domingo, 30 de novembro de 2014

Pela Religiosidade, acreditamos que tudo é ocasionado pela vontade de Deus. Será?????

Walter Barbosa, membro da SOCIEDADE TEOSÓFICA

Sob a ótica da “vida única”, os reveses que o crente não consegue explicar tendem a ser considerados como “vontade de Deus”, refletindo os limites da orientação religiosa. Essa vontade costuma “testar” com rigor uns mais do que outros, distribuindo de maneira aparentemente aleatória riqueza ou miséria, feiúra ou beleza, perfeição ou aleijão. Em seu exercício de fé, o crente ainda consegue aliar a tudo isso a idéia de Justiça Divina.
No meio “espírita”, como também na tradição oriental, essas diferenças são explicadas genericamente como “Carma”, a má colheita resultando do mau plantio e vice-versa. Numa de suas definições, o Carma – que subordina todos os Reinos de Vida – é chamado “Lei de Equilíbrio Universal”, atuando para manutenção da harmonia desde os sistemas constelares e planetários até o sistema atômico. Sob essa visão, retira-se dele a conotação de castigo. Se castigo há, ele vem de nós mesmos e não de fora, sendo gerado quando nossas próprias escolhas ferem o equilíbrio universal.
Nas classificações que fazemos das situações de vida em “boa” ou “má” está a presença do conforto material, como saúde ou doença e riqueza ou pobreza. Aí seria difícil discordar da “lógica” corrente: “È melhor ser rico e ter saúde do que ser pobre e doente”. Aparentemente hilária, ela reflete o que seria uma regra para toda criatura como “Filho de Deus”, ressalvando-se que a riqueza costuma ser um peso para o ganancioso, visto que não consegue desfrutar em paz sua riqueza.
Paz é o supremo bem que buscamos. Dessa forma, a posição de humildade econômica ou social pode ser uma opção do indivíduo mais adiantado, como “contentamento”, já ciente da armadilha dos privilégios mundanos. Por outro lado, a situação de pobreza pode também advir de a pessoa ainda não estar apta a vencer as barreiras de sua “inércia” por imaturidade evolutiva (a jornada humana é estimada em 777 encarnações por Helena Blavatsky).
Precisamos entender o que seja a “inércia”. Trata-se de um dos atributos da matéria, refletindo o Poder de Coesão que mantém a estrutura atômica dos organismos – ou seja, da forma – pela atuação da Vontade Divina. Aí é realmente “Vontade de Deus”. Contudo, para “evoluir” em qualquer sentido, nosso desafio é justamente vencer essa inércia, que é posta como “resistência” (ou degrau) para os nossos esforços. Sem essa resistência não existiria esforço algum e o propósito evolutivo (expansão da consciência) cairia no vazio. Na etapa em que o homem deve superar a inaptidão para se concentrar (objetivando o estudo profundo ou a meditação) e também o Desejo, a presença da Vontade é essencial dentro dele. Sua fonte? A resistência oferecida pela matéria.
Voltando ao exemplo inicial, numa mesma família uns podem ser mais “inertes” (ou “preguiçosos”) do que outros, distinguindo-se na capacidade de aprender, de discernir, de ousar, de superar mesquinharias, preconceitos e outros falsos elementos de segurança e prazer (como os vícios). Onde opera essa inércia? No corpo mental do indivíduo, assim como no emocional e no físico, este refletindo a evolução dos outros. Nossos corpos “se merecem” mutuamente, possuindo maior ou menor capacidade de “movimento”, de desapego, pela qualidade vibracional já adquirida.
Noutro exemplo, o corpo mental de um homem que acabou de vir do reino animal (em muitos aspectos atuando como um ser daquele reino) não tem substância para o trabalho de um intelectual, apesar de sua “inocência” lhe dar uma  aparência de evolução. Essa inocência, na verdade, aos poucos se corromperá no contato com o “civilizado”, pois é da natureza da evolução a viagem da inconsciência para a consciência, antes mergulhando, porém, no abismo da negatividade.
Assim, o que pensamos ser “vontade de Deus” em geral é nossa mesmo, resultando de nossas escolhas, enquanto a que pensamos ser nossa – ao vencer a inércia de nossos corpos ou o desejo que nos leva ao desperdício de energia e à luta entre os “opostos” – é a Vontade de Deus nascendo em nós. Daí se dizer que a ascensão espiritual é gerada no seio da matéria, ou que a treva é mãe da Luz.

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