Entrevista publicada na Revista
Cristã de Espiritismo, Edição de nº 44
Norberto Peixoto nasceu em Porto Lucena, Estado do Rio Grande
do Sul, no ano de 1963. Ainda criança, viu-se diante do mediunismo através
de seus pais, ativos trabalhadores espiritualistas.
Sendo filho de militar, residiu no Rio de Janeiro até o final
de sua adolescência. Aos 11 anos deparou-se com a mediunidade aflorada, presenciando
desdobramentos astrais noturnos com clarividência. Aos 28 anos foi iniciado
na Maçonaria, oportunidade em que teve acesso aos conhecimentos
espiritualistas, ocultos e esotéricos desta rica filosofia multimilenar e
universalista, que somente são propiciados pela freqüência regular em loja
maçônica estabelecida. Em 1996 iniciou sua educação mediúnica sob a égide
kardequiana, e atualmente desempenha tarefas como médium trabalhador na
Choupana do Caboclo Pery.
Tem, até agora, sete livros publicados pela Editora do
Conhecimento (www.edconhecimento
.com.br). São eles: Chama Crística, Samadhi, Evolução no planeta
azul, Apometria hoje (diversos autores); Jardim dos Orixás, Vozes de
Aruanda e, a mais recente e A missão da Umbanda. No livros psicografados,
conta com a orientação espiritual de Ramatís e Vovó Maria Conga. A seguir,
Norberto Peixoto fala sobre Umbanda e Espiritismo.
Norberto, conte-nos um pouco da sua trajetória como
espiritualista.
Sempre estive ligado às questões da espiritualidade. Meus pais
eram médiuns umbandistas. Então, desde pequenino vi-me nos terreiros, nas
giras de caridade, no meio dos caboclos, pretos velhos e exus. Aos sete
anos fui batizado na Umbanda. Posteriormente, fui iniciado na Maçonaria,
fiz escola mediúnica em um centro espírita pertencente à Federação Espírita
do Rio Grande do Sul. De índole questionadora, de intensa curiosidade, leio
muito, de todas as religiões. Especialmente a Teosofia me traz muitos
esclarecimentos.
Então, durante toda a minha vida nunca deixei de receber a
energia da Umbanda. Especialmente os últimos 14 anos – estou com 43 anos de
idade – foram de muita intensidade, entre desenvolvimento e trabalho
caritativo dando consultas. Na Umbanda, quando baixo minha cabeça, curvo
minhas costas, anulo minha personalidade, dando espaço para os amigos
espirituais se manifestarem através de minha sensibilidade mediúnica, é o
momento em que o meu espírito mais se realiza, mais se completa, mais se
aproxima da Unidade Divina que nos faz sentir toda nossa potencialidade
cósmica ainda adormecida. Amo a Umbanda e minha vida pertence aos Orixás.
Minha encarnação é destinada ao trabalho caritativo e de esclarecimento
pela Luz Divina, minha amada religião.
Quando psicografa, você é auxiliado pelos espíritos Vovó Maria
Conga e Ramatís. Fale-nos um pouco sobre este processo.
Este processo conjuga experiência em desdobramento astral,
quando recebo instruções, e o ato de escrever propriamente dito. Sou médium
consciente, clarividente e clariaudiente, e de irradiação intuitiva.
Logo, quanto mais eu estudar e ler, melhor preparado estarei para
transmitir em palavras os pensamentos dos amigos do lado de lá. É tudo
muito natural e eu interajo com a equipe de revisores da editora. Aceito
abertamente as críticas e nunca me recusei a reescrever partes do texto que
saem “truncadas”, de difícil entendimento ao leitor, pois quando escrevo os
pensamentos ficam muito rápidos e já troquei o teclado do computador várias
vezes!
Como foi o processo de consagração espiritual que você passou
para se tornar dirigente de um templo umbandista?
Ocorreu nas dependências do Centro Espiritualista Caboclo Pery
– www.caboclopery. com.br , que é
dirigido por Mãe Iassan. Os ritos iniciáticos objetivam propiciar uma
melhor sintonia com as energias ou forças da natureza conhecidas como
Orixás. Assim, dentro da regência de minha coroa mediúnica: Oxossi,
Iansã, Yemanjá e Omulu, ao qual foi confirmada através do jogo de búzios,
participei de uma série de preceitos, que fortaleceram o meu tônus
mediúnico para cumprir as funções sacerdotais de direção e fundação de um
terreiro de Umbanda.
E os trabalhos desenvolvidos pela casa?
Temos palestras, passes, consultas espirituais e atendimento
marcado de desobsessão e cura, onde se utiliza a apometria como técnica de
apoio. As preleções antes das sessões levam a uma participação dos
consulentes que são convidados a serem agentes ativos do benefício
espiritual buscado. Temas como livre arbítrio, merecimento, leis
de causa e efeito, entre outras verdades universais são abordados. Na
consulta, existe o consolo e a orientação individual, direta, frente a
frente com médiuns “incorporados” , o que é uma característica peculiar da
Umbanda.
Quanto ao trabalho com apometria – na verdade, um atendimento
espiritual umbandista – o consulente comparece, preenche uma ficha e
participa de uma palestra. Após triagem mediúnica, atendemos até 5
consulentes por noite, dependendo do grau de complexidade dos casos que se
apresentam e dos transtornos psíquico-espirituais envolvidos. Para maiores
informações o leitor pode visitar http://www.choupana docaboclopery.
blogspot. com/.
Ainda com relação a apometria, você acha que sua aplicação
especificamente nos centros espíritas contraria as orientações de Kardec?
