O deslumbramento e a fantasia mediúnica tem sido hoje um dos maiores problemas visíveis na Umbanda.
Certa vez ouvi a seguinte frase, estar incorporado, acoplado espiritualmente é você deixar de ser você mesmo.
O que é interessante neste contexto é que estar neste estágio leva aprimoramento, estudo mediúnico, há etapas que não podem ser puladas, não basta querer estar, tem que estar, não há meio termo caso contrário é uma farsa.
Mediunidade não pode ser forçada, não é comprada, você nasce com o dom.
Deslumbramento é o médium que tem admiração por uma entidade X, ai ele se auto sugestiona e fantasia, ele quer que aquele guia seja o dele.
Uma situação no mínimo perigosa porque atrapalha a verdadeira entidade de se manifestar, devido a falta correta de canalização e sintonia.
A fantasia entra quando o médium da uma roupagem a seu guia que não pertence a ele, visível em algumas manifestações por exemplo de pombogira e exú onde vemos um médium totalmente fantasiado com apetrechos e roupas que o próprio guia não usa, mas o médium gosta daquilo então projeta na manifestação.
Certa vez vi uma pombogira Molambo querendo uma roupa de retalhos, a médium vaidosa não queria se vestir assim e fez uma roupa de seda, a pombogira não gostou, passou pouco tempo ela começou a se manifestar com outra pombogira, com uma roupagem mais vaidosa, luxuosa. Detalhe do nada nunca mais se manifestou a outra pombogira.
Estranho não é mesmo?
Entra ai o médium tomando a frente da entidade, simplesmente por não aceitar a roupagem que uma entidade ou guia queira, dando prioridade a seus próprios gostos e vaidades, fugindo obviamente de uma manifestação verdadeira espiritual. Apenas exemplos, porque o problema vai muito além disso.
Quando um guia se aproxima de nosso corpo, ocorre toda uma série de mudanças em nossos chakras, sentimos uma visível alteração, como se todos os nossos sentidos se modificassem, e ao mesmo tempo mais aguçados e despertos, é uma corrente elétrica magnética que percorre todos os nossos sentidos, uns sentem o corpo estremecer, outros sentem o corpo dormente, um formigamento que parece que toma cada milímetro de todo o nosso corpo, cada médium pode sentir em maior ou menor grau certos sintomas. Quando um espírito se aproxima para um acoplamento há todo um processo elétrico psíquico.
Estágios totalmente verdadeiros no que diz respeito a presença espiritual.
Mas, não tem sido isso que estamos vendo, estamos vendo médiuns pulando esses estágios que são conquistados com muito aprimoramento e estudo, dedicação, no meu entendimento a palavra certa seria até DEVOÇÃO.
Infelizmente estamos vendo médiuns na corrente que sentem ali um arrepio, e entram numa ânsia frenética, começam ali a estremecer o corpo e pronto já tomam a forma de uma entidade, e você olha e se depara ali com o médium sem estar com nada, mas ele pensa que está, assume ali um personagem, começa uma verdadeira interpretação, é ai onde entra o deslumbramento e a fantasia, muitas vezes guiadas pela ânsia de não ficar para trás na corrente, pois querem por que querem incorporar com os guias, muitos médiuns realmente não fazem por mal, fazem por falta de conhecimento, estudo, aprimoramento e falta de acompanhamento idôneo e doutrinário. Nestes casos é fundamental o acompanhamento de um dirigente comprometido com sua missão.
E esse deslumbramento tem trazido consequências sérias porque estamos vendo manifestações espirituais extremamente fora da realidade do que deveriam ser, médiuns fantasiosos, criando e fazendo ações que fogem completamente do que deveria ser uma manifestação de um determinado guia, e muitos desses médiuns equivocados estão vestindo a roupagens de guias e entidades idôneos, porque o médium fantasia e projeta na manifestação como se fosse algo real, como se fosse oriundo de fato da entidade, nesse momento nos deparamos com entidades e guias fazendo e tomando posturas que jamais aquela entidade ou guia iria tomar de fato, simplesmente porque não pertencem a eles, foi fruto da imaginação do médium.
Isso pode gerar um grande problema, o médium sugestionado e fantasioso, pode abrir canais de acesso a espíritos mistificadores que irão brincar com suas fantasias, os tornando verdadeiros fantoches, e quando se cansam colocam o médium em situações vexatórias, muito complicadas de serem revertidas.
