Ex seminarista, com estudos, cursos diversos na amada UMBANDA incluindo o de teologia, praticante desde 1978; vi a necessidade de poder repassar o que aprendo todos dias, quer sejam textos, cursos, vídeos, e-books, aos que possam desejar, sem compromisso algum com quem quer que seja a não ser a DIVULGAÇÃO DE NOSSA AMADA UMBANDA.
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Me peguei esses dias refletindo sobre algumas questões, baseado nos antigos terreiros de Umbanda, naqueles médiuns de antigamente, suas condutas e posturas diante do sagrado.
E vejo quanta coisa mudou de lá para cá e não foi evolução, me pego a refletir onde foi que nos perdemos tanto daquela fé de antigamente.
Começo essa troca através desse texto me lembrando de alguns terreiros que tive o privilegio de conhecer ainda muito jovem.
Lembro de um terreiro cuja dirigente era uma senhora já idosa, mas muito ativa com relação as suas obrigações e mandato do seu terreiro num contexto geral.
Naquele tempo era prezado demais o respeito, a assiduidade, a responsabilidade com a mãe ou o pai no santo, porque eles eram a representação da ordenança física do Orixá na terra, não havia desrespeito e muito menos abusos ou intimidades em demasia com suas pessoas.
Nessa casa era extremamente obrigatório o médium tomar seu banho de defesa, descarrego e purificação antes das devidas giras, para aqueles que vinham do trabalho, já tinha um banho pronto a sua disposição, os médiuns chegavam após os banhos, se vestiam e se dirigiam ao terreiro em silêncio, se deitavam de bruços sobre suas toalhas brancas e lá ficavam em plena oração e meditação, não havia conversas paralelas, sempre ficava em observação a mãe da casa, eles só se levantavam quando ela tocava a sineta e ai ficavam de pé, esperando para o início dos trabalhos, muitas pessoas observavam e comentavam a beleza daquela ritualística, a resignação, o respeito, o ato de se prostrar ao sagrado em plena devoção.
Hoje se você colocar um médium para tal ato, uma grande maioria não consegue ficar em concentração 5 minutos. E o que será que podemos aprender com eles? será que eles eram tão diferente de nós hoje em dia? claro que não, na realidade lhes sobravam maturidade e respeito. Hoje a impressão que passa que o médium não preza a qualidade do seu trabalho mediúnico, apenas... quanto mais rápido acoplar com seu guia, melhor. Será?
Lembro de um episódio bem interessante, onde numa gira um médium havia descoberto seu exú, e o mesmo completamente deslumbrado, comentava com os outros irmãos sobre sua entidade e da personalidade de quem se tratava. A mãe no santo ali observando em silêncio, chamou ele para conversar mais discretamente e lhe disse: Por que meu filho está tão orgulhoso? Por que tanta vaidade? Você é apenas um veículo de trabalho. Meu filho deveria no lugar de estar se sentindo tão orgulhoso, deveria estar mais preocupado, porque se tratando da entidade que é, muito lhe será exigido e cobrado quanto as suas condutas e posturas, principalmente meu filho quanto aos seus deveres. O médium constatando da realidade do ensinamento, lhe pediu a benção e agradeceu. Hoje se o dirigente passar tal orientação e ensinamento é capaz do dito médium sair espalhando que a dirigente da casa está com inveja do seu guia, é de se lamentar.
Naquela época os médiuns ao contrário que vemos hoje, não ficavam falando o nome de seus guias a torto a direito e muito menos de seus exús e pombogiras, era um respeito forte, temiam na realidade ofender seus guias e perderem sua proteção.
Hoje os médiuns não apenas brincam com o nome dos guias, como simplesmente os escolhem a bel prazer, é devido a esse fato que muitos nem são tão mais vistos como antigamente. Por que será né? A missão acabou? Acredito que na realidade não, mas os instrumentos que necessitam hoje estão desajustados, quebrados e desafinados. É preciso reavaliar a tão pretensa faculdade mediúnica que muitos dizem ter.
Além de ser uma falha grave dos novos médiuns é ainda maior dos novos dirigentes que também lhes falta o devido aprimoramento, aquele fornecido pela experiência de chão de terreiro e não somente em livros e cursos.
