terça-feira, 24 de abril de 2018

COMO SE APRESENTA OGUM SEGUNDO PAI RODRIGO QUEIRÓS


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Incorporar Ogum: o que acontece com o nosso corpo

incorporar Ogum

Ogum é o Deus da guerra, mas guerreia pela paz

A primeira vez que eu vi uma manifestação de Ogum, foi no ano de 2015, na iniciação da Iº Turma de Sacerdócio Semi-presencial da Umbanda EAD. Eu nada sabia da religião. Mal conseguia compreender a diferença da manifestação de Orixá para as linhas de trabalhos. Mas, para além do entender tudo aquilo que acontecia, eu sentia.
Estava a trabalho. Filmando a gira. Foi então que dois Oguns se manifestaram. Aquelas manifestações, despertaram além da curiosidade, algo muito específico em mim.
A religião, naquele momento era uma desconhecida. Mas aquilo que acontecia na minha frente, não.
Presenciei a incorporação de Ogum, como se algo ali me remetesse a um momento ou a estado de espírito já vivido por mim. Aliás, mais que isso. Era como se algo ali, fizesse parte, conectasse, pulsasse e se identificasse com o meu existir.
Não à toa, tem-se a incorporação de Orixá como transe. O transceder.
De dentro pra fora, de fora para dentro, aquela manifestação transcendeu o rito religioso. Felizmente tenho o registro de algumas partes.
O texto de hoje busca traduzir em palavras, um pouco do que representa essa manifestação a médiuns, consulentes e plano espiritual.
Nenhum dos comentários sobre o ato de incorporar Ogum, deve ser visto como regra. Mas sim, como características frequentes e comuns entre esses médiuns. A partir dessa constante, buscamos entender o porquê dos gestos, sensações e símbolos impressos nessa manifestação de Orixá.

Incorporar Ogum na palavra de dois médiuns

“Ogum é uma das forças do Divino Criador Olorum que mais demorei a assimilar. Sentia muito forte porém bloqueava a incorporação. Assim, tentava absorver ao máximo seu Axé. Era como se eu me energizasse, ao invés de dar passagem para a incorporação”. Milton Martinez (53), é médium de corrente há 9 anos e nos conta que foi aos poucos, que ele conseguiu entender essa manifestação.

Sinto como se uma onda energética estivesse me envolvendo completamente. Quando ela toma conta, o sentimento físico é de força, crescimento, coragem, ordem de dentro pra fora. As mãos e braços ficam parecendo fios de alta tensão. Os movimentos, embora firmes, se tornam suaves. O olhar é fixo, focado. Pés e pernas pisam e se movimentam como pilares. Marcadamente. Uma palavra: intensidade!
Milton Martinez, médium do Instituto Cultural Aruanda – ICA
Falamos também, com uma médium com menos tempo de casa. A Isabel Antunes (24), integra a corrente do ICA há 2 anos. Ela descreve a incorporação de Ogum como algo sisudo e forte.
A primeira sensação é de ser bem alta, como se eu tivesse uns dois metros de altura.
Isabel Antunes, médium do Instituto Cultural Aruanda – ICA
A Isabel também conta, que para ela, essa manifestação requer muita concentração. Ao descrever as sensações, cita a rigidez da sua estrutura muscular e a impressão de estar segurando uma espada enorme. “Nas primeiras incorporações eu sentia um formigamento no corpo, hoje eu já não sinto isso. Ogum para mim, é sério, forte e muito presente” descreve.
Ao desincorporar, também pontua algumas sensações, como o fato de se concentrar para “segurar” a energia. “É muito forte, às vezes da vontade de chorar, são encontros internos que temos nessa força. É como se ele cortasse toda mágoa que tenho, que preciso trabalhar em mim” explica.

Características da incorporação de Ogum

Pai Rodrigo Queiroz explica ao Blog, como se dá a manifestação de Ogum de forma prática em nosso corpo. Ele começa esclarecendo que cada Orixá, tem uma característica energética própria. Por isso, também, cada incorporação se difere em movimentos, sons e danças. Todo esse complexo de símbolos, têm um sentido para acontecer.
Quando Ogum está em terra, seu magnetismo é assimilado por todo “os corpos” do médium. Sendo eles, o corpo espiritual, emocional, mental e físico.
Pai Ogum é irradiador natural da ordem. Sua energia é capaz de realinhar coisas que vão desde a estrutura celular biológica do ser até o aspecto emocional do indivíduo.
A esse Orixá, observamos características energéticas, muito peculiares. São essas características que darão a impressão de firmeza, rigidez, seriedade e trarão movimentos precisamente marcados à incorporação.
Para médium mais leigo é só uma dança do ritual, mas isso é muito mais profundo. Essa rigidez revela a forma de atuação dessa Divindade.
Pai Rodrigo Queiroz

Benefícios da incorporação

Não que a incorporação tenha algum malefício. Entretanto, podemos pontuar os efeitos terapêuticos que ela traz para vida de médium.
Ao estar sob o efeito do transe em Ogum, o médium assimilará esse magnetismo em seu corpo biológico.
Essa dinâmica traz resultados salutares para o que se encontra caótico naquele corpo. “O impacto energético que traz Ogum, da a oportunidade de retomada de lucidez, sensatez e a própria rigidez comportamental”, explica o sacerdote.
Pai Rodrigo Queiroz continua explicando, que a rigidez sentida na incorporação, refere-se, a volta ao eixo daquele indivíduo. Essa pessoa em potencial (e se, se permitir), estará mais aberta à retidão de pensamentos, sentimentos e ações.
Quando a incorporação acontece, rompeu-se os limites que por exemplo, são vividos no momento de veneração, adoração ou louvor. Todas essas etapas já foram ultrapassadas e o ápice, é o transe. O médium se torna uno a esse magnetismo. É a presença da Divindade nele.
Pai Rodrigo Queiroz
Ao se conectar com tudo isso, ele experimenta os efeitos balsâmicos da incorporação de Ogum. Pai Rodrigo explica que o objetivo final, são esses e não apenas o dançar, bradar ou saudar.
Todos esses gestuais são importantes, mas são importantes, porque o ritual propicia que a irradiação de Ogum flua por entre as pessoas. A partir disso, uma realidade caótica pode ser modificada e abastecida de ordem, na manifestação de Ogum.

No lado espiritual

Além, do que foi citado, incorporar Ogum, banha o médium de uma energia muito eficiente, na quebra de energias e espíritos negativos/obsssessores. Pai Rodrigo define essa energia como “dilacerante” nesse quesito. Por isso também, o Orixá é popularmente conhecido por sua função de quebra de demanda.
Sua irradiação é tão forte, que estende alguns dos efeitos para a consulência. Claro, a experiência e resultados não serão tão intensos como a que o médium desfruta.
No entanto, também trazem para aqueles indivíduos resultados singulares, como a limpeza e a reorganização atmosférica do ambiente e pessoas.
Chega Ogum no terreiro…, e só o seu brado já desestabiliza cascões, larvas energéticas e tudo o que está pesando no ambiente e naquelas pessoas. O que vem a mais que isso ou o que atua em profundidade, então será um privilégio do médium.
Pai Rodrigo Queiroz
Queiroz explica como essa dinâmica acontece no “lado espiritual” sem que possamos nos dar conta. “Um clarividente consegue observar, sair das mãos do médium incorporado em Ogum, farpas luminosas”
De maneira observável é nesse formato que a energia de Pai Ogum se expande no ambiente, durante os trabalhos. São essas “farpas” energéticas que irão entrar no corpo (físico, espiritual, emocional e mental) do indivíduo e realizar a sua descarga e reestruturação.
Pra que isso aconteça, é necessário que se tenha esse mecanismo técnico. As farpas são disparadas nas pessoas, paredes e todos os lugares do terreiro. “O trabalho de Ogum acaba (principalmente o que da passagem primeiro), quando ele já descarregou o terreiro. Ao olharmos de fora, nos deparamos com um rito. Mas de maneira técnica, é isso que acontece” encerra Pai Rodrigo Queiroz.

Texto:
Júlia Pereira
Imagem:
Roberta Guimarães, O Sagrado, A pessoa e o Orixá

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