CERTA VEZ ouvi da própria boca do saudoso sacerdote Toy Vodunon Francelino de Shapanan a seguinte história: Em frente ao seu templo afro-brasileiro do culto Tambor de Mina, em Diadema SP, havia uma igreja e o pastor certa feita veio lhe convidar para assistir ao seu culto. Pai Francelino, muito educado, aceitou com uma condição, que o Pastor também assistisse a um de seus rituais. O Pastor se benzendo com o sinal da cruz disse que jamais entraria ali, que considerava “aquele lugar” (o templo de Francelino) a “casa do Diabo”.
Pai Francelino, ainda muito tranquilo, explicou que não conhece nenhum Diabo e que: tal ser ou entidade não faz parte das culturas afro-brasileiras. E mais, afirmou ao Pastor que tinha grande curiosidade em entender quem é este Diabo, que lhe parecia algo muito estranho. Disse que era possível ouvir o Pastor o expulsar da sua igreja todos os dias, e que todos os dias ele (o Diabo) voltava para ser expulso outra vez. Quem afinal é este Diabo, tão teimoso, tão insistente, tão presente ali naquela igreja?
São questões como esta que nos fazem pensar quem é o Diabo num conceito mais popular, quem é o Diabo num conceito mais teológico e quem não é o Diabo a partir de um confronto de conceitos entre uma e outra religião. Afinal o Diabo pode ter uma origem, mas não tem um dono, ele pertence a todos, pertence às diversas culturas e religiões. O “dito cujo”, o “tinhoso”, o “cramulhão” passeia entre o saber e a ignorância de leigos e sacerdotes. E afinal onde é que se encontram ou se desencontram Exu e o Diabo ?
Já ouvimos muitas vezes esta frase “Exu não é o Diabo” assim como já ouvimos muitas vezes esta outra “Exu é o Diabo”. O que é certo ou errado afinal? O único fato é que é impossível ter certezas ou convicções sem antes saber o que é ou quem é o Diabo e também Exu. Este é o meu convite para pensar Exu, pensar o Diabo, questionar a tudo que for possível e cada um tirar ou tomar as suas próprias conclusões.
O Diabo tal qual se conhece no mundo cristão é uma criação católica que foi exportada para as outras religiões cristãs e finalmente se estabeleceu no inconsciente coletivo do mundo ocidental cristão.
Para os judeus nunca houve um “Diabo” tal qual idealizado por católicos na idade média, que é quando o “dito cujo” ganha poder, ascendência, influencia e importância dentro de uma Igreja política, castradora e dominadora.
O Diabo foi uma de suas ferramentas e construções mais ardilosas no empenho de controlar fiéis, como cordeiros amedrontados diante do pecado, inferno e Diabo. Não necessariamente nesta ordem.
Com esta formação de uma “teologia do medo” foi possível para Roma vender indulgências (o perdão de seus pecados), por exemplo. Assim também possível acender as fogueiras da Santa Inquisição e realizar as Cruzadas com promessas pertinentes à conquista do santo sepulcro, tudo com o direito sagrado à morte dis infiéis e claro o saqueamento de todos que não eram tementes ao Deus cristão.
De lá para cá muita água rolou, o tempo que tudo mostra já revelou algumas peças deste quebra cabeças da humanidade. No entanto a pesar de tudo: o medo de pecar, do inferno e do diabo ainda persistem tão fortes que muitas vezes independe de ter ou fazer parte de uma religião, seja ela qual for.
No passado foram demonizados os deuses e as divindades alheias ao catolicismo, hoje com a mesma “boa” e velha, funcional, receita se demonizam os Orixás e mais especificamente Exu Orixá e Exu entidade. Mas vamos voltar à raiz: de onde vem o Diabo católico. No Velho Testamento, Bíblia Hebraica e no Judaísmo embora exista aparições muito isoladas e pontuais de um “acusador”, um “opositor” ou mesmo da “serpente” em Gênesis por exemplo, ainda assim é Deus quem castiga e quem se ocupa da Justiça e dos erros da humanidade. Foi assim com a expulsão de Adão e Eva do Paraíso, foi assim no Dilúvio de Noé, foi assim no Êxodo contra os Egípcios e nas demais passagens bíblicas anteriores à Cristo.
Deus é possessivo e ao mesmo tempo é possuído por “seu povo”, Ele não está para todos e ao mesmo tempo é inimigo dos inimigos de seu povo.
No entanto, para o Cristianismo e no Novo Testamento tudo muda de figura, Deus está para todos e Deus é tão bom, mas tão bom que para castigar, punir e fazer “justiça” aos maus e aos pecadores é preciso que exista um Diabo, como um executor daquilo no qual o “Deus Bom” não suja as suas mãos.
Este ser teologicamente construído pelo catolicismo ganhará um nome que não existe na Bíblia, Lúcifer, será considerado um anjo caído e assumirá para si a identidade e a responsabilidade de todos os outros demônios, diabos, satãs, capetas e anjos caídos. Assim como vai ser identificado com os deuses e divindades de outras culturas chamadas pagãs (do campo).
A Igreja Católica e outras Cristãs se servem e são servidas por este ser que resolve o problema com seus inimigos de dentro e de fora. Quer saber mais? Aguarde o livro “Exu não é o Diabo” que será lançado por Alexandre Cumino e Editora Madras www.madras.com.br
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