Céu ou inferno? Só uma questão de Consciência
Céu ou inferno? Só uma questão de Consciência
Walter Barbosa, membro da SOCIEDADE TEOSÓFICA
Na “Divina Comédia”, datada do século XIII, Dante Alighieri retrata o Inferno, o Purgatório e o Paraíso, segundo a visão teológica. A obra tem esse nome porque termina “bem”, com o enfoque do Paraíso, ao contrário das tragédias onde os personagens acabam “mal”. Não obstante, no “Portal do Inferno” estampa-se a célebre frase: “Deixai toda esperança, ó vós que entrais”, dando às suas penas o significado da eternidade.
Dante situa o inferno no interior da Terra, no que coincide com a visão teosófica para as esferas mais densas de consciência, sempre atraídas para os planos mais baixos, em razão da força gravitacional. O próprio termo “inferno” – de in-fera, ou dentro da esfera – etimologicamente sugere isso. Outro aspecto da questão é o fator vibracional: algo pode estar exatamente “aqui” e não ser visto (como, aliás, ocorre o tempo todo).
“Há muitas moradas na casa de meu Pai” diz o Cristo (Jó.14:1-3). Todas essas moradas são atômicas, materiais, inclusive as que chamamos divinas como o “céu”, pois a matéria, como sustentáculo da consciência por meio de nossos corpos, está em toda parte.
Em razão disso, o “lugar” para onde vamos, logo após o desencarne, depende do “peso” de nosso corpo imediato, o astral. Se ele for pesado, em razão de nossos apegos, paixões e vícios, irá fatalmente descer, dirigindo-se ao “inferno” cristão, que é também o “umbral” espírita. Arthur Powell o descreve com um ambiente repulsivo, dominado por “um fluido negro, viscoso”, dando uma sensação de densidade e de grosseiro materialismo, sendo “os alcoólatras, os sensuais, os criminosos violentos e outros assim, as únicas pessoas que acordam normalmente naquele sub-plano, pois são aquelas tomadas de desejos grosseiros e brutais” (O Corpo Astral, Edit. Pensamento).
A localização dele? Abaixo deste plano em que vivemos, de fato no interior da Terra, pois o plano astral – sendo atomicamente mais sutil do que o físico – começa no centro da Terra e vai até a órbita da Lua. Assim, quanto à fatalidade de “descer” – para a alma carregada de vícios – não há mesmo “esperança”, como assinala Dante. É uma conseqüência da Lei. O mesmo não acontece, porém, quanto à “eternidade” disso.
Este mundo que habitamos é o único em que “maus” e “bons” convivem lado a lado dentro de um corpo físico, daí vindo uma conseqüência importante: tal convivência “forçada” acelera a libertação dos mais elevados, pelo aprendizado da diversidade (aquilo que “é”), enquanto ajuda os “renitentes” pelo exemplo da renúncia e do sacrifício. Isso também faz parte da Grande Lei: todos vão se salvar, cedo ou tarde, porque Deus é a única realidade por trás de tudo. Como na “Parábola da ovelha perdida”, Deus volta para buscá-la onde quer que esteja, pois é um de seus pedaços.
Depois que “desce aos infernos”, pode a alma subir? O sofrimento é uma das maiores alavancas conscienciais, especialmente para as almas mais rudes. O extremo sofrimento das esferas densas, onde a ausência do corpo físico deixa o indivíduo focado no astral, corpo das emoções e dos desejos – sem poder satisfazê-los, e sujeito à rudeza dos seus remorsos – é fonte de todo o inferno ali. Em virtude disso, as energias densas vão sendo “purgadas”. Aos poucos livre desse peso acumulado na última vida, o indivíduo começa a ansiar por luz, podendo então ascender a outros planos e mesmo atingir os níveis mais baixos do plano mental, onde começa o “céu”. Que sentido tem ele?
Na visão teosófica, o céu – que se desdobra em sete níveis (daí a expressão “sétimo céu”) – é um estágio em que a alma pode colher os frutos das “boas ações” neste mundo, intensificando essa colheita em termos de consciência. Bem grosseiramente, o céu seria uma “sessão de psicanálise” para a alma, ajudando-a a voltar melhor na próxima vida. Assim, tudo tem sempre um propósito evolutivo, onde qualquer nível alcançado – seja de céu ou inferno – invariavelmente é só uma questão de Consciência.
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