se torna um Umbandista. 

Leal de Souza, o autor do primeiro livro de Umbanda que chama-se: O Espiritismo, a Magia e as Sete Linhas de
Umbanda. 

É, Leal de Souza ali no primeiro livro de Umbanda fala sobre o Caboclo das Sete Encruzilhadas e ele diz que o Caboclo das Sete Encruzilhadas se comunica de uma forma simples e humilde com os humildes e se comunica de uma forma mais intelectualizada com as pessoas que são intelectualizadas. 

Então, apresentar-se de uma forma humilde ou comunicar-se de uma forma humilde é uma opção e não uma falta de opção para os Caboclos então, que isso fique muito claro. 

O Caboclo ele não é - ele pode ser - mas ele não é sinônimo de bugre, não é sinônimo de ignorância, não é sinônimo de falta de conhecimento, não é sinônimo de espírito atrasado e nem o índio também não é sinônimo de espírito atrasado, nem de falta de cultura. 

O índio ele tem uma outra cultura, o índio tem uma cultura diferente, isso não é falta de cultura. Isso quer dizer que ele tem a cultura dele, que não é a cultura do europeu, que não é a cultura do branco, diz a cultura do homem vermelho, a cultura do índio. 

E dentro da cultura do índio nós temos a cultura do índio Tupi, a cultura do índio Guarani, a cultura do índio Karirri, a cultura do índio Xavante, a cultura do índio Xocó, a cultura do índio Tupinambá, a cultura do índio Aymoré, a cultura do índio Brasileiro, a cultura do índio norte-americano, então a cultura indígena antiga. 

E há uma ligação entre essa cultura e a cultura dos Maias, a cultura dos Astecas, as culturas aborígenes em torno do mundo, as culturas naturais, as culturas nativas, as culturas que louvam, que cultuam, que adoram, que amam e vivem em harmonia com a natureza. 

Então, Caboclo tem uma mensagem relacionada a essa outra forma de ver o mundo, essa outra forma de ver a vida, então aquele que é caboclo ele traz uma mensagem de simplicidade, de ver a vida com simplicidade, de relacionar-se com simplicidade na vida. 

Então, há uma mensagem implícita na presença do Caboclo, então ser Caboclo representa alguma coisa dentro da Umbanda, ser Caboclo representa na Umbanda um conjunto de valores, uma forma de expressar-se, uma maneira de ser, que vai muito ao encontro da cultura indígena - mas não apenas da cultura indígena, mas não apenas da cultura indígena Brasileira – vai ao encontro da natureza, das forças da natureza, da simplicidade do ser e da força que isso pode representar.

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