O que é a “vida espiritual”?
O que é a “vida espiritual”?
Walter Barbosa, membro da SOCIEDADE TEOSÓFICA
Quem inventou a religião? Quem primeiro sentiu necessidade dela?
Se lançarmos um olhar sobre a vida do homem primitivo – que consideramos um selvagem – vemos que seus atos eram totalmente integrados com a natureza. Adorando o trovão e outras manifestações, tinha como Deus o próprio sol. Fonte de calor e de “prana” (vitalidade) segundo a tradição hindu, sem ele cessa toda vida na terra, como admite a ciência.
Na cultura do Egito antigo – herdeiro dos atlantes e considerado “pai” da humanidade (tendo por “mãe” a Índia) – uma das divindades mais veneradas foi justamente Amon-Rá, o deus-sol. Já na filosofia esotérica o sol é considerado como elevada presença física do Logos Solar (Deus manifestado), em nosso Sistema. Do corpo material do Logos fazem parte também os nossos próprios corpos, a água que bebemos, o ar que respiramos (por isso diz a Bíblia que em Deus nos movemos e existimos).
Vemos, portanto, que muito bem embasados em sua crença estavam os “selvagens” ao venerar o sol. Contudo, o homem branco não pensava assim. Introduziu a religião em suas vidas logo nos primeiros contatos com eles, a fim de educá-los, “civilizá-los”. Talvez pensando que lhes fazia um bem, mas na essência, para dominá-los, o que, aliás, é o delírio que acompanha nossas ânsias de poder em geral. Buscamos dominar os outros não para satisfazer o nosso ego, mas para “ajudá-los”. Pelo menos é o que imaginamos.
Dessa forma, pela via das religiões instituídas separamos o homem mundano do homem espiritual, colocando entre os dois um poder, uma representação. A teosofia ensina que o homem é Deus, uma centelha de Deus, Filho de Deus como Jesus e outros Mestres de Sabedoria, ainda que esteja na condição física ou social mais desfavorável que se possa imaginar.
Num dia destes, um amigo perguntou-me: “Quando pronunciamos um mantra ou uma prece, quem está ouvindo?”. Marcado pela tradição religiosa, aquele amigo desejava assegurar-se de que haveria alguém a postos “do outro lado” para acolher seus cânticos ou rogativas. Entretanto, tudo o que o homem pode com isso buscar já pertence a ele, está à sua disposição. Sentado num caixote cheio de riquezas – que ele ignora – estende a mão como um pedinte.
Não sem razão, para algumas pessoas a religião é considerada o caminho dos “fracassados”. Normalmente buscamos seu conforto por puro desespero, justamente quando tudo o mais não deu certo. Mesmo assim, o conforto costuma chegar. Não por causa da crença religiosa do indivíduo (seja qual for), mas porque ao voltar-se para seumundo interno, ainda que por instantes, o indivíduo se eleva vibratoriamente, e aí algo da luz do Deus Pessoal (que nunca se separou de sua Fonte) envia radiações de paz aos seus corpos inferiores, até o corpo físico, que é por isso mesmo às vezes chamado “o templo do Espírito”.
A passagem em que o Cristo chicoteia os “vendilhões do templo” – longe de significar um ato de violência do Sublime Instrutor – está sugerindo a limpeza desse templo, que sintetiza também nossos pensamentos e emoções. Com muita felicidade alguém já afirmou que “Somos Espíritos vivendo uma experiência humana”. Colhemos neste mundo autoconhecimento. Tudo que fazemos cedo ou tarde torna-se “iluminação”, ganho consciencial.
Assim, independentemente do valor que possa decorrer da existência de religiões, a divisão que habitualmente fazemos da Vida Una em cada Ser como espiritual e mundana – sugerindo coisas “estanques”, não interferentes uma na outra – acaba reforçando uma dualidade indevida, ampliando os conflitos de que já somos portadores neste mundo.
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