"Não
sou médium, sou Ogã"
Eis uma frase muito comum nos
terreiros: "Não sou médium, sou Ogã", ou então..."Ela(e) não
médium, é só Ogã".
Pois bem, aqueles
que assim pensam, com certeza ficarão surpresos, pois posso afirmar que o Ogã
tem mediunidade. O que lhe difere da maioria dos médiuns é que a mediunidade se
manifesta através do "Dom Musical".
Quem nunca viu uma
criança que, mesmo sem nunca ter assistido a uma aula de música ou percussão,
sabe tocar vários ritmos, dos mais variados encontrados num terreiro, mesmo que
inconscientemente ela não saiba o que está fazendo? Este é um fato até certo
ponto comum entre famílias que são da religião.
Classificada como
Mediunidade de Lucidez Artistica-Musicista, age especialmente nas mãos e braços
(chakra braquial) em Ogãs-de-couro, ou nas pregas vocais (chakra laríngeo) nos
Ogãs-de-canto. Quando preparadas pelas Entidades, estas regiões são irradiadas
e iluminadas pelas forças astrais.
Como qualquer
médium, veio a este orbe com uma missão predeterminada pelas forças superiores
(Senhores do Karma), para que nessa encarnação pudesse auxiliar no Exército de
Oxalá, nosso mestre Jesus Cristo, e dentro da magnitude de Deus, foi-lhe
indicada a função de tocar e cantar para os Orixás Sagrados e para as Entidades
que auxiliam na Umbanda.
Todo Ogã tem a obrigação de cuidar e de buscar o
aprimoramento de seu dom, que é muito importante dentro de um terreiro, pois é
ele o responsável pelo toque ou canto que vibrará na Aruanda, como um elo de
ligação entre os membros da gira e as Entidades de Luz.
Seu desenvolvimento
e crescimento mediúnico dependerão exclusivamente de si próprio, pela
disciplina, força de vontade, fé e respeito para com as obrigações. Dessa
forma, poderá, com o tempo, obter maior facilidade no aprendizado de novos
toques, bem como terá aumentada a sua recepção intuitiva, usada pelos Guias na
transmissão de novos pontos cantados a serem adotados nos trabalhos
espirituais. Assim, já deixo claro que os Ogãs também podem manifestar mais de
um tipo de mediunidade.
No Candomblé,
nenhum Ogã pode manifestar Orixá, ou, numa linguagem mais comum ao
povo-de-santo, não "bola no santo", bem como as Ekédis, que são as
mulheres que cuidam do terreiro e de tudo relacionado aos Orixás. Se, por
acaso, passam a desenvolver esta comunicação, mudam de cargo na hierarquia.
Esta talvez seja a principal diferença entre o Ogã de Umbanda e o de Candomblé.
Na Umbanda, de
certa forma, é natural encontrarmos Ogãs que, além do dom musical, possuem a
mediunidade de incorporação. Lógico que fazem parte de uma minoria, porém é
possível, pois as pessoas podem desenvolver vários pontos receptivos
ao mundo da espiritualidade (chakras), muito embora, normalmente, desenvolvam
um tipo de mediunidade mais marcante e outras de menor intensidade, além de
algumas manifestações mediúnicas que podem ocorrer esporadicamente.
É importante
salientar que, quando começam a sentir a irradiação de seus Guias, devem pedir
autorização para deixar o atabaque e incorporar-se aos outros membros da gira,
prevenindo assim acidentes ou outros problemas durante a sessão.
Muitas vezes, este
pode ser o inicio de uma nova missão enviada do Astral, pois não é nada incomum
encontrarmos dirigentes que um dia foram Ogãs-de-terreiro.
Outros tipos de
mediunidade também podem se desenvolver (como de cura, intuição, vidência etc),
pois para Deus tudo é possível, mas é bom saber que não é a quantidade de dons
que a pessoa possui que a fará melhor ou pior do que as outras. O mais
importante é cumprir seu dever da forma mais correta possível, com amor no
coração. Às vezes, um médium que ainda não descobriu o tipo de mediunidade que
vibra com maior intensidade sobre si tem mais força que aquele cheio de dons,
que não sabe usá-los, ou pior ainda, que não tem disciplina ou respeito por
seus deveres espirituais.
Todo médium tem sua
utilidade dentro do terreiro, desde os dirigentes, os cambonos e
médiuns de incorporação aos outros auxiliares que ajudam na Curimba ou ainda
segurando alguém que poderia cair. Assim digo aos Ogãs para que levantem suas
mãos aos céus e agradeçam a Zambi pelo dom divino que têm, pois é através de
suas mãos e canto que os sons sagrados fluem na Aruanda dos Orixás.
O Livro Básico dos
Ogãs, Sandro da Costa Mattos, Editora Ícone, 2005, capítulo "O Ogã e Sua
Mediunidade", páginas 41 a 43.
Nenhum comentário:
Postar um comentário