Uma exigência a todos os médiuns
Axé a todos! Nós umbandistas vivemos envolvidos de intensas energias e vibrações, vivemos também sob leis especificas que nos sustentam e nos influenciam diariamente independente de gira, de terreiro, de linha de trabalho… É a Lei de Pemba. Lei do Retorno, Lei de Salva, entre outras.
Isso mesmo, existem leis que são fundamentos da umbanda e repito, nem todos os médiuns as conhecem, nem todos sabem suas potencias ou como atuam em nossas vidas, o que muitas vezes faz com que o médium ache que está sofrendo demanda, que a umbanda não está favorecendo a sua vida, que a casa em que trabalha é ‘fraca’, e assim por diante.
Nesse contexto, trago informações sobre uma lei pouco conhecida mas extremamente latente na vida de todos os umbandistas, falo da Lei de Salva.
A Lei de Salva é vivificada nos trabalhos que envolvem Magias, exclusivamente voltada às Magias Negras exigindo do médium um especial esforço físico, intelectual e espiritual.
Para entendê-la melhor transcrevo as palavras de Mestre Yapacani retiradas do livro “Umbanda e o Poder da Mediunidade” (W. W. da Matta e Silva 1987 – 3a. edição – Livraria Freitas Bastos), para que cada um possa ter o seu discernimento e, claro, a sua opção de escolha.
Ponderem, essa Lei traz diversas reflexões, colocações e contestações no meio umbandista portanto, esse texto merece ser lido e relido palavra por palavra com muita atenção e inteligência, merece ser pensado e repensado sem juízo de valor, sem reducionismo e com muita atenção às Leis Cósmicas e Divinas como a Lei de Ação e Reação, Afinidade, Atração e a Lei do Merecimento.
Segue:
“Mas o que é, em verdade, a lei de salva? Tentaremos explicar isso direitinho, pondo os pontos nos is, que é para tirarmos a máscara de muitos falsos “chefes-de-terreiros” ou “babás”, ou que outro qualificativo lhes queiram dar, que fazem disso a “galinha dos ovos de ouro” … Essa lei de salva é tão antiga quanto o uso da magia. Existe desde que a humanidade nasceu. Os magos do passado jamais se descuidavam de sua regra, ou seja, da lei de compensação que rege toda e qualquer operação mágica, quer seja para empreendimentos de ordem material, quer implique em benefícios humanos de qualquer natureza, especialmente nos casos que são classificados na Umbanda como demandas, descargas, desmanchos etc.Dessa lei de salva, ou regra de compensação sobre os trabalhos mágicos, nos dão notícia certos ensinamentos esotéricos com a denominação de lei de Amsra(…) Nenhum magista pode executar uma operação mágica tão somente com o pensamento e “mãos vazias” – isto é, sem os elementos materiais indispensáveis e adequados aos fins(…) Essa história de pura magia mental é conversa para entreter mentalidades infantis ou não experimentadas nesse mister. Qualquer ato ou ação de magia propriamente dita requer os materiais adequados, sejam eles grosseiros ou não. Vão dos vegetais às flores, aos perfumes, aos incensos, às plantas aromáticas, às águas dessa ou daquela procedência até ao sangue do galo ou bode preto. A questão é definir o lado: – ou é esquerda, ou é direita, negra ou branca. Ora, como toda ação mágica traz sua reação, um desgaste, uma obrigação ou uma responsabilidade e uma consequência imprevisível (em face do jogo das forças movimentadas) é imprescindível que o médium-magista esteja coberto ou que lhe seja fornecida a necessária cobertura material ou financeira a fim de poder enfrentar a qualquer instante essas possíveis condições (… )Então é forçoso que tenha uma compensação.Aí é que entra a chamada lei de salva, ou simplesmente SALVA (…) Mesmo porque, todo aquele que, dentro da manipulação das forças mágicas ou da magia, dá, dá e dá sem receber nada, tende fatalmente a sofrer um desgaste, pela natural reação de uma lei oculta que podemos chamar de vampirização fluídica astral, que acaba por lhe enfraquecer as forças ou as energias psíquicas… E naturalmente o leitor, se é médium iniciado na Umbanda, nessa altura deve estar interessadíssimo em saber como será essa compensação. Claro, vamos dizer como é a regra, para que você possa extrair dela o que seu senso de honestidade ditar: DE QUEM TEM, PEÇA TRÊS, TIRE DOIS E DÊ UM A QUEM NÃO TEM; E DE QUEM NÃO TEM, NADA PEÇA E DÊ ATÉ SEU PRÓPRIO VINTÉM. (…) É claro que essa lei de salva ou de compensação, própria e de uso exclusivo em determinados trabalhos de magia, não pode ser aplicada em todos os “trabalhinhos” corriqueiros que se pretenda ser de ordem mágica.”