De forma alguma. Contraria o comodismo, a passividade
letárgica, o desinteresse e a vaidade dos homens, que se consideram
proprietários das orientações de Kardec. Pela
circunstância da apometria liberar a mediunidade do estigma de animismo,
explorando todo o potencial psíquico dos sensitivos, ativamente induzindo o
desdobramento astral e trabalhando com as ressonâncias vibratórias de
traumas do passado dos atendidos, entre outros distúrbios anímicos, isto
causa muito medo em algumas lideranças espíritas, especialmente as que
estão garroteadas ao patrulhamento ideológico do movimento federativo, que
imputa uma cartilha rígida, engessando a progressividade das pesquisas
mediúnicas. Refutada a apometria, acusam-na de rito sincrético que
conspurca a pureza doutrinária do Espiritismo.
E com relação aos templos umbandistas? Como tem sido a
aplicação da técnica apométrica?
Pela universalidade natural e convergente existente na cultura e
prática umbandista, percebo cada vez um interesse maior. Por outro lado,
agrupamentos livres das amarras federativas compreendem melhor a Umbanda e
dão espaço para os espíritos comprometidos com a formas de apresentação que
lhe são afins de se manifestarem, o que não ocorre nos centros
tradicionais. Neste aspecto, a utilização da apometria tem demonstrado que
o importante é a essência caritativa e não a forma que ela se concretiza,
se aproximando vibratoriamente da Umbanda.
Por que existe, ainda, tanto preconceito?
Basicamente, desconhecimento, preconceito atávico e medo. Há
que se comentar que cada vez mais a Umbanda se fará divulgar, buscando
espaços na sociedade e esclarecendo suas práticas rituais. Percebo isto
claramente pelas diversas lideranças que estão surgindo por este Brasil
afora. Infelizmente, ainda temos muitas sacerdotes que acabam vivendo
da religião, em vez de viver para a religião, o que contribui para que a
Umbanda seja atacada. Lembro sempre Caboclo Pery, guia espiritual que
chefia a choupana, que nos diz: “todos os atendimentos espirituais devem
ser gratuitos. Os médiuns devem viver para a Umbanda e para os
Orixás, não da Umbanda e dos Orixás. A prática caritativa da mediunidade em
essência é viver servindo e não viver para ser servido. O dia que
uma casa de Pery na Terra aceitar uma moeda, não é mais uma casa de Pery.”
Quais seriam as diferenças básicas entre a metodologia
kardequiana e as práticas umbandistas com relação ao desenvolvimento da
mediunidade?
Na Umbanda, através de seus rituais, cânticos, ervas, preceitos
e fundamentos milenares, a aparelhagem mediúnica é conduzida para um maior
acoplamento com o corpo astral da entidade. O médium, estando levemente
desdobrado, os seus chacras se interpenetram com os chacras do visitante do
além, havendo uma alteração de consciência, prolongada e sutil. Na
metodologia desenvolvida por Kardec, o processo é mais mental e voltado
para o estudo doutrinário. Mas, tanto no Espiritismo quanto na Umbanda,
busca-se o aprimoramento moral do médium, acima de tudo.
Como se processa a mecânica de incorporação com os médiuns
umbandistas?
Há um desdobramento astral parcial, através do magnetismo da
corrente e do condicionamento do sensitivo. Com isto, a entidade astral se
aproxima e se acopla nos chacras do medianeiro. Obviamente, existe ampla
gradação neste processo, variando de médium para médium, de entidade para
entidade, de linha vibratória para linha vibratória, e que não se mostra estática
no tempo, variando conforme a necessidade evolutiva do aparelho e das
entidades, pois ambos evoluem na prática caritativa dos terreiros.
E a questão da mediunidade inconsciente, que é raríssima?
Em décadas de terreiro, só conheci um médium inconsciente, que
hoje se encontra com 94 anos. Na nova geração, desconheço. Há que se
considerar que o médium que não lembra de nada não aprende com a entidade. Creio que no
início da Umbanda e do Espiritismo também, tínhamos necessidade de efeitos
físicos, curas fenomenais, daí a importância de um desdobramento total dos
médiuns, que ocasiona a não lembrança do transe e uma maior doação de
ectoplasma.
Qual seria a diferença básica entre o centro espírita e o
templo umbandista? E quais as semelhanças?
A diferença básica, sem dúvida, é a ausência de ritual nos
centros espíritas, que existe abundantemente e até de maneira anárquica,
diversificada, na Umbanda, ao contrário da rígida padronização no
movimento espírita ortodoxo. Entendo que as semelhanças
se dão pelo apelo caritativo, mediunidade, aceitação da reencarnação, da
pluralidade dos mundos habitados, entre outras verdades universais. Agora,
a maior semelhança é Jesus, sincretizado com o orixá Oxalá, na Umbanda.
Para encerrar, gostaria de deixar uma mensagem aos nossos
leitores?
A todos os leitores que nunca estiveram em um
centro de Umbanda, procurem visita-los, sentir as vibrações e perceber a
simplicidade, amor e sabedoria existentes. Na dúvida, se o terreiro é ou
não de Umbanda, informe-se se existe gratuidade e se é contra o sacrifício
de animais. Estes critérios são meio caminho andado para você se encontrar
com a Luz Divina, esta amada religião, tão vilipendiada, mas que dá
oportunidade a todas as formas espirituais de fazerem a caridade: com os
espíritos que souberem mais, aprenderemos, com os que souberem menos,
ensinaremos, e todos nós evoluiremos. Umbanda é uma religião de
inclusão, de convergência universal, desde a sua fundação, pelo luminoso e
missionário Caboclo das Sete Encruzilhadas.
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