E por que será que isso tem estado tão evidente em várias manifestações espirituais que temos visto, no meu entendimento um dos motivos claros é a busca de algo moderno, levando o sub título de evolução e facilidades.
Muitos falam daquela Umbanda mais antiga, até atribuem a ela chamando-a de primitiva, mas nessas Umbandas as manifestações eram mais verídicas, sustentáveis, verdadeiras, lembro-me que um médium levava tempo até se acoplar de fato com um guia, ele tinha que se devotar a sua mediunidade, aos estudos, cumprir etapas.
Antigamente o médium fazia todo um preparo adequado para estar indo num terreiro, fazia seus preceitos e resguardos, se dedicava a buscar as ervas na mata, ervas secas eram somente em último caso, o médium entrava numa mata a procura de ervas, havia todo um ritual, para entrar e sair daquela mata, o médium ia colhendo as ervas e ia implorando, rezando para os guias e os Orixás que cada erva colhida tivesse seu princípio ativado pelo espiritual, hoje nossos médiuns são preguiçosos, buscam facilidades, banhos de ervas frescas para alguns se tornou desnecessário, para que né ter trabalho na maceração e no quinar as ervas, basta ali ferver a água e jogar as ervas secas dentro. Mas será que tem o mesmo resultado, responde é claro a certos princípios energéticos, mas não é a mesma coisa. Fora que esse contato pessoal na natureza, levava o médium a meditações profundas, era uma forma de conexão com seu guia e protetor. Hoje em dia há mais dificuldades sim, mas o médium tem alternativas de plantar suas próprias ervas, pensemos sobre isso, fora que é um prazer se ter e ver as ervas nascendo e crescendo e depois a utilizarmos para nosso benefício, isso não tem preço.
O médium chegava no terreiro com uma hora de antecedência, em resguardo, ficava ali de frente ao altar, em oração, firmando o anjo da guarda, pedindo proteção para aquela gira que estaria iniciando com muito respeito, hoje a grande maioria chega as pressas e na correria, nem tem tempo de esfriar o corpo da rua.
Hoje os médiuns vão para a gira com o corpo sujo, muitos até depois de terem ingerido bebidas alcoólicas, praticado sexo, ido em bares, cemitérios, hospitais, uns até pior usam drogas.
Ai pergunto como jogar água limpa num frasco sujo, a água se contamina, fica impura.
A fantasia e o deslumbramento tem feito médiuns extremamente perturbados em suas vidas, porque há consequências de se brincar com forças espirituais, porque um médium assim se torna alvo fácil de espíritos mistificadores, nefastos, viciosos.
Nos deparamos com isso em supostas giras de trabalho, onde estamos vendo médiuns extremamente alcoolizados, entidades falando verdadeiras barbaridades, prejudicando e arruinando vidas, de pessoas leigas que não sabem distinguir uma manifestação espiritual verdadeira de uma mistificada.
O deslumbramento ele surge quando o médium por gostar e admirar demais uma determinada linha ou entidade, e quer ter aquilo para ele, então começa a fantasiar, são médiuns que não podem ouvir um ponto cantado que já falam que estão sentindo a vibração do guia, quando na realidade é fruto da sua própria mente.
Estamos vendo médiuns que estão perdendo completamente a percepção de si mesmos, certa vez num trabalho na mata vi um médium que achava estar com um boiadeiro, a suposta entidade estava a laçar galinhas que estavam soltas no santuário. Ai pergunto isso é comportamento de um boiadeiro? E o mais triste que estamos vendo dirigentes se deparando com tais posturas, e fingem não ver, mas até isso tem uma explicação.
As raízes fundamentadas da Umbanda tem se perdido, há genética boa da Umbanda tem perdido espaço para maus dirigentes que tem sido péssimos doutrinadores de médiuns, porque vejam se o médium aprendeu o errado ele fatalmente irá ensinar a outros médiuns o errado é uma lógica, virando um círculo vicioso, porque se ele não aprendeu o certo, ele não saberá ensinar o certo aos futuros filhos no santo. Percebam o quanto é grave isso para o seguimento de Umbanda, são cegos guiando cegos, e as raízes antigas estão se perdendo para essa Umbanda moderna, cheia de facilidades, mas com ela está vindo uma Umbanda cheia de médiuns deslumbrados, fantasiosos e pior e mais trágico mistificadores.
Essas fantasias e deslumbramentos estamos vendo nítido em manifestações cheias de luxo, cheias de ganância, vaidades, médiuns que estão usando a roupagem de guias e entidades para proveito próprio, e sem pudor nenhum colocam ali vídeos, filmagens, como se não houvesse mais pessoas da religião pensantes, tudo tem sido aceito, tudo muito conveniente.
Hoje o médium ele tem catado o guia a laço, e não o guia pego ele, ele dá ali uma estremecida e pronto já está com o guia fulano de tal, veste o personagem, como numa cena teatral, mas guias e entidades estão longe de estarem ali.
Até a roupagem de determinadas linhas e falanges estão sendo adaptadas ao gosto do freguês. As consequências serão gravíssimas porque a cobrança cedo ou mais tarde chega.
Na situação atual tem trazido reflexões muito sérias, qual o futuro de nossa amada Umbanda, que tipo de médiuns estamos formando para dar seguimento as nossas raízes?
Será que o objetivo da Umbanda não está cedendo lugar a interesses escusos e gananciosos?
Por que tanta vaidade, onde sempre foi ensinado sobre simplicidade, humildade, caridade?
Será que nossas entidades querem isso mesmo, esse luxo, essas vaidades, essa ganância desmedida por espaço e poder?
Precisamos tomar cuidado, porque estamos saindo da essência da Umbanda e dando lugar para algo totalmente fora dos princípios da mesma.
Nossos guias e entidades não precisam de festas regada de bebidas e comidas caras, eles nunca pediram isso, os espíritos nunca exigiram tais coisas para que a caridade fosse cumprida de fato. Mas para alguns é bonito estar luxuosamente vestido, bebendo litros, competindo ali um com o outro, quem aguenta mais ficar de pé, antes bastava um médium de alma limpa e disposto para que um guia fizesse seu trabalho, hoje os médiuns querem aparecer mais que os próprios guias que se dizem manifestar.
Cada dia mais nos chega, mas críticas duras, denúncias de terreiros e supostos médiuns que tiraram proveito da credulidade e ingenuidade alheias, ai deixo a pergunta no ar, é essa a imagem que estamos deixando sobre o que é Umbanda, porque o negativo sempre chama mais a atenção infelizmente, casas sérias e idôneas estão sendo cada vez menores, está faltando médiuns corretos, comprometidos e idôneos e está sobrando médiuns teatrais, deslumbrados e fantasiosos.
A coisa mais difícil que tinha era você conseguir uma filmagem ou mesmo foto de um guia incorporado você tinha que se virar nos 30 para tirar uma foto ou fazer uma filmagem porque para os guias isso era vaidade, hoje estamos vendo guias fazendo pose para fotos, passando na frente da câmera porque querem aparecer na filmagem. Guias? ou médiuns? Fora que muitas dessas fotos estão sendo usadas para denegrir a Umbanda, com comentários pejorativos e depreciativos. reflitam.
Entendam que acoplar um guia, não é sentir apenas ali um arrepio pelo corpo, acoplar um guia é todos os seus sentidos, seu corpo inteiro, sua mente, é tomada por uma energia maravilhosa que é inconfundível.
Não mintam nem para vocês e nem para ninguém, é muito feio fingir estar com um guia, cedo ou mais tarde você pode se deparar numa situação e ser desmascarado, e o médium nunca mais será o mesmo.
O médium tem que ter dignidade, pudor, vergonha, porque um médium que finge lhe falta caráter, idoneidade, AMOR PELA FÉ.
Para os médiuns que estão se iniciando, NÃO TENHAM PRESSA, respeitem suas etapas mediúnicas, se dediquem, vão estudar, sejam comprometidos, não busquem facilidades e nem oportunidades que visam pular essas etapas. Não importa se o irmão do lado incorporou em 3 ou 4 meses, não importa se você levar anos, o que importa é que quando acontecer seu acoplamento mediúnico ele seja verdadeiro, autêntico e não uma farsa.
Espero que esse texto abra profundas reflexões a respeito desse assunto, ajudando e trazendo aos médiuns maiores conscientizações do seu papel como médium umbandista.
Que nosso pai Oxossi nos traga sabedoria e bom entendimento.
Mãe Cristina Alves - Templo de Umbanda Ogum 7 Ondas e Caboclo Jupira.
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