Para ajudar um pouco mais, leiam o depoimento abaixo, mas leiam também despidos de qualquer enrijecimento conceitual ou construção sem embasamento:
“Há muitos anos, quando penetrava nos Véus da Umbanda, fui procurado por um grupo de Umbandistas na cidade em que residia para dar uma palestra para o grupo. Como batalhador pela elucidação, realizei a palestra. Passadas duas semanas, fui procurado por parte dos integrantes daquele grupo, que concluíram que não estavam praticando Umbanda e sim, algo confuso com diversos caminhos. Após as ponderações, concluíram que o mais adequado era encerrar as atividades. E, precisavam de uma ajuda para tal feito. Disse-lhes na oportunidade, que nunca tinha tido aquela experiência e precisaria consultar o meu Mestre na oportunidade para receber uma orientação adequada, que infelizmente foi por telefone. Este, foi categórico: manda tirar tudo, enterra no mato e defuma bastante o pessoal, que estarei orando por você aqui! Na sequência, perguntei se deveria pedir alguma coisa ou fazer algo extra, pois apesar de não saber com profundidade, meus Mentores ficaram deveras preocupados. “Não, faça apenas o que disse”. Chamei o grupo de volta à minha residência para concluir e agendar o feito. Dia tal, peguem “as coisas” e vamos para a floresta. Vou pedir autorização ao órgão ambiental etc. Quando acabei de falar, um dos integrantes do grupo perguntou-me quanto custaria, qual seria a Salva, pois o grupo estava consciente da responsabilidade que fora depositada nas minhas costas. Com aquele ar de que estava ciente da dimensão, parei por alguns instantes, com aquele ar pensativo e disse de boca cheia: “uma vela de sete dias, sete charutos, sete caixas de fósforos e um marafo”. Quando acabei de falar, ficaram me olhando com aquela expressão de que estavam aguardando o grande valor. Um deles perguntou: o que mais? Fui lacônico, nada! Neste instante, comentaram que a cada trabalho com os médiuns da casa, o mais barato tinha sido uma máquina de lavar roupas. Bem, eu só queria aquilo. No mínimo, deviam estar pensando que eu era o cara, isso, aquele com o maior poder do mundo. Na data aprazada, chegaram os dez carros abarrotados com “as coisas” e fomos à floresta. Lá chegando, orientei que cavassem um buraco, quebrassem e enterrassem tudo. Intuído, preparei uma oferenda na mata, com muitas flores e frutos, no sentido de agradecer a permissão por lá deixar as “coisas”. E não eram poucas… Inclusive, a contragosto, alguns médiuns ficaram inconformados em enterrar o ouro e prata que faziam parte das “coisas”. Bom, terminado o trabalho, com sinais positivos da natureza (só quem estava pode registrar o que aconteceu), fomos embora. Chegando em casa com a Salva que pedi, assentei e… bom, os oito anos seguintes foram o terror e até hoje me recupero… Mais tarde, quando fui ao encontro daquele que era o meu mestre na ocasião, fui chorar as mágoas, pois eu estava “mais por baixo que sovaco de cobra”. A coisa estava pegando. Aí, ele me perguntou: “e aí, quanto você pediu para fazer o serviço?” Ora, respondi eu, uma vela de sete dias, sete charutos, sete caixas de fósforos e um marafo. Ele bradou… “Só isso, você tinha que pedir X, pois o entrechoque vai ser muito violento”. Pensei: É, né…Em função desta triste experiência, comecei a analisar a Lei de Salva e conclui, que pode e deve ser aplicada em alguns casos. Como a Salva vai além de um mimo, na Umbanda esta questão veio mais presente na Raiz Africana, quando Salva não é para remunerar o Espírito, óbvio, a Salva existia e existe para remunerar um serviço, pois o realizador será “cobrado” de várias formas por parte dos descontentes, deste e de outros planos.”Por Thashamara – um Iniciado da Umbanda do Cruzeiro do Sul
Como vimos, a Lei de Salva está totalmente imbricada com a honestidade de quem a aplica, com o discernimento ético, e principalmente com o uso adequado da regra acima estabelecida. O uso indiscriminado e abusivo, como vemos existir em muitos lugares, de qualquer tipo, em qualquer circunstância é deplorável, desonesto.
Por fim saibam: a Lei de Salva tem regras invioláveis, ela também tem a sua contraparte de retorno para aqueles que dela abusam, portanto, melhor conhecer a fundo essa lei e refletir sobre nossos próprios atos e como diz Mestre Yapacani: “É triste vermos como a queda desses verdadeiros médiuns magistas é vergonhosa, desastrosa até… Começa acontecer cada uma a esses infelizes! Desavenças no lar, separações, amigações, neuroses, bebida, jogo e uma série de “pancadarias” sem fim, inclusive o desastre econômico (…) e no final de tudo, verdadeiros trapos-humanos (…).”
por Mãe Mônica Caraccio
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