terça-feira, 23 de junho de 2015

23 junho, 2015

Acredito que somos todos intolerantes. Por mais que nós, praticantes e adeptos da Umbanda, sofremos por discriminação, preconceito e intolerância, muitas vezes não somos diferentes dos intolerantes do lado de lá.  Recentemente, as agressões e atos de intolerância estão alcançando os católicos com agressão e destruição de imagens. Então, os católicos começam a sentir na pele esta intolerância e, diante disso, a postura de alguns “católicos” mudou com relação aos atos de intolerância religiosa que agora os atinge. E não escrevo isso para “agredir” ou apontar o dedo aos católicos simplesmente porque somos todos iguais. O fato de pertencer a uma minoria não nos difere da maioria.
O que será que eu quero dizer com isso ou onde quero chegar?
Antes de responder esta pergunta lhe convido a refletir uma frase de Martin Luther King:
“O que me preocupa não é o grito dos maus, mas o silêncio dos bons.”
E para conduzir esta reflexão, um conto do pastor Niemöller, que apoiou o nazismo e depois se arrependeu, lutou contra, mas era tarde e foi parar no campo de concentração.  Às vezes, se atribui autoria deste texto abaixo, de forma equivocada, a Maiakóvski ou a Brecht. Para ver e refletir:
“Um dia, vieram e levaram meu vizinho, que era judeu. Como não sou judeu, não me incomodei. No dia seguinte, vieram e levaram meu outro vizinho, que era comunista. Como não sou comunista, não me incomodei. No terceiro dia, vieram e levaram meu vizinho católico. Como não sou católico, não me incomodei. No quarto dia, vieram e me levaram. Já não havia mais ninguém para reclamar.”
Pois bem: o nosso silêncio também é uma forma de intolerância passiva!  Somos todos preconceituosos passivos, intolerantes passivos e hipócritas passivos. Sim, porque silenciamos quando poderíamos falar e agimos como se nada pudesse nos atingir.  Algumas pessoas se movimentam contra a intolerância, mas também acabamos intolerantes contra os intolerantes.  Há muitas formas de preconceito, no entanto, o pior preconceito é contra si mesmo. Quando alguém oculta sua religião por medo do preconceito está aceitando esta situação é está apoiando de forma passiva.  É muito difícil encontrar o ponto de equilíbrio, neutralidade ou simplesmente ter uma consciência real do que está acontecendo em nossa sociedade.
Quando boa parte da sociedade não se incomoda com as minorias que sofrem agressão por razões diversas como sua raça, credo ou opção sexual, então esta grande massa que silencia também está participando de forma passiva da intolerância.  E assim, de forma passiva, estamos participando de todos os atos de agressão aos quais cremos que em nada temos a ver com isso.
Certa vez ouvi o “Sr. Sete”, que trabalha com meu amigo Alexandre Meireles, dizer que o que se faz a uma pessoa está fazendo a todas as outras pessoas. O que quer dizer que somos todos responsáveis por tudo o que acontece nesta sociedade hipócrita; logo, se a sociedade é assim é porque somos assim. Somos todos UM, o que deveria ser a lição número UM da UM+banda.
Queremos “democracia” quando estamos em minoria e nos tornamos “ditadores” ao liderar uma maioria.  Por isso se diz que “o poder corrompe e o poder absoluto corrompe absolutamente”. Que o diga a era do Absolutismo e os acordos entre o clero e a monarquia.  Continuamos procurando por onde dominar e assumir o poder, isto está incutido em nós e é algo cultural profundamente enraizado. Na infância, já queremos agradar, ser aceito e liderar, o que é recompensado com elogios e presentes por parte dos pais.  Como mudar isso? Apenas o tempo pode mudar, talvez já esteja mudando e não nos damos conta.
Certa vez um homem velho, ao ver uma criança pegando estrelas do mar na praia e jogando de volta a água lhe questionou o que estava fazendo. Ela, a criança, respondeu que estava salvando estas estrelas. Então ele lhe disse que não fazia nenhuma diferença; afinal, haviam milhares de estrelas fora do mar. E ela lhe responde que “para esta aqui eu fiz a diferença” e a jogou de volta ao mar…  A gente pode pensar que não vai fazer a diferença, no entanto, cada um de nós é único como a estrela do mar da criança. Assim como uma criança faz a diferença para a estrela, as estrelas podem fazer a diferença para a criança.
Martin Luther King, que era um pastor negro norte-americano na época da luta pelos direitos civis dos negros e do apartheid (na África do Sul)  também disse que tinha um sonho de um mundo onde todos pudessem conviver juntos sem diferenças. O branco e o negro e com certeza o católico, o judeu, protestante, muçulmano, evangélico, candomblecista, umbandista, budista e etc.  Não sei bem o que dizer ou por onde começar, mas sei que também somos omissos e intolerantes com o que cremos que não nos afeta. Precisamos mais que um movimento ou denúncia, precisamos de conscientização.
Mas como a consciência real do mundo que vivemos é quase impossível por conta das ilusões desta sociedade de espetáculo e consumo, creio que devemos começar por chamar a atenção ou simplesmente apontar para o que está acontecendo e claro devemos manter um movimento de denúncia, compartilhamento e divulgação dos atos de intolerância. Não temos as grandes mídias, mas podemos ser fortes na internet com e-mail e redes sociais no momento em que dermos a cara e mostrar quem somos e quantos somos. 
Mas lembre-se: não se apegue ao dedo que aponta e sim para o que está sendo apontado.
Neste áudio, Ricardo Boechat, jornalista, radialista e âncora da Band, também estravaza sua intolerância e nós vamos apoiá-lo por que fazemos parte das minorias que sofrem intolerância. No entanto, uma guerra e a troca de insultos não é um bom caminho. Precisamos respeitar para ser respeitados. Sou a favor de um grande movimento cultural a favor do respeito às diferenças de forma pacífica; claro que os atos de agressão e vandalismo devem ser devidamente julgados. No entanto, precisamos de consciência e amor para olhar ao próximo e dizer que somos iguais. No entanto, antes de dizer isso precisamos saber se realmente nos sentimos iguais ou se este é nosso discurso de “minoria”.  Espero que toda a sociedade consiga nos próximos anos dar um salto de consciência e aprender o que é respeito às diferenças.  Nesta matéria, do respeito às diferenças, há poucos mestres como Gandhi, por exemplo; quanto a nós, estamos aprendendo ainda a conviver uns com os outros.  
Eu repudio toda forma de preconceito e apoio todos os movimentos de conscientização, mas sou contra todas as formas de guerra e agressão como luta contra a intolerância. Creio e tenho fé no amor e no poder maior como fonte de paz e vida. Isso não justifica impunidade para criminosos e sim que podemos ser melhores do que isto que estamos vendo ou “sendo”.  E, especialmente à comunidade umbandista, bastaria todos assumirem que são umbandistas e já faríamos a diferença. Seria muito importante os “consulentes” sentirem que são umbandistas também e não apenas os que vestem o branco. Afinal, se alguém deposita, coloca ou investe sua fé na Umbanda deveria se considerar umbandista e não católico, espírita ou sem religião.
O nosso silêncio ou omissão ao simples fato de pertencer à Umbanda já é um apoio a todos que agridem a Umbanda. Não posso falar pelo Candomblé e outras vertentes mas creio que a situação é similar.
Quer mudar o mundo? Então comece mudando a si mesmo!

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