Os médiuns eram de uma abnegação simplesmente formidável, lembro ainda daqueles terreiros que era comum passar o chapéu de alguma entidade para que as pessoas da assistência pudessem contribuir com o terreiro com uma pequena doação. Esse gesto não era sinal de vergonha e nem de humilhação, porque naquele tempo não havia comércio religioso, exploração, e nem "guia" cobrando passes. As mensalidades quando haviam eram justas e não eram para enriquecer o bolso do dirigente, tudo era tim tim por tim tim usado em melhoria do terreiro, era uma flor, uma toalha, uma cortina, uma vela etc. Tudo bem as claras.
Hoje se você pede uma colaboração a um médium, dependendo da índole e caráter do mesmo, ele sai a francesa do terreiro sem dar nenhum tipo de satisfação ao dirigente que tão de boa fé o acolheu, ou simplesmente não trás, dá uma desculpa. E Orixá que tudo vê... sabe, e dá a cada um de acordo com suas obras e merecimento. Tudo muito justo.
Se você pedir uma doação de uma vela, um charuto, uma flor que seja a um consulente é capaz de ofender a tal criatura, e ainda sair falado na praça. Frisando que essa mesma pessoa é aquela que cobra do dirigente um atendimento particular (gratuito) na hora que quer, uma vela cruzada, quando o mesmo por algum motivo não pode prestar ou corresponder, não presta mais.
Hoje as pessoas vão em um terreiro a busca de saciar suas vaidades e vontades, não é para se elevar espiritualmente, ouvir um bom conselho, aquela boa palavra que salva. Não ... , a grande maioria quer ouvir o que lhe amacia o ego, o que alimenta suas vaidades, aquele que muitas vezes apoia seus feitiços e maldades contra o próximo, ah essas casas, tem valor, mas não prezam condutas morais as quais são tão ensinadas por nossos guias amparadores.
Sintonia e Afinidade, tão fácil detectar a luz diante das trevas.
Uns acham que o terreiro é balcão de esquina, quando dá fome e sede pede e vai embora. Se tem que fazer um tratamento espiritual não tem paciência de cumprir o que os guias pedem.
E antigamente era tão diferente essas posturas, as pessoas ficavam radiantes quando ganhavam uma vela, uma rosa da pombogira, um gole da bebida, a gente se sentia cuidado e amado. Eram sim pequenas coisas e gestos, mas que tinham um porque, a gente sentia e recebia logo o resultado e as respostas.
As entidades trabalhavam com o necessário, não haviam excessos onde o dirigente usa para se aparecer e envaidecer.
Naquele tempo tanto os médiuns como consulentes antes de terem o prazer, o merecimento de receber algo de um guia, eles prezavam o privilegio de doar. Era uma forma de chegar no propósito que aquele guia tanto pregava e ensinava.
Lembro de um senhor de idade, que chamava Sr. Antonio, tinha problemas de saúde, mas nada lhe abalava a fé, lembro que nunca lhe vi, uma gira sequer aquele homem não levar uma vela, um charuto, uma bebida aos guias de sua devoção. Tenho a recordação que o mesmo certo dia levou apenas 4 velas para uma entidade, pediu desculpas sem graça, pela oferta humilde, o guia lhe abraçou e disse: calma meu amigo, com essas 4 velas meu velho, vou levantar aquelas 4 pessoas que estão doentes e vou provar a você, que não é quantidade é devoção, fé e amor. Ele foi chamando uma por uma daquelas 4 pessoas, cada uma acendeu a respectiva vela em seu ponto, cada uma tinha um problema, passado alguns dias, chegava a nova gira, cada uma daquelas pessoas foi lhe agradecer, e por coincidência sem ninguém pedir levaram muitas velas, ele olhou para aquele senhor e disse, veja quantas velas nós ganhamos meu amigo, que elas sejam tão abençoadas quanto.
É esses tipos de dedicação, devoção e fé que os médiuns precisam ressuscitar com seus antepassados da religião. Não é a quantidade, é a Fé, é a Devoção, o Amor e principalmente a Confiança.
Ah minha mãe, mais eu não tenho dinheiro para comprar uma vela... .
Mas você tem sua Fé, seu Amor e Devoção. Ore, cante, chame, e eles estarão ali, para te responder.
As causas podem as vezes exigir mais tempo e esforço, mas acreditem a resposta do alto, sempre vem.
Deixo esse texto, a todos os médiuns, não reclamem dos seus preceitos, das suas doutrinas que muitas vezes acham rígidas e severas, a pedra para ser esculpida toma muitas marteladas, é lixada e polida, deixem que certas crostas sejam removidas, e cuidado, facilidades, mordomias, conveniências nunca fizeram bons médiuns